Retração da economia amplia vagas nos programas de estágio
O desemprego segue em alta e a faixa etária entre 14 e 24 anos foi a parcela mais afetada. Tal cenário pode ser explicado pelo fato de que essa parcela da população, em geral, possui menos experiência e/ou qualificação profissional. Diante do encolhimento no número de vagas e, ao mesmo tempo, aumento de concorrência, os jovens tem encontrado no estágio a principal alternativa para ingressar no mercado de trabalho.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de desemprego no 3º trimestre do ano passado foi de 11,9%, o que representa 12,1 milhões de brasileiros. Desses, 25,6% encontram-se na faixa etária entre 14 e 24 anos. A pesquisa aponta ainda que atualmente falta oportunidade para cerca de 23 milhões de trabalhadores.
Diante desse cenário, a concorrência para garantir uma vaga formal aumentou consideravelmente. E com o mercado mais competitivo, o estágio se tornou uma alternativa mais atraente do que as vagas celetistas para este público, uma vez que esses programas são voltados exclusivamente para o aprendizado.
Estágio: alternativa
Dados coletados pela Companhia de Estágios – assessoria especializada no recrutamento e seleção de estagiários – apontam que assim como no mercado formal, a busca por vagas de estágio cresceu consideravelmente. No primeiro semestre de 2016, esse número subiu 17,6% em relação ao mesmo período do ano de 2015. Os dados projetam uma expectativa de um crescimento ainda maior para este ano, principalmente nos primeiros meses do ano, que coincidem com o início do período letivo.
De acordo com o diretor da recrutadora, Tiago Mavichian, “é possível se destacar, mesmo que a concorrência esteja mais acirrada. O período acadêmico é fundamental para que o estudante aproveite para adquirir o máximo de conhecimento que puder no que se refere ao curso escolhido. No primeiro semestre do ano passado, tivemos mais de 89 mil inscritos para diferentes vagas de estágio. Essas vagas servem como uma alternativa de remuneração em meio à crise enquanto fornece um preparo maior para o mercado formal”.
Mavichian complementa que, neste momento, esse tipo de programa é interessante inclusive para as empresas, já que o estágio pode ser uma alternativa para redução de custos sem que a organização precise frear os investimentos em mão de obra. “Num curto prazo, já que os programas duram no máximo dois anos, a empresa poderá contar com um colaborador treinado e melhor preparado para uma vaga efetiva. Outro ponto chave é que “contar com sangue novo”, ou seja, novos talentos, pode auxiliar a empresa a traçar novos rumos, especialmente em tempos de reestruturação”.
Naturalmente, com a crescente concorrência no mercado de trabalho, a especialização ganhou um peso ainda maior nos processos seletivos. Se antes muitos jovens preferiam partir em busca de vagas formais, com a alta oferta de trabalhadores, as empresas tem a liberdade de serem mais exigentes, optando, muitas vezes, por profissionais mais experientes para cargos efetivos. E embora o estágio configure maiores chances para o jovem, isso não significa que os critérios de seleção sejam mais brandos: como não é necessário possuir experiência, os recrutadores buscarão igualmente candidatos mais qualificados para preencher essas vagas.
Ou seja, ainda que os programas de estágio tenham sido menos afetados pela crise, seguem a mesma tendência do mercado formal em relação à concorrência. De acordo com Tiago, o estudante que desejar se sobressair, deve mais do que nunca investir na especialização, através de cursos extracurriculares, de idiomas e trabalhos voluntários. Para o diretor da Companhia de Estágios “Essa preocupação deve ser maior agora, pois o jovem que não investir em diferenciais corre o risco de ficar à margem desse mercado. Isso pode atrapalhar tanto a carreira futura, quanto a própria formação acadêmica”.
E contar com um diploma, além de aumentar a probabilidade de inserção no mercado, rende melhor retorno financeiro, mesmo em tempos de crise. Para se ter uma ideia, segundo o Mapa do Ensino Superior no Brasil 2016 – estudo realizado pelo Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior (Semesp) – a remuneração de um profissional com ensino superior no estado de São Paulo é 184% maior em relação a quem conta apenas com o ensino médio. Porém, o estágio configura um importante passo nessa conquista, uma vez que abre mais portas para os formandos e aproxima o trabalhador da tão desejada vaga formal, uma vez que ele já está inserido na empresa.
Para o diretor da Companhia dos Estágios, ainda que a concorrência continue alta, a expectativa em relação à oferta de vagas é positiva: “Comparando os semestres anteriores já é possível ver sinais de melhora, portando a crise certamente será superada. Justamente por isso, o jovem deve estar preparado. O estágio é uma importante estratégia em longo prazo para o momento de maior estabilidade econômica. Quando o estudante estagia, ele está agregando a teoria acadêmica com a prática do mercado e isso será fundamentalmente valorizado, especialmente após a crise”.
De acordo com a recrutadora, as áreas tradicionais continuam em alta mesmo com os percalços da economia: somente nos processos seletivos abertos no último semestre, esses segmentos representaram mais de 50% das vagas oferecidas. São elas: Administração (22%), Engenharias (16%) e Contábeis/Economia (13%). Estudantes dessas áreas poderão ter mais facilidade para se inserir em um estágio e buscar sua especialização, mas quem pertence às outras áreas também terão sua fatia no mercado, já que nesse período do ano muitas empresas abrem seu processo de recrutamento.