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Telecom

Banco Central: os cartões de crédito e débito vão morrer no pós-Covid-19

A necessidade do distanciamento físico e o alto risco de contaminação da Covid-19 têm impulsionado o mercado de meios de pagamentos eletrônicos. A aceleração na adoção de plataformas digitais — seja pelo maior uso de (novatas) carteiras eletrônicas, seja pelo mais difundido internet banking — é uma dos principais marcas que o período de pandemia deixará na sociedade.

A dinâmica mudou, concordaram Breno Lobo, assessor sênior do Departamento de Operações Bancárias e de Sistema de Pagamentos do Banco Central; Flávio Elizalde, líder no Brasil para vendas dos mercado de consumidores e PME na McAfee; Gueitiro Genso, CEO do PicPay; Renato Ciuchini, líder de estratégia e transformação na TIM Brasil, e Renato Mansur, diretor de canais digitais no Itaú Unibanco, durante o Mobile Time Live sobre a desmaterialização do dinheiro no Brasil em tempos de pandemia.

O ambiente que surge, com novas pessoas aderindo a transações financeiras em meios eletrônicos, é, além de algo que veio para ficar, o pano de fundo para quando o sistema de pagamentos instantâneos — o PIX — entrar em operação. “Neste contexto, as pessoas estão se vendo obrigadas a testarem e a fazerem transações eletrônicas; e elas estão vendo que é simples e mais rápido e não vão voltar atrás. Ninguém que usa digital volta”, frisou Breno Lobo, do Banco Central.

A entrada em vigor do PIX está mantida para novembro, assegurou Lobo, ao comentar que o novo sistema terá papel fundamental no atual contexto. “Estamos trabalhando em ritmo intenso para manter o cronograma”, disse, apontando que o recebimento das informações cadastrais das companhias que tenham interesse em participar do PIX segue até 1º de junho. Até o momento, o Banco Central contabiliza 109 instituições em processo de adesão, um número que, destrinchando as cooperativas chega a cerca de 700 instituições financeiras e de pagamento que estariam aptas. A partir de 1º de junho começam os testes homologatórios para as instituições comprovarem que estão tecnicamente aptas a operar no PIX.

Lobo não especificou qual será o valor cobrado no PIX, até porque as definições dependem de resoluções do Conselho Monetário Nacional (CMN), mas deu algumas pistas. “Já temos proposta dentro do Banco Central para ter definição de tarifa final para usuário. O Banco Central vai cobrar tarifa na liquidação de pagamento de qualquer valor, será uma única tarifa de um centavo a cada dez transações e será cobrada de quem receber a ordem. Da tarifa para usuário, o que podemos adiantar é que vão ter algumas gratuidades”, disse, adiantando que haverá, para pessoas físicas, um determinado número de transações gratuitas. 


 “O PIX será o grande indutor da digitalização de clientes devido à experiência mais simples de uso; número da conta, agência, CPF etc. deixam de ser importantes. O PIX vai ser um grande marco da nossa indústria com uma adesão que acreditamos que será massiva por parte dos clientes, porque ele vem para facilitar e trazer muita qualidade de uso para os clientes”, apontou Para Renato Mansur, diretor de canais digitais no Itaú Unibanco.

Na mesma linha, Gueitiro Genso, CEO do PicPay, destacou que a retirada da fricção facilita a adesão. “Foi com esta lógica que o PicPay nasceu para facilitar a troca de dinheiro 24×7 e temos vivido isto na prática nos últimos sete, oito anos. Apostamos que QR Code seria uma plataforma importante e hoje vemos isto”, contou. O PicPay tem, atualmente, uma base de 3 milhões de estabelecimentos comerciais que usam PicPay e o QR Code como plataforma de pagamento. “O PIX destravar [o processo de transações] e trazer competitividade; vai ser transformador”, acrescentou. 

PicPay foi a plataforma escolhida pelo governo do Estado de São Paulo para efetuar o pagamento do programa Merenda em Casa. Por meio aplicativo, os estudantes da rede estadual vão receber subsídio para compra de alimentos. “Temos trabalhado com parcerias e também estamos discutindo com operadoras, porque as pessoas têm celular, mas nem sempre têm crédito para acessar dados”, disse. Segundo o CEO, nos últimos 40 dias o PicPay já pagou 1 milhão e 40 mil benefícios. “O processo tradicional seria de comprar a cesta e fazer entregar na comunidade. A carteira digital facilitou este processo, pois entregamos o dinheiro na conta digital e vimos que conseguimos chegar, pois 80%-90% dos beneficiários têm celular e eles conseguiram abrir a conta e compraram no comercio local”, explicou Gueitiro Genso.

Fim das maquinhas?

Os meios sem contato e digitais têm ganhado espaço, em meio ao medo da contaminação,  tanto que os debatedores do painel praticamente decretaram o fim das maquinhas para pagamento com inserção de cartão e senha. Breno Lobo, do Banco Central, foi incisivo ao afirmar que o plático vai morrer. “Temos a percepção no Banco Central de que contágio é o mesmo ao fazer pagamento com papel moeda ou com plástico, digitando senha na maquininha. O que vai morrer é o plástico, as maquininhas que são instrumentos desnecessários. Com o PIX não tem contaminação. A desmaterialização não significa apenas redução do papel moeda, mas também do plástico e redução das maquininhas.”

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