
O Serviço Federal de Processamento de Dados opera hoje uma das maiores bases biométricas do mundo: são 300 milhões de faces e 3 bilhões de digitais armazenadas em seu sistema IBio, que sustenta soluções de identificação utilizadas por mais de 700 clientes públicos e privados. Além de atender a serviços do governo, como o Gov.br, o sistema é usado por empresas como o Uber, que valida motoristas por meio da plataforma Datavalid, comercializada pelo Serpro.
Segundo Carlos Rodrigo Lima, gerente do Centro de Excelência em Ciência de Dados e Inteligência Artificial do Serpro, o IBio é um “arcabouço completo de soluções biométricas” voltado à oferta de serviços de governo digital e autenticação segura. “O sistema ingere bases biométricas de qualquer tamanho, trata os dados — seja de face ou digitais — e verifica sua qualidade e padronização”, explica. Esse processo inclui identificar duplicidades e possíveis fraudes, como a substituição indevida de imagens associadas a uma mesma pessoa.
O IBio oferece diferentes tipos de validação: o modelo 1:1, que compara uma imagem com um CPF específico, e o 1:N, que identifica uma pessoa dentro de toda a base. A infraestrutura também permite captura de digitais via celular, dispensando leitores físicos, e provas de vida tanto faciais quanto digitais. “No caso da validação facial, há uma camada silenciosa de inteligência artificial que identifica se há de fato uma pessoa viva do outro lado da câmera”, diz Lima.
Essa camada de verificação é fundamental para detectar tentativas de fraude com uso de fotos, vídeos e deepfakes — ataques cada vez mais sofisticados que tentam enganar sistemas automatizados. “Temos um motor de IA treinado para reconhecer se é um humano real ou um material sintético gerado por inteligência artificial. Fazemos cerca de 50 milhões de validações por mês, o que dá 1,5 milhão por dia, e detectamos milhares de tentativas de fraude diariamente”, afirma.
Quando o sistema identifica comportamentos suspeitos, como o uso reiterado de um mesmo dispositivo em tentativas de fraude, o aparelho é automaticamente bloqueado. O Serpro também mantém acordos com órgãos como o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e a Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran) para cruzamento de dados em processos de emissão de documentos e identificação civil.
Com a consolidação da Carteira Nacional de Identificação (CIN), o Serpro caminha para integrar e hospedar réplicas das bases estaduais de identificação. “Cada estado tem um pedaço da base, e tudo isso está sendo enviado ao Serpro. Essa base tende a ser a maior do país, porque será universal”, diz Lima.
Além dos serviços governamentais, a infraestrutura abre caminho para usos derivados, como o programa Embarque + Seguro, que permite o reconhecimento facial de passageiros em aeroportos, eliminando a necessidade de bilhetes ou documentos físicos. “É uma base de serviços de governo, mas que também gera valor para o cidadão e para o mercado, garantindo segurança, eficiência e praticidade”, conclui o gerente.