
As empresas precisam adaptar os processos seletivos às realidades sociais e econômicas dos jovens em busca da primeira oportunidade no mercado de tecnologia. Esse foi o principal recado do painel “Meu primeiro emprego digital: construindo pontes para o futuro”, realizado durante o Brasscom TecFórum Educação & Emprego, nesta quarta, 27/8, em São Paulo.
Como destacou a superintendente do Instituto da Oportunidade Social (IOS), Marcela Zitune, muitas barreiras invisíveis afastam esses candidatos já na etapa inicial da seleção. “Antes de exigir inglês ou aplicar um processo padrão, precisamos entender: esse jovem tem acesso à tecnologia para se inscrever? Ele tem um espaço adequado em casa para trabalhar em modelo híbrido? Muitas vezes, a resposta é não. Por isso, é preciso empatia e adequação”, afirmou.
Ela ressaltou que fatores socioeconômicos e emocionais impactam diretamente na trajetória dos candidatos, que muitas vezes conciliam estudos, trabalho e responsabilidades domésticas. “Não é raro que faltem ao trabalho não por falta de compromisso, mas porque precisam cuidar de um irmão ou lidar com situações de violência doméstica. As empresas precisam oferecer respaldo emocional e compreender essa carga estrutural que acompanha muitos desses jovens”, disse.
A especialista também chamou atenção para os processos seletivos pouco inclusivos, que exigem repertórios culturais distantes da realidade desses candidatos ou impõem testes desnecessários. “O jovem periférico tem repertório cultural da sua realidade, mas não é justo cobrar referências que ele nunca teve acesso. É preciso calibrar essas exigências para não excluir talentos logo no início da jornada.”
Nesse processo, insistiu, é fundamental que as empresas também pensem em capacitar os gestores que irão receber os novos colaboradores. “Não adianta contratar se o gestor não sabe como liderar, orientar ou mentorar. Precisamos preparar também quem está dentro da empresa para acolher esse jovem, evitando o desligamento precoce por falta de acompanhamento adequado”, destacou.
O IOS, que forma cerca de 2.200 jovens por ano e emprega quase 1.500 deles, vem atuando justamente para aproximar candidatos e empresas, adaptando seleções e reforçando competências socioemocionais. “Muitos jovens não sabem sequer como se comportar em uma entrevista, como se vestir, como se dirigir a um gestor. Para eles, a autoridade intimida e multiplica a ansiedade. Cabe às empresas e organizações sociais criarem um ambiente mais acessível e menos excludente.”
A superintendente do IOS concluiu com um chamado à empatia: “É preciso se colocar no lugar desse jovem e enxergar as pedras que ele teve de superar para chegar até a porta da empresa. Só assim conseguiremos transformar a promessa do primeiro emprego digital em uma ponte real para o futuro.”