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Serviços digitais exigem a troca de informação nas esferas governamentais

A pesquisa Digitalização, Resiliência e Continuidade dos Negócios (1) , produzida pela consultoria Deloitte, destaca a existência de diferentes níveis de resiliência nas esferas governamentais durante as ações de combate aos efeitos da pandemia da Covid-19 na oferta de serviços digitais públicos. Na área federal, o nível de resiliência foi considerado alto, muito em função da expressiva digitalização dos serviços. Ainda assim, adverte o levantamento, houve problemas relacionados à necessidade de procedimentos manuais ou presenciais.

Já os serviços estaduais tiveram um nível médio de resiliência, sem que algum estado se destacasse como exemplo positivo. Foram reforçadas as iniciativas para promover a utilização dos serviços já digitais e demonstrado um grande interesse em expandir essas iniciativas para garantir uma digitalização futura. O baixo nível de resiliência ficou por conta dos municípios que, em geral, têm uma grande diferença entre si em termos de maturidade digital. Algumas cidades perseguiram uma agenda de digitalização emergencial e, em menor escala, houve a utilização de outros serviços digitais, como telemedicina.

“Há um ponto muito importante que ficou ainda mais claro durante esses meses de pandemia: a necessidade de troca de informações entre os órgãos governamentais de todas as esferas. O que temos hoje são sistemas e banco de dados que rodam isolados, sem o compartilhamento digital das informações”, analisa Elias de Souza, sócio da Deloitte para Governo e Serviços Públicos.

Na área da saúde, ressalta o especialista, a inclusão dos dados da Covid-19 em uma base de dados única ainda é feita na maior parte dos casos de forma manual. O alto grau de fragmentação dos sistemas e das diferentes bases de dados requer uma atenção redobrada das autoridades. “A transformação digital exige o compartilhamento e a simplificação dos acessos aos dados”, registra a pesquisa.

Quem também se destacou foi o Judiciário. O setor experimentou uma forte transformação digital durante a última década. Ainda que o avanço não tenha sido uniforme, o elevado grau de digitalização dos processos pré-pandemia permitiu que o setor mantivesse as operações internas nos últimos meses, e a disponibilização de uma plataforma de videoconferência foi essencial para garantir a continuidade de audiências. A transformação digital aponta para tendências como processos judiciais 100% eletrônicos, amplo uso de videoconferências, plena integração entre os tribunais e uso de inteligência artificial para automatizar e acelerar processos que hoje são feitos por humanos.


Subindo degraus

O executivo da Deloitte lembra que antes da pandemia o governo federal já sinalizava um grande processo de transformação digital. O relatório Estratégia Brasileira para a Transformação Digital, publicado em 2018, trouxe diversas iniciativas para a evolução nessa área. Já o seguinte, do período de 2020-2022, mostrou a intenção de chegar a 3 mil serviços digitalizados, com metas de profundidade de digitalização e compartilhamento de sistemas que proporcionem uma jornada do usuário mais integrada.

Conforme o balanço divulgado pelo Ministério da Economia no início de janeiro deste ano, as ações aconteceram de forma muito mais rápida. No primeiro mês de 2020, 2,6 mil serviços públicos já eram totalmente digitais, representando 65% do total, e 100 portais do governo estavam na plataforma unificada “gov.br”. Segundo a Secretaria de Governo Digital, isso equivale a uma economia de recursos de R$ 2 bilhões por ano, sendo R$ 1,5 bilhão para a população e aproximadamente R$ 500 milhões para o governo.

Órgãos internacionais balizam as ações de governo digital no Brasil. Ao analisar os dados de 33 países na questão do governo digital referente ao ano de 2019, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) levou em conta seis escopos dos serviços oferecidos: orientado pelo usuário, orientado por dados, aberto por padrão, digital por design, proatividade e governo com plataforma. Os índices atingidos com o governo digital colocaram o Brasil à frente de países como Alemanha, Áustria, Estônia, Irlanda e Países Baixos (2).

O governo digital brasileiro já havia marcado pontos em outro levantamento global, dessa vez no E-Government Survey 2020 (3) das Nações Unidas, anunciado em julho do ano passado. O Brasil foi um dos 18 países que pela primeira vez entraram no grupo de alto EGDI (E-Government Development Index). Estavam ao seu lado nessa estreia mais três países latino-americanos (Argentina, Chile e Costa Rica), sete asiáticos (Arábia Saudita, China, Kuwait, Malásia, Omã, Turquia e Tailândia) e sete europeus (Eslováquia, Bulgária, Croácia, República Checa, Letônia, Hungria e Romênia). Enquanto 14 desses países subiram da classificação V1 para a mais alta, quatro deram um salto da classificação V2 diretamente para a lista mais seleta, entre os quais o Brasil.

(1) https://www2.deloitte.com/br/pt/pages/strategy-operations/articles/analise-covid-setores.html

(2) https://www.oecd-ilibrary.org/docserver/b00142a4-en.pdf?expires=1611758146&id=id&accname=guest&checksum=FBEADB028EAF14DA4DE029A9312BB147

(3) https://publicadministration.un.org/egovkb/en-us/Reports/UN-E-Government-Survey-2020

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