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Quero ser uma empresa data driven. Como me estruturo?

Especialistas admitem que ser uma empresa orientada a dados não é um processo linear e exige, além das ações efetivas para a geração de profissionais de dados qualificados.

Companhias buscam cada vez mais ser data driven, mas como se chega a isso na prática? Essa é, segundo o consultor Ricardo Cappra, uma pergunta simples com resposta longa. “Não é processo linear. Normalmente, surge dentro de uma área específica que precisa de produto de dados; surge de uma necessidade específica para resolver algo de negócio e, a partir disso, nasce processo data-driven em uma companhia que não é data-driven”, explicou o especialista. 

Ou seja, uma companhia se torna data driven quando entende que a análise de dados vai proporcionar uma base mais sólida para resolver um problema ou alcançar o resultado esperado — e a criação de um modelo para tomada de decisão com dashboard funciona muito melhor que tomadas de decisões em cima de opiniões baseadas em sentimentos, intuição. 

Para se transformarem em organizações orientadas a dados, as empresas precisam pensar em quatro pilares, conforme apontou o sócio-líder do centro de excelência para dados, inteligência artificial e automação  da KPMG, Ricardo Santanna. A primeira questão é coletar os dados; a segunda é a política do uso de dados, com envolvimento de áreas e do CDO (chief data officer) que elabora a governança dos dados, assegura a privacidade e define as estratégias de curto, médio e longo prazos para saber como usar os dados para ganhar a competição análica.

O terceiro pilar é recursos, ou seja, identificar se a empresa tem as pessoas certas para analisar os dados, se tem a infraestrutura, as técnicas e as ferramentas adequadas e requeridas para isso. O quarto e último pilar é o plano de uso e da aplicação dos dados. “A cultura data-driven precisa responder a essas perguntas”, disse Santana.

Dentro deste cenário, questões-chaves a serem consideradas incluem a identificação de quem é responsável por coletar e organizar os dados, se eles são confiáveis e qual é a qualidade e a integridade deles. A empresa também precisa contar com uma política de dados para proteger a sua reputação e reduzir o risco legal em, por exemplo, casos de mau uso ou vazamentos. Outro ponto tem a ver com talento, habilidade e recursos certos para gerenciar as atividades. 


“Vencendo a barreira da cultura corporativa, você cai na temática de pessoas. E esse recurso — os talentos — está escasso e inflacionado. Existe um gap muito grande e, quando encontra os profissionais, os salários estão inflacionados”, disse Ricardo Santana, da KPMG. A pouca experiência dos profissionais disponíveis também é outra questão a ser analisada, segundo Santanta. Como alternativa, ele aponta que algumas empresas estão fazendo parceria com universidades, por exemplo, oferecendo bolsas de mestrado. 

O Convergência Digital publicou, no ano passado, um especial sobre a carreira do cientista de dados, mostrando os desafios da profissão, as oportunidades que existem e como as empresas têm incorporado essa mão de obra em seus quadros. Leia aqui

Mudança cultural

Para uma cultura data-driven é preciso contar com pessoas com formação para analytics. Jefferson Denti, líder da prática digital da área de consultoria da Deloitte, lembra que não se trata apenas de um ou outro especialista, mas de muitos profissionais para formar um departamento. “Precisa ter um exército de pessoas que entendam a linguagem, do contrário não terá alcance e a informação fica rica na essência e pobre na usabilidade”, explicou. “Uma coisa é criar o algoritmo e tirar insights e outra é como usar esses insights”, completou Denti, da Deloitte.

Para tanto, deve-se unir conhecimentos de tecnologia a conhecimentos de métodos quantitativos e conhecimentos de negócio. “Quando eu tenho esses três coexistindo, um sobrepondo o outro, tem a inteligência cognitiva, ou seja, consegue-se aplicar isso: do dado à análise e ao uso do dado, tornando valorável do ponto de vista da empresa e do cliente”, detalhou. Na prática, isso se traduz em, por exemplo, conseguir antecipar uma necessidade do cliente, acompanhar como estão as vendas e-commerce, melhorar o planejamento logístico.

Na esteira da transformação  para embasar as decisões em dados é primordial envolver o alto escalão. A transformação começa pela mudança cultural e é preciso engajar a alta liderança, defendeu Ricardo Cappra, para quem isso decorre de um processo no qual as empresas mais tradicionais podem levar mais tempo e enfrentar maior dificuldade. “É mais fácil uma firma menor e ágil se tornar data driven que uma companhia maior”, apontou.

A incorporação da mentalidade data-driven emerge de uma mudança cultural, assim como está sendo com a transformação digital. “Os dados vão ser usados como insumo de negócio e, se pensar, as companhias mais valiosas são as que usam dados como ativo”, reforçou Cappra. O caminho para isso não tem outro senão a exploração dos dados que estão dentro do negócio, seja ele pequeno ou grande, para extrair dali descobertas que são relevantes. “Trata-se de pessoas, processos, políticas e tecnologia”, resumiu Cappra. 

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