Telecom e Internet: Serviços sem pagamento geram quebradeira e desconexão em massa
Empresas de telecomunicações de diferentes portes, desde grandes operadoras a pequenos provedores, são unânimes em apontar para o risco da inadimplência como a maior preocupação do setor na crise do coronavírus. Em conferência promovida nesta quinta-feira, 09/04, pela XP Investimentos, empresas e entidades avisaram que se houver choque no fluxo de caixa, haverá falhas na conectividade, não apenas essencial como responsável por sustentar a atividade econômica durante o isolamento social.
“Se a gente quebra a fonte de receita das empresas, gera um caos em toda a cadeia. Pequenas operadoras compram links de operadoras médias e de grandes operadoras. Todo o ciclo da oferta de banda larga está relacionado. Quando se trata de iniciativas de continuidade da oferta de serviços independentemente do cliente estar adimplente, temos que pensar no caos financeiro e social que isso pode causar. Se quebra a perna financeira e impacta o fluxo de caixa de forma repentina, como no caso da Covid-19, é um desarranjo que geraria desconexão em massa”, afirmou a diretora jurídica da Abrint, entidade que representa pequenos provedores, Cristiane Sanches.
Nas grandes, o temor é semelhante. “Temos sérias preocupações com a renda em geral e com a possibilidade de postergação de pagamento. Já existe queda de receita nas recargas do pré-pago, o pós-pago também tem dificuldades, e ao mesmo tempo ampliamos a capacidade da rede em 15% por conta do coronavírus. E no entanto temos esses projetos que resultariam em falta de receita que não daria para manter o sistema. Hoje não é exagero dizer que o país está em cima da nossa rede”, destacou o vice-presidente de relações institucionais da Claro, Fabio Andrade.
Como indicou o SindiTelebrasil, sindicato nacional das operadoras, a preocupação é de todas. O presidente-executivo da entidade, Marcos Ferrari, admtiu que as várias iniciativas descoordenadas preocupam. Segundo ele, há rojetos de leis nos estados; liminares sendo concedidas nas esferas judiciais; governadores baixando decretos sobre telecomunicações – que não é uma competência estadual, mas uma atividade regulada exclusivamente pela União; e ainda há alguns projetos no Congresso Nacional, numa mesma direção: proibir a suspensão dos serviços nos próximos 90 dias, em média. “Isso pode gerar um risco para o funcionamento da rede. A rede funcionando depende de um fluxo de caixa para funcionar, o fluxo de caixa depende de receita. Se alguma peça dessa engrenagem falhar, pode ter algum tipo de risco para a população e para a economia neste momento”, advertiu Ferrari.
O presidente da Telcomp, João Moura, apontou que a proliferação de movimentos no mesmo sentido reflete uma visão distorcida das telecomunicações. “O setor não é muito bem compreendido por políticos e formadores de opinião. Eles entendem que não precisa pagar, que é como energia ou água. Mas esses são monopólios. Se a demanda cai, reajusta a tarifa e restabelece o equilíbrio econômico. Em telecom não tem isso. Se não pagar, coloca em risco essa cadeia que tem sido extremamente importante. Portanto esse é problema crítico, porque precisamos continuar investindo e melhorar os serviços. Até porque muita coisa mudou pela crise e não será revertida depois. O tráfego não vai voltar ao que era.”
Como completou Carlos Eduardo Sedeh, presidente da Megatelecom, focada em serviços B2B, além de as decisões e propostas não levarem em conta a realidade do mercado, não se viu, por outro lado, nenhuma iniciativa que procurasse reduzir a conta dos serviços pelo viés dos tributos. “Não vimos nenhum governador sugerir retirar o ICMS da conta para que ela fique mais barata para os clientes.”