Varejo x bancos: carteira digital vira superaplicativo
O crescimento da oferta de novos serviços financeiros baseados em plataformas digitais está iniciando a disputa por este mercado. Serviços como as “carteiras digitais”, que podem ser oferecidos por varejistas, adquirentes e bancos, dão possibilidade de que qualquer um deles possa se transformar na porta de entrada para novos clientes.
Conquistar essa fatia de mercado (e não só ela) é parte da estratégia do Rappi, que não esconde a meta de se tornar um superaplicativo para seus usuários. “Queremos ser a primeira tela de nossos clientes, oferecendo comodidade, criando hábito e fazendo com que eles consumam sempre por nosso aplicativo”, confessou Ricardo Bechara, diretor de Expansão e cofundador do Rappi.
O executivo reconhece que isso depende de alta frequência de uso e que a oferta de serviços financeiros é uma evolução natural. “Se estamos inseridos no dia-a-dia, devemos oferecer comodidade e isso inclui serviços financeiros. Temos o desafio de executar isso”, sustentou. Ele citou como primeiro passo a oferta de uma “carteira digital” que permite aos usuários do aplicativo pagar contas através dele. Para Bechara, trata-se de um mercado que exige escala rápida e crescimento, com vantagem para quem conseguir entregar mais, melhor e com qualidade. “O Rappi se diferencia muito nisso. Nossa vantagem é a velocidade.”
Um dos fatores que torna esse mercado interessante é que, ao oferecer comodidade e serviços financeiros, o aplicativo que conseguir conquistar a confiança do consumidor será também a porta de entrada para a bancarização de muitos deles. Por isso mesmo, este é um nicho que está no foco também de bancos e adquirentes.
O vice-presidente de TI e projetos da Cielo, Danilo Zimmermann, disse que a empresa está olhando para isso de forma focada. “As carteiras digitais estão aí, e alguns obstáculos já foram superados. É hora de apostar nisso e colocar o tema no dia-a-dia dos consumidores”, afirmou, citando o MetroRio como exemplo de aplicação que está dando certo. Mesmo com a competição com novos players, o executivo acredita que estas novas ofertas devem fazer o mercado crescer para todos. “Quando falamos em democratização dos pagamentos digitais, entendemos que o uso de plataformas digitais pelo varejo deve aumentar as vendas.”
Zimmermann acredita que o mercado deve passar primeiro por um período de popularização da tecnologia, para depois entrar em fase de consolidação. “É obvio que todos querem ser esse superaplicativo. Quem vencer terá que trazer programa de lealdade, programas de ofertas, segurança. Estamos em um momento de abertura, por enquanto, quem ganha é o usuário”, afirmou.
Enquanto esse momento de consolidação não chega, o mercado deve viver um período de coopetição entre os diferentes players. É o que aposta o diretor Executivo de Negócios Digitais do Itaú Unibanco e presidente da Rede, Marcos Magalhães. Ele lembrou que os pagamentos digitais representam uma possibilidade de reinserção – de forma simples e barata – de cidadãos que deixaram o sistema bancário nos últimos anos.
“O varejo terá um papel importante nesse processo, mas os players tradicionais e as fintechs também têm condições de fazer isso”, disse, lembrando que esta deve ser uma dinâmica tripartite. “Quando chegarmos ao limite de uma cobertura ideal de mercado, passaremos por um período de consolidação e simplificação.”