Telecom

Setor de telecom cresce abaixo de 1% no Brasil

Relatório da Omdia mostra avanço do FTTH, desafios do 5G e alerta para a sustentabilidade do mercado de telecomunicações na região. Também mostra que as teles precisam encontrar novas fontes de receita

Durante a 30ª edição da Futurecom 2025, a Omdia apresentou o estudo “The State of Business in Latin America”, revelando que o Brasil é hoje o quarto maior mercado global em crescimento de conexões FTTH (fiber to the home), atrás apenas de China, Índia e EUA. No segundo trimestre, o país adicionou 3,5 milhões de novas conexões de fibra, totalizando 49,3% de penetração nos domicílios. O crescimento reforça o papel estratégico da fibra ótica no suporte à digitalização e a tecnologias como IoT, nuvem e inteligência artificial.

Segundo Ari Lopes, gerente sênior da Omdia e responsável pela apresentação do estudo, a receita do setor de telecomunicações global chegou a US$ 1,6 trilhão em 2024, com crescimento modesto de 1,9%. Na América Latina, o cenário é semelhante: receita de US$ 113 bilhões e avanço de apenas 1,8% no mesmo período. No Brasil, o crescimento foi ainda mais tímido – de 0,7%. “As operadoras precisam encontrar novas fontes de receita, porque o negócio tradicional de conectividade está se aproximando de um limite de crescimento”, afirmou Lopes.

Apesar do avanço da fibra, o relatório aponta que a implantação do 5G ainda segue desigual na região. O Brasil e o México concentram 79% das conexões de quinta geração no continente, embora representem apenas 51% das linhas móveis. Em países como Argentina e Colômbia, os leilões de espectro ocorreram apenas no fim de 2023 e a tecnologia ainda engatinha. Atualmente, o Brasil tem cerca de 44 milhões de conexões 5G, com uma penetração de apenas 20% da população — muito abaixo dos EUA, que já superaram os 85%.

Outro destaque do estudo é o comportamento do ARPU (receita média por usuário), que vem crescendo abaixo da inflação em quase toda a região. O Brasil é uma das poucas exceções, com avanço acima da inflação desde 2022. “Isso se deve muito à reestruturação de preços e ao trabalho das operadoras para migrar clientes do pré para o pós-pago”, justifica Lopes. Ainda assim, o ARPU brasileiro segue abaixo da média latino-americana. A Omdia projeta que esse indicador crescerá, em média, 2% ao ano até 2029.

A sustentabilidade do setor de telecomunicações é outro ponto crítico do relatório. Em diversos países, operadoras com baixa participação de mercado operam com margens de EBITDA muito reduzidas, chegando a apenas 9%. Em mercados como Chile e Peru, a forte competição gerou guerras de preços e comprometeu a saúde financeira das empresas. “Elas estão mais preocupadas em sobreviver hoje do que em planejar o futuro”, alertou Lopes. O México, embora maior, também apresenta um cenário preocupante, com concentração excessiva e resultados negativos entre os concorrentes.


Já o Brasil é apontado como uma exceção na América Latina. As três maiores operadoras — Vivo, Claro e TIM — operam com margens de EBITDA acima de 40%, o que oferece uma rara “janela de oportunidade” para se preparar para o próximo ciclo de crescimento. “O mercado brasileiro tem estrutura para investir em inovação e novas ofertas, e deve aproveitar esse momento para se diferenciar da região”, defende Lopes, destacando que a janela tem prazo de validade e, portanto, é preciso agir rapidamente.

A inteligência operacional, segundo Lopes, não deve ser vista no catálogo de ofertas ds operadoras tão cedo. Ao invés disso, diz o especialista, elas devem investir na tecnologia como caminho estratégico para reduzir custos, melhorar a experiência do cliente e aumentar a eficiência operacional.

Por fim, o estudo alerta que a concentração de mercado, ainda que inevitável em alguns casos, pode ser positiva se resultar em empresas mais sustentáveis e capazes de investir no futuro. “Não adianta termos um ou dois players saudáveis e o restante à beira do colapso. O equilíbrio financeiro do setor como um todo é essencial para garantir a continuidade dos investimentos em conectividade”, conclui o relatório da Omdia.

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