Inovação

Só 1 em cada 5 no Brasil tem acesso de qualidade à internet

"Conectividade significativa exige pararmos de reproduzir nossas desigualdades", diz a coordenadora de estudos setoriais do Cetic.br, Graziela Castello.

Apenas um em cada cinco brasileiros têm condições satisfatórias de conectividade internet, segundo aponta um novo estudo do NIC.br, “Conectividade Significativa: propostas para medição e o retrato da população no Brasil“. 

Com dados avaliados a partir da pesquisa TIC Domicílios, o estudo mostra que o uso qualitativo da internet no país reproduz as desigualdades sócioeconomicas com as quais o Brasil ainda precisa lidar. 

“Em conectividade não é mais suficiente falar se usa ou não, se tem acesso ou não. Mas as condições múltiplas para essa conectividade. Quando a gente pensa no custo necessário para ter um bom equipamento, os dispositivos, o tipo de uso, a qualidade da conexão, a gete percebe que só 22% consequem atingir quesitos mínimos. O desafio é pararmos de reproduzir as desigualdades”, resume a coordenadora de estudos setoriais do Cetic.br, o braço de estudos do NIC.br, e responsável pelo estudo, Graziela Castello.

Como apontado no estudo, conectividade significativa é um nível de conectividade que permite aos usuários terem uma experiência online segura, satisfatória, enriquecedora e produtiva a um custo acessível. 

Segundo a pesquisa, 33% da população se concentra no escore de até 2 pontos, enquanto outros 24% ficam na faixa de 3 a 4 pontos. Ou seja, para 57% dos brasileiros a conectividade significa é baixa. E enquanto 20% ficaram na faixa de 5 a 6 pontos, apenas 22% alcançaram 7 a 9 e podem ser considerados com conectividade satisfatória. 


O estudo adota uma escala de 0 a 9, a partir de 9 variáveis: custo da conexão domiciliar, plano de celular, dispositivos per capita, computador no domicílio, uso diversificado de dispositivos, tipo de conexão domiciliar, velocidade da conexão domiciliar, frequência de uso da Internet e locais de uso diversificado.

E como é possível concluir, os indicadores de acessibilidade financeira que apresentaram o pior desempenho, seguidos pelos de acesso a equipamentos e de qualidade da conexão.

Norte e o Nordeste têm as piores condições de conectividade significativa, com apenas 11% e 10% da população, respectivamente, na faixa entre 7 e 9 pontos, e 44% e 48% (na mesma ordem), ocupando o outro extremo da escala (até 2 pontos) – a média nacional é de 33%. Em contrapartida, Sul (27%) e Sudeste (31%) registraram os melhores índices, sendo as únicas regiões no país em que a quantidade de habitantes na maior faixa é superior do que aquela na pior faixa.

Quanto maior a cidade, melhor o desempenho. Naquelas com até 50 mil habitantes, 44% da população encontra-se na pior faixa da escala. Nas com mais de 500 mil habitantes, por sua vez, a proporção negativa cai quase pela metade (24%). Em relação à área, enquanto 30% dos habitantes das localidades urbanas estão no grupo de pior faixa (até 2 pontos), 54% da população em zonas rurais encontra-se nessa condição.

No recorte de faixa etária, o levantamento confirma a maior vulnerabilidade à exclusão digital dos idosos: 61% dos brasileiros com 60 anos ou mais apresentam scores mais baixos (até 2 pontos) de conectividade significativa, proporção muito acima da verificada no país de maneira geral (33%). E, diferentemente do que sugere o senso-comum, os dados desmentem a ideia de que os mais jovens apresentariam melhores indicadores no mesmo quesito.

O estudo também revela que somente 16% e 24% daqueles com idades entre 10 e 15 anos e 16 e 24 anos, respectivamente, estão na faixa mais alta (entre 7 e 9 pontos). Os níveis mais elevados ocorrem justamente entre os grupos etários de maior incidência no mercado de trabalho (entre 25 e 44 anos).

A proporção de pessoas com melhor conectividade significativa também é consideravelmente maior entre os entrevistados do sexo masculino (28%), na comparação com os do sexo feminino (17%) – 11 p.p. de diferença. Essa distância tem relação direta com questões pré-existentes de inclusão produtiva, equiparação em renda, incidência pública e participação na vida social, política e econômica do país.

A desigualdade também fica evidente na análise dos dados com base na autodeclaração de cor ou raça dos respondentes. Entre os brancos, 32% estão na faixa mais alta (score entre 7 e 9). Já entre pretos e pardos, a porcentagem cai para 18%.

A pesquisa identificou ainda que, quanto maior o grau de escolaridade, menor a proporção de brasileiros com score entre 0 e 2 e maior a proporção daqueles na faixa entre 7 e 9. Entre os que possuem até o Ensino Fundamental I, a maioria (68%) está na pior faixa de pontuação, e apenas 3%, na melhor. O quadro se inverte entre os com Ensino Superior: apenas 7% obtiveram a pior pontuação, enquanto 59% ficaram com os maiores scores.

Com todo esse quadro, não surpreende que na classe A, a grande maioria (83%) está na melhor faixa de pontuação e apenas 1%, na pior. Por outro lado, entre as pessoas nas Classes DE, a realidade é totalmente distinta: apenas 1% delas está na melhor faixa e a maioria (64%), na pior.

O estudo corrobora que há avanços, mas eles se dão lentamente. A análise retrospectiva dos níveis de conectividade significativa identificou uma redução na disparidade entre os grupos que ocupam os extremos da escala. Em 2017, 48% da população tinham score entre 0 e 2 e apenas 10% estavam na faixa de 7 a 9 pontos – uma distância de 38 pontos percentuais. Em 2019, a diferença entre eles recuou para 29 p.p.; em 2021, para 22 p.p.; e, em 2023, para 11 p.p.

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