Amazon e Microsoft travam guerra nos bastidores por nuvem de governos
A Amazon e a Microsoft travam guerras abertas e veladas de olho no que é apontado como a nova fronteira de grandes receitas na computação em nuvem: os contratos com o setor público. Segundo aponta a Bloomberg Intelligence só o mercado de nuvem dos EUA poderia atingir US$ 1,3 trilhão até 2027, ante US$ 532 bilhões em 2022.
A Amazon, que via AWS detém o dobro de participação nos serviços de nuvem ao governos dos EUA do que a Microsoft e seu Azure, é apontada pela Bloomberg como a principal força por trás de entidades que atuam para frustrar a crescente ambição da Microsoft de se tornar uma grande fornecedora de computação em nuvem para governos.
Os grupos ‘Cloud Infrastructure Services Providers in Europe’, ‘Coalition for Fair Software Licensing’ e ‘Alliance for Digital Innovation’ querem convencer as autoridades de que a Microsoft manteve indevidamente os clientes no Azure, seu serviço de computação em nuvem, sufocando seus concorrentes e dificultando o avanço da tecnologia no governo e além.
Porta-vozes dos grupos afirmam que nenhuma empresa determina suas agendas. Mas, de acordo com uma análise das declarações fiscais, documentos e entrevistas com pessoas familiarizadas com as operações dos três grupos pela Bloomberg News, a Amazon Web Services desempenha um papel direto na formatação de seus esforços de maneiras que beneficiariam a gigante da nuvem.
Através de lobby agressivo junto às autoridades, esses grupos buscam garantir que os clientes possam usar produtos populares da Microsoft, como o Office Suite ou o Windows, em qualquer sistema de computação em nuvem – e, em particular, na Amazon Web Services, o principal provedor de infraestrutura de nuvem do mundo e a principal fonte de lucro da gigante do varejo.
Nos últimos meses, reguladores na UE e no Reino Unido investigaram se a Microsoft está envolvida em comportamento anticompetitivo no mercado de nuvem. Nos EUA, na quinta- feira, a FTC deve publicar descobertas iniciais de uma revisão abrangente da concorrência na indústria de computação em nuvem – uma revisão que a Amazon está influenciando tanto diretamente quanto por meio dos grupos.
A Microsoft tem presença significativa em contratos federais graças à sua suíte Office e ao sistema operacional Windows. Mais de 80% dos funcionários do governo federal usam o software de negócios da Microsoft. Como a Amazon, a Microsoft também financia grupos externos que fazem lobby junto aos formuladores de políticas.
Enquanto isso, a Amazon fez suas próprias incursões com clientes do governo graças à AWS, que empresas e agências governamentais usam para armazenar informações e executar outras aplicações. Nessa arena, a AWS tem quase o dobro da participação de mercado de seu concorrente mais próximo, o Azure da Microsoft, de acordo com estimativas da Gartner.
Nos Estados Unidos, a FTC está revisando se as empresas estão jogando limpo e protegendo os clientes na indústria de computação em nuvem. Em maio, a FTC realizou uma oficina como parte dessa revisão. Ela contou com alguns acadêmicos e especialistas com insights sobre computação em nuvem, incluindo Frederic Jenny, que apresentou uma pesquisa financiada pela CISPE mostrando que a prática da Microsoft de cobrar taxas de licenciamento adicionais aos clientes para usar seu software Windows e Office viola potencialmente as leis antitruste.
A Amazon é a principal financiadora e moldadora da Coalition for Fair Software Licensing, sediada em Washington, de acordo com duas pessoas familiarizadas com o grupo, que não identifica publicamente seus membros. A Amazon já divulgou seu envolvimento com o grupo. Em setembro de 2022, a coalizão lançou um conjunto proposto de regras de licenciamento de software, que pareciam quase idênticas às lançadas pela CISPE no ano anterior. A Google, da Alphabet Inc., e uma variedade de grupos comerciais apoiados pela indústria de tecnologia endossaram a proposta da coalizão.
A Amazon também é a principal financiadora da Alliance for Digital Innovation, um grupo comercial cujos 27 membros incluem Google e Salesforce; a Microsoft não é membro. A aliança faz lobby junto ao governo dos EUA para mover suas operações para a nuvem e apresentou comentários como parte do processo da FTC. Embora a aliança tenha divulgado a filiação da AWS, ela não divulgou que é sua principal financiadora, de acordo com duas pessoas familiarizadas com a organização.