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Estudo com 1,5 milhão de conversas faz raio-X global de como e quem usa o ChatGPT

Em um ano, mensagens não relacionadas a trabalho saltaram de 53% para 73% do total.

Um estudo da equipe de Pesquisa Econômica da OpenAI, em parceria com o economista David Deming, de Harvard, analisou 1,5 milhão de conversas no ChatGPT para entender quem usa a ferramenta, como a utiliza e qual impacto gera na economia. Entre os principais achados está o aumento das mensagens não relacionadas ao trabalho, que saltaram para 73% em junho de 2025, ante 53% um ano antes.

O levantamento, publicado como working paper pelo National Bureau of Economic Research (NBER), mostra que a inteligência artificial se consolidou como tecnologia de uso massivo e diversificado: em julho de 2025, eram 700 milhões de usuários semanais, que enviavam juntos 2,5 bilhões de mensagens por dia.

Embora o ChatGPT seja amplamente adotado como ferramenta de apoio profissional, o estudo mostra que o uso pessoal cresce mais rápido. Em junho de 2024, 53% das mensagens não estavam relacionadas ao trabalho; um ano depois, essa fatia subiu para 73%. Entre os mais jovens, a proporção é ainda maior: apenas 23% das interações de usuários com menos de 26 anos tinham relação com o emprego.

Três tópicos concentram quase 78% das interações:

Orientação prática (29%) — como dicas de estudos, saúde ou organização do dia a dia;

Redação e escrita (24%, queda em relação aos 36% do ano anterior) — especialmente para revisar ou traduzir textos, mais do que para criar do zero;


Busca por informação (24%, em alta, ante 14% em 2024).

Outros usos ganharam espaço: multimídia cresceu de 2% para 7% das conversas após o lançamento de recursos de geração de imagens em abril de 2025. Já pedidos de ajuda técnica caíram de 12% para 5%, tendência atribuída à migração desse tipo de atividade para APIs e agentes autônomos de programação.

O estudo mostra que as interações podem ser classificadas em três categorias:

Asking (49%): pedidos de informação ou conselhos para apoiar decisões;

Doing (40%): solicitações de tarefas práticas, como redigir e planejar;

Expressing (11%): reflexões pessoais, jogos ou interações sem objetivo produtivo.

No contexto de trabalho, a lógica se inverte: 56% das mensagens são do tipo “Doing”, sobretudo ligadas à escrita, que representa 42% das conversas relacionadas a emprego.

Em termos de perfil, quase metade das mensagens vem de usuários entre 18 e 25 anos. As diferenças de gênero, marcantes no início, praticamente desapareceram: em julho de 2025, mulheres já representavam ligeira maioria entre os ativos semanais, e suas interações se concentram mais em escrita e orientação prática. Homens tendem a usar mais o ChatGPT para ajuda técnica e multimídia.

O crescimento também é expressivo em países de baixa e média renda, onde a adoção foi mais de quatro vezes superior à registrada em países ricos entre 2024 e 2025. Esse movimento, segundo os autores, reforça o potencial da inteligência artificial de reduzir desigualdades de acesso à tecnologia.

Embora muitos estudos sobre IA foquem no impacto no mercado de trabalho, a pesquisa mostra que o maior valor pode estar no uso pessoal. Estimativas citadas indicam que usuários americanos teriam de ser compensados em quase US$ 100 por mês para abrir mão do ChatGPT, o que representa um excedente anual de cerca de US$ 97 bilhões — benefícios pouco capturados por métricas tradicionais como o PIB.

Para os autores, a ferramenta já não é apenas um recurso para executar tarefas: tornou-se um assistente de decisão e aprendizado, influenciando tanto a produtividade no trabalho quanto a vida cotidiana de milhões de pessoas em todo o mundo.

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