Parceria com ISPs abriu o mercado para a Netflix no Brasil
As empresas de Internet foram essenciais para o desempenho da Netflix no Brasil. Ao completar dez anos de presença no País, executivos da empresa fizeram um balanço, no IX Fórum 16, evento realizado online e presencialmente em São Paulo, de 26 a 28 de outubro, da última década da companhia de streaming sob o ponto de vista de infraestrutura. “Foi um grande trabalho da comunidade da internet, com ISPs, empresas de datacenter, de redes e de conteúdo trabalhando juntas”, disse Thomas Volmer, líder de política global de entrega de conteúdo da Netflix.
Conteúdo de alta qualidade leva ao aumento da demanda por banda larga; e é por isso que os altos investimentos da Netflix têm beneficiado as empresas de Internet, destacou Volmer, ao comentar o que chamou de círculo virtuoso com a Netflix gastando bilhões de dólares em filmes e séries de alta qualidade, que leva a um aumento da demanda por parte do consumidor por streaming de vídeo e, consequentemente, impulsiona os usuários a comprar planos de acesso mais rápidos de seus provedores de internet. “Mais consumo leva à construção de mais banda larga e redes. A Netflix não existiria sem internet aberta”, destacou o executivo.
A Netflix contabiliza 223 milhões de assinaturas globalmente e cerca de 40 milhões na América Latina. “Tem muito streaming rodando na internet e não gostamos de congestionamento ou que o vídeo pare. A resposta para endereçar isso é o Open Connect que descentraliza o conteúdo, fazendo com que ele não precise viajar longas distâncias”, acrescentou Volmer.
A chave para a boa qualidade é trazer o conteúdo para perto do usuário. O lema da companhia tem sido: quanto mais perto, melhor, segundo ressaltou o executivo. Neste sentido, o Open Connect, a rede de distribuição de conteúdo (CDN, sigla em inglês para content delivery network) da Netflix, é chave. Já foram implantados cerca de 18 mil servidores OCAs (open connect appliances) em 6 mil localidades em 175 países. Os servidores OCA podem ser integrados na rede ISP.
Outro ponto fundamental da arquitetura de rede da Netflix é a atualização noturna dos caches, para a qual a companhia utiliza recursos baseados em inteligência artificial para identificar o que precisa de update. “Usamos previsões de popularidade para minimizar o número de atualizações e usamos nosso julgamento também para prever qual conteúdo se tornará popular”, disse Thomas Volmer, líder de política global de entrega de conteúdo da Netflix. O catálogo completo da Netflix soma 7.800 títulos em 175 países.
No Brasil, a Netflix tem presença e servidores em todas as 27 unidades federativas e trabalha com cache em 90% do tráfego. O ecossistema inclui pequenas redes e pontos de troca de tráfego (PTT ou IX, na sigla em inglês para internet exchange).
Encoding
Na palestra, Volmer também explicou que a companhia tem trabalhado com tecnologia de encoding (codificação) para manter a redução de largura de banda e fornecer uma experiência de alta resolução em todos os dispositivos. Isso significa compactar os vídeos de tal forma a adaptar os conteúdos aos tamanhos das telas e minimizar os risco de buffering.
Nos últimos cinco anos, a codificação da Netflix mais que dobrou a eficiência de dados do streaming. Em 2015, eram necessários 4GB para fazer o streaming de 11 horas de conteúdo; em 2020, os mesmos 4GB suportam 25 horas de streaming. “Graças a todas as técnicas podemos fazer streaming do dobro da quantidade com a mesma quantidade e eficiência dos dados. Isso significa diminuição da largura de banda e aumento da percepção da qualidade”, apontou Volmer.
Expansão Brasil
Falando sobre como se deu a chegada e a expansão da Netflix no Brasil, Flavio Amaral, diretor de engajamento com parceiros para América Latina, que ingressou na companhia praticamente quando ela começou a operar aqui, contou que o Canadá foi o primeiro país que a Netflix começou a operar fora dos Estados Unidos. “Eles estavam pensando em qual região seria a próxima. E a América Latina foi escolhida, porque tinha muito a ensinar para a empresa em termos globais”, afirmou, explicando que a região serviria de laboratório para que a companhia entendesse tipos de meios de pagamentos que poderiam ser usados, uma vez que há muitos desbancarizados e também poderia testar o algoritmo de streaming para trabalhar em qualquer condição de banda larga possível.
O serviço foi lançado em setembro de 2011 no Brasil já com presença em três CDNs. ter presença local era necessário e o primeiro IX conectado foi em São Paulo, em agosto de 2012, com seis servidores (48 Gbps de capacidade total) e 1x 10 Gbps de conexão para o IX.BR SP. O segundo site em São Paulo foi lançado em dezembro de 2012.
Depois de São Paulo, a Netflix foi para o Rio de Janeiro. “Era o segundo maior mercado de banda larga do País, com uma demanda grande, bons datacenters. Em 2014, quando lançamos, era o ano da Copa e depois teria a Olimpíada Rio 2016, ou seja, a infraestrutura de fibra ótica ia melhorar muito”, contou o diretor.
Porto Alegre foi a terceira localidade e, apesar de na época ter um número de participantes no IX maior que no Rio, não tinha muito conteúdo. Fortaleza veio depois, impulsionada, principalmente, pela forte presença de cabos submarinos chegando à cidade.
“Depois de Fortaleza, o desafio era achar datacenter para poder hospedar a infraestrutura e conexão para algum que já tinha presença. Vimos que os custos eram altos e faltava boa opção de datacenter boa. Mas o projeto brasileiro OpenCDN estava sendo criado, participamos das reuniões e apoiamos, pois acreditamos na ideia de descentralizar”, relatou Amaral. O OpenCDN, encabeçado pelo NIC.Br e IX.BR, hoje opera nas cidades de Salvador, Manaus e Brasília.
“A América Latina ensinou muito para Netflix. Quando começamos a operar, vimos muita demanda de provedor pequeno e incentivamos o time a construir servidor mini. A experiência foi boa e começamos a produzir. Hoje, temos servidores que atendem a todo tamanho de tráfego e é usado no mundo todo e em regiões remotas”, contou Amaral.
A região também influenciou para que a configuração dos servidores para participar do OpenCDN não precisaria de roteador, sendo hoje possível conectar diretamente ao roteador do IX. “Hoje, temos parceria com mais de 1500 provedores em toda a AL”, apontou Amaral.
Os provedores de internet podem fazer peering com a Netflix nos pontos de troca de tráfego de São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Fortaleza. A Netflix também faz acordos multilaterais de peering (ATMs – multilateral peering agreement). Os ISPs podem ainda fazer peering automaticamente com a Netflix, que também estabelece conexões PNI. Há ainda a possibilidade de aplicar para contar com servidores OCA, caso o ISP tenha um tráfego de dados superior a 5 Gbps com a Netflix. É necessário fazer a requisição e, se aprovada, o OCA é enviado sem custo ao ISP.