Pítia, Atena e Ártemis: as IAs que combatem o assédio na 99
A gerente de projetos, Lina Castellanos, conta que as IAs são exclusivas da 99 e foram desenvolvidas por uma equipe interna dedicada de programadores e cientistas de dados exclusivamente à segurança.
O investimento em soluções baseadas em inteligência artificial (IA) fez o aplicativo de mobilidade 99 registrar queda nas ocorrências de assédio na plataforma, por milhão de corridas, em todo o País, no período de julho de 2020 a julho de 2021. As regiões que apresentaram as maiores quedas nos incidentes foram Tocantins com 76% e Piauí com 37%. Rio de Janeiro fechou o período com redução de 30%, Minas Gerais 16% e São Paulo 13%.
De acordo com a gerente de projetos, Lina Castellanos, os programas de computadores são capazes de aprender sozinhos e funcionam nos bastidores das corridas, analisando algoritmos para rastrear riscos e prevenir ocorrências. “As IAs [batizadas de] Pítia, Atena e Ártemis são capazes de prever possíveis ocorrências de segurança e atuam conjuntamente, tanto preventiva quanto reativamente, para proteger e ajudar os usuários da plataforma antes, durante e depois das corridas”, explicou ela ao Convergência Digital.
Cada uma das soluções de IA foi desenvolvida para atuar em um dos momentos da viagem, explicou a gerente, fornecendo segurança de forma integrada. Os algoritmos analisam o banco de dados, cruzando dados em busca de padrões e atribuindo um significado para essas descobertas.
As IAs foram batizadas com base na mitologia grega. “A Pítia era sacerdotisa do tempo do deus Apolo, que pronunciava oráculos, tida como uma mulher sábia e de grande prestígio; Atena, uma das principais divindades, datada de profunda sabedoria e conhecida todas as artes da estratégia e Ártemis, a deusa da caça e protetora das meninas”, detalhou.
As inteligências artificiais fazem parte de um amplo plano de segurança feminina desenvolvido pela 99, que inclui outras ferramentas e tecnologias como câmeras de segurança conectadas à central de segurança, gravação de áudio, monitoramento de corridas via GPS, botão para ligar diretamente para a polícia, compartilhamento de rotas com contatos de confiança, além do 99Mulher, que permite que motoristas mulheres tenham a opção de atender apenas passageiras.
Com relação aos dados analisados e à integração deles na TI, Lina Castellanos explicou que a 99 possui um ecossistema de segurança formado por várias inteligências artificiais que atuam antes, durante e depois das corridas.
“Assim que uma passageira solicita uma corrida no aplicativo da 99, ou seja, antes mesmo da viagem começar, a Pítia e Atena entram em ação. Elas identificam se a corrida vai acontecer em situações de vulnerabilidade como trajetos à noite, em regiões de bares ou baladas e com maior duração. Ao mesmo tempo, analisam os motoristas que circulam próximos ao local da solicitação e atribuem uma pontuação, considerando fatores como se a condutora é mulher, a nota na plataforma e registro de reclamações”, contou.
Com essas informações, a Pítia direciona a chamada da usuária somente para uma motorista mulher ou para o condutor mais bem avaliado. Enquanto isso, acrescentou a executiva, a Atena envia para os motoristas — antes do embarque dessas passageiras — mensagens de conscientização, incluindo textos sobre a importância de manter o profissionalismo e o respeito. “Durante a fase de testes, que ocorreu em quatro meses, a Pítia reduziu em 45% o número de ocorrências sexuais na plataforma. Já o envio de mensagens aos condutores, realizada pela Atena, diminuiu em mais de 16% essas incidências”, apontou.
Segundo a empresa, durante as corridas, os passageiros contam com o monitoramento de corridas em tempo real via GPS, um sistema que também funciona por inteligência artificial e consegue detectar mudanças de rota, paradas longas e trajetos com o tempo acima do previsto. Caso algum desses comportamentos seja identificado, a equipe de segurança da 99 é avisada para que medidas sejam tomadas, o que pode incluir até avisar a polícia, de acordo com a plataforma.
Ao final da corrida é a IA Ártemis que entra em ação. Ela rastreia os comentários deixados no fim das corridas e identifica automaticamente palavras e contextos que possam estar relacionados a assédios. “Se isso acontecer, a 99 realiza o banimento dos agressores e direciona atendimento humanizado às vítimas. Por conta da atuação da Ártemis, são identificadas e banidas, em média, 730 pessoas por semana que cometeram algum tipo de assédio. Mais de 87% das denúncias deixadas nos comentários foram detectadas pela ferramenta em 2020, contra 80% no ano anterior”, assinalou a executiva.
Desenvolvimento
De acordo com a gerente de projetos, Lina Castellanos, tais IAs são exclusivas da 99 e foram desenvolvidas por uma equipe interna dedicada exclusivamente à segurança. O time conta com 190 profissionais no Brasil, entre engenheiros, programadores e cientistas de dados, que desenvolvem as tecnologias a partir dos dados internos da plataforma.
Em adicional, a IA Ártemis foi desenvolvida em parceria com a Think Eva, um braço da organização feminista Think Olga, que também criou um protocolo de atendimento humanizado às usuárias. “Buscamos um parceiro que tivesse ampla experiência no tema e que abordasse a questão sob o ponto de vista das mulheres, nos auxiliando a ter uma ferramenta mais completa”, completou.