Dez anos depois, indústria 4.0 enfrenta pressão inovação x retorno financeiro
Nutrir uma cultura de dados, fomentar ambiente corporativo que fortaleça e incentive a cultura de inovação e, principalmente, definir objetivos para o projeto de dados. Esses insights, que mais parecem ser uma fórmula para o sucesso, foram ensinamentos compartilhados por Paulo Sérgio dos Santos, diretor de TI da WEG; Claudio Fontes, diretor de TI da Solar Coca-Cola, e Raphael Domingues, diretor de desenvolvimento de negócios do SAS, que falaram sobre indústria 4.0 e inovações no setor de manufatura durante o SAS Minds, nesta quinta-feira, 15/04.
Os executivos debateram as transformações pelas quais o setor de manufatura está passando impulsionadas pelo uso da tecnologia e a digitalização e análise de dados que têm levado a o aumento da eficiência operacional das indústrias por meio de adoção de ferramentas de analytics e IoT.
“Hoje é muito importante falar de indústria 4.0, porque, em 2021, faz exatamente dez anos que este termo surgiu em feira na Alemanha, embora registros apontem que termo tenha sido cunhado em 2013”, lembrou Fontes, da Solar Coca-Cola. As oportunidades que a indústria 4.0 trazem são enormes e, apesar de cada setor ter suas particularidades, o CIO aposta que a adoção das novas tecnologias pode, inclusive, contribuir para a redução do chamado Custo Brasil ao aumentar a produtividade e a competitividade da indústria brasileira.
“A WEG tem se posicionado como grande fabricante para ser uma dos protagonistas da indústria 4.0 no Brasil. O fato é que aqui temos disparidade grande das indústrias, sejam elas de pequeno, médio ou grande porte. Ao mesmo tempo em que vamos ter indústrias pensando em processos bem ligados a tecnologias da indústria 4.0, ainda existe muita oportunidade de automação mais tradicional”, ponderou Paulo Santos.
Ele falou especificamente da digitalização e apontou que no digital tudo pode ser transformado de maneira muito rápida em dados. “Não tenho dúvidas de que todas estas informações, se bem conduzidas e orientadas, vão trazer muita produtividade para a indústria. É importante entender a transformação que isso causa, porque só gerar informação e não ter tratamento para tomada de ação em cima dela ficam apenas os dados”, ressaltou.
A preocupação, portanto, tem de estar no objetivo que as empresas precisam traçar ao capturar dados. “A partir da evolução tecnologia, principalmente, depois da última revolução digital, a gente tem todo o potencial em termos de capacidade de coletar e tratar os dados independentemente da maneira como eles estão disponíveis, seja numa borda de rede, numa maneira centralizada”, acrescentou Raphael Domingues, do SAS.
Estratégia para dados
A orientação para as companhias é que criem estratégias voltadas a dados. “Só capturar os dados sem fim específicos pode ser um problema e um problema inclusive de TI de ter de armazenar, porque tem custo”, assinalou Santos, diretor de TI da WEG. Por isso, é importante entender quais são os objetivos da empresa com os dados, o que se quer fazer com eles.
A WEG, por exemplo, alguns anos atrás, começou a capturar dados simples de máquinas, como se estava ligada, operando, por que parou e, com o tempo, passou a capturar cada vez mais dados e aumentando o escopo até chegar a estágio mais ótimo que tem dados de consumo da máquina, temperatura dos motores, de consumo etc. esses dados são usados como insights para as soluções.
No entanto, para toda a engrenagem rodar, uma peça-chave é contar com pessoas capacitadas para entender os dados e processá-los de maneira inteligente. “Não adianta a volumetria de dados e achar que vai usar um Excel. Tem de ter ferramentas mais avançadas de dados, próprio SAS tem, e aproveitar o conhecimento dos novos que vem com os engenheiros novos chegando. Precisa ouvir estes meninos, porque eles trazem coisas novas da academia que podem ser aplicadas na indústria, mas sempre com filtro para entender o que faz sentido e o que não fizer, descartar”, ressaltou Santos. Segundo ele, a WEG conseguiu evoluir muito em produtividade.
Na mesma linha, Fontes, da Solar Coca-Cola, destacou que o dado tem de ser aplicável, util. “Teve um período que a indústria se vangloriava da captura do dado, mas muito dinheiro se perdeu naquela época porque pouco se utilizava”, disse. Concordando com Santos, o CIO também acredita que é frutífera a mescla de conhecimento de processos com a turma que está chegando de novos engenheiros e novas tecnologias. “Se você tem habilidade de fazer este conjunto e orquestrar todo este movimento é uma tremenda oportunidade de fazer diferente e com pessoas que estão vindo com novos pensamentos e tecnologias chegando que são disruptiva”, complementou.
São muitas as oportunidades, mas sem estratégia definida a indústria não caminha. “Precisa ter finalidade. Hoje temos celeiro de pessoas e tecnologia para gerar, rodar a engrenagem a nosso favor”, pontuou Fontes.
Cultura
Também essencial para o sucesso das iniciativas, a cultura da inovação e do direcionamento por meio dados tem de estar arraigada nas empresas. “Todo mundo tem um discurso bacana sobre a cultura do erro, mas será que as nossas empresas estão realmente preparadas e dão oportunidade para você fazer diversas tentativas?”, questionou Fontes.
Muitas das ações criadas agora vão dar resultados daqui a alguns anos. Para colher os frutos, as corporações precisam entender que pode ser necessário fazer e desfazer projetos pilotos. “Será que depois de quatro ou cinco iniciativas seria dado oportunidade para uma sexta ou sétima?”, acrescentou Fontes. Para ele, a estratégia clássica que todos usam de começar pequeno para depois crescer, às vezes, não funciona, porque o sucesso pode estar exatamente na determinação da velocidade.
“Em um processo de crescimento, quando você segue em compasso regular, você tem probabilidade de sucesso maior, mas, hoje, temos de buscar rapidamente a transformação para o oceano azul, senão seremos alcançados rapidamente. Mas pode não estar pronto para isso”, explicou.
A grande dificuldade, disse Santos, da WEG, está na busca pelo retorno, pelo pay back rápido. Para ele, é preciso driblar esse processo, fomentando mais a inovação disruptiva que incremental, porque a incremental tem de acontecer em todas as áreas. “50% das receitas da WEG vem de produtos desenvolvidos nos últimos cinco anos. Isso é cultura de inovação da empresa. Mas muito dessa inovação incremental é disruptiva em produto. Quando se faz inovação fora da caixa, tem de pensar em como vai abordar isso — e, normalmente, existe uma área, pessoas que puxem isso”, contou.
Usando essa linha de pensamento, a TI da WEG criou uma área focada em inovação. “Se deixasse [inovação], no dia a dia, as pessoas não iam ter tempo. Já neste grupo, as pessoas erram, testam, tentam diferente. O errado aí não é errar, porque o erro pode ser usado como alavanca para o próximo projeto”, detalhou. A WEG também criou uma diretoria com objetivo de fomentar o digital. Foi em 2019 e desde então, a empresa tradicional já comprou e trabalhou com startups para agregar conhecimento. A Solar Coca-Cola também se aproximou de startups. Hoje, a empresa trabalha com 50 startups em áreas como machine learning, serviço bancários, parte de impostos, entre outros.