Mineração de processos se aprende na sala de aula
A mineração de processos ainda é incipiente no Brasil, mas já se aprende na sala de aula. Essa é, pelo menos, a ação do Departamento de Informática do CTC/PUC-Rio. A iniciativa gera frutos. Em setembro do ano passado, uma equipe liderada pelo professor Hélio Lopes, do Departamento de Informática (DI) do Centro Técnico Científico da PUC-Rio (CTC/PUC-Rio), venceu a competição internacional Business Process Intelligence Challenge (BPIC), realizada em Barcelona, Espanha, e que premia anualmente os melhores trabalhos de análise e mineração de dados em três categorias: acadêmica, profissional e de estudantes.
A equipe brasileira participou do desafio que consistia na análise do processo de empréstimos online de um banco holandês. Lopes contou com a colaboração dos professores Simone Barbosa e Marcus Poggi, ambos do Departamento de Informática do CTC/PUC-Rio, e com uma equipe de 13 alunos da sua mais nova disciplina denominada Mineração de Processos (uma junção de Ciência de Dados com Ciência de Processos), oferecida no primeiro semestre de 2017 na pós-graduação em Informática.
O grupo apresentou o trabalho “Stairway to value: Mining the loan application process” (Escada para valorizar: mirando o processo de aplicações de empréstimo) e venceu na categoria acadêmica, tornando-se a primeira equipe brasileira a levar o prêmio para casa em sete anos de BPIC. A participação neste desafio surgiu a partir da nova disciplina criada por Lopes depois de assistir a uma palestra na PUC-Rio de um dos papas da área: Wil van der Aalst, professor do Departamento de Ciência da Computação da Universidade Tecnológica de Eindhoven (TU/e), na Holanda.
Encantado com o tema, que, até então, desconhecia, Lopes estudou e apresentou o desafio do BPIC aos alunos logo na primeira semana de aula. O professor aproveitou a oportunidade para aplicar em sala recursos abertos de ensino a distância (MOOC – massive online open course), de modo que os alunos se preparassem para as aulas presenciais, ministradas com foco prático. Além disso, incorporou a ideia de ensino e aprendizagem baseado em desafio, fazendo uso de uma competição de renome internacional como motivação para aplicação prática das técnicas.
“O objetivo da disciplina é entender como se dão variados processos da indústria, a partir de dados coletados. Oferecemos três semanas de aprendizagem no ramo, utilizando a plataforma online Coursera e, depois desta primeira etapa, passamos a focar 100% no desafio do BPIC”, explica Lopes. Para a análise proposta no torneio, foram utilizados software comerciais voltados para mineração de processos, como o Celonis e o Minit, que patrocinaram o evento, e que foram adquiridos em formato de licença acadêmica pela PUC-Rio e puderam ser instalados nos computadores dos alunos da equipe.
A organização disponibilizou uma série de dados e os competidores tiveram que analisar, responder a três perguntas formuladas pelo banco holandês e sugerir modificações e melhorias no processo. O grupo identificou possíveis problemas e apresentou quatro sugestões de mudanças ao banco, nas seguintes áreas: consistência na negociação, esforço para fechar um negócio, desvios no processo e desempenho do trabalho humano (em comparação com as atividades realizadas por máquinas). “A gente não sabia como o banco fazia os empréstimos. Tivemos que descobrir tudo por nossa conta, a partir dos dados apresentados. A gente usa mineração de processos para descobrir o processo por trás e tentar entender o que estava acontecendo por dentro do banco”, revela Lopes.
Dentre as características observadas, o grupo identificou que o número de profissionais estava acima do necessário, sendo suficiente para um número de processos até oito vezes maior. “Com a mineração de processos, você pode checar a conformidade do processo modelado com o que acontece na realidade. A outra coisa é o que essa área estuda é como melhorar os processos em si”, complementa Lopes.
De acordo ainda com o professor, qualquer setor da sociedade que tenha um processo, formal ou informal, que seja registrado através de um log (sequência de atividades), pode usar a mineração de processos para fazer sugestões e recomendar modificações. “As empresas brasileiras pouco conhecem esses recursos que estão sendo oferecidos, mas elas já usam modelagem de processos há bastante tempo. Ainda assim, poucas são aquelas que verificam se o processo está sendo executado da forma que deveria”, completa.