Política de incentivos aos data centers precisa ir além da discussão tributária
Alerta é do vice-presidente da InvestSP, Thiago Lopes, para quem os debates sobre o tema estão deixando de lado temas importantes, como energia.

O debate sobre o Redata, Medida Provisória que cria um regime especial para data centers no Brasil, tem revelado diferentes percepções entre estados, governo e iniciativa privada. Nesta entrevista ao Convergência Digital, Thiago Lopes, vice-presidente da InvestSP, reforça que a discussão não pode se restringir ao campo tributário, ainda que este seja um componente relevante.
Segundo ele, São Paulo foi o estado pioneiro ao adotar um regime fiscal diferenciado, atraindo desde 2023 cerca de R$ 520 bilhões em investimentos — dos quais quase R$ 110 bilhões destinados a data centers. No entanto, apenas uma empresa chegou a aderir ao regime, o que levou o estado a encerrá-lo. “Agora existe um movimento do setor para que ele seja retomado, mas, na época, houve desinteresse das empresas”, explica.
Uma das alternativas levantadas seria levar o tema ao Confaz, mas há resistências, como a do Ceará, que argumenta que data centers demandam investimentos bilionários, mas geram poucos empregos proporcionais. “Estamos falando de eliminar impostos para criar infraestrutura digital para outros países. São posições que fazem sentido dentro dessa lógica”, diz Lopes.
O executivo pondera que São Paulo poderia voltar a adotar o regime sozinho, embora o ideal fosse uma ação coordenada entre estados. Ainda assim, ele questiona se a medida seria suficiente para destravar novos investimentos, já que há desafios paralelos, como a competição por energia em regiões onde a oferta é limitada.
Por isso, ele defende que o Redata deve ir além da pauta tributária. “Por exemplo, é com esse dinheiro que fazemos investimentos em formação de mão de obra. O próximo passo é ter uma conversa franca com o setor para identificar o que é de fato determinante”, defende.
Ele reforça que a questão fiscal é apenas uma das verticais a serem consideradas, ao lado de real estate, energia e monetização do Capex. “Na primeira encarnação do Redata se falava também de agilização aduaneira. Não podemos ficar reféns do tema tributário. Mais importante que ele é a garantia de energia para sustentar a expansão da infraestrutura”, conclui. Assista a íntegra da entrevista.