

O papel da conectividade e das tecnologias digitais na transformação da educação brasileira foi o tema central do painel “Conectividade, infraestrutura e tecnologias disruptivas transformando o sistema educacional”, realizado durante o Workshop Cultura Digital nesta quinta, 25/9, em Brasília, com organização da Network Eventos. Representantes do governo federal, do setor público, da iniciativa privada e da academia destacaram avanços recentes e os desafios ainda presentes na construção de uma educação digital inclusiva e significativa.
O painel reforçou que, embora haja avanços expressivos em conectividade e infraestrutura, a transformação digital da educação brasileira só será efetiva com integração federativa, investimento coordenado e qualificação crítica de professores e estudantes.
O subsecretário de Tecnologia da Informação e Comunicação do Ministério da Educação, Marco Antonio Fragoso de Souza, ressaltou que a implementação da política educacional exige articulação federativa e cooperação entre diferentes atores. “Nossa expectativa é que toda essa conectividade, toda essa tecnologia disruptiva, permita que cada indivíduo receba conteúdo que lhe gere valor. Tecnologia, inteligência artificial e a melhor qualificação do profissional de educação vão gerar um conhecimento mais qualificado”, afirmou. Ele destacou ainda a importância de políticas que alcancem tanto escolas em áreas urbanas com maior acesso à rede quanto comunidades do interior, onde a infraestrutura é mais precária.
Representando o Ministério das Comunicações, o diretor de Investimento e Inovação, David de Oliveira Penha, apresentou os avanços da Estratégia Nacional de Escolas Conectadas (ENEC). Segundo ele, o novo PAC prevê conectar todas as 138 mil escolas públicas da educação básica até 2026, com padrões mínimos de velocidade definidos em 1 megabit por segundo por aluno no maior turno. “Já foram conectadas 9.620 escolas com acesso externo e rede interna completa. O desafio é imenso, mas há uma estratégia nacional em andamento”, destacou.
A Telebras também tem papel central nesse processo. O diretor comercial, Levi Figueiredo, lembrou que mais de 14 mil escolas já estão conectadas via satélite pela estatal. “É um mega desafio porque falamos de áreas remotas, mas além de levar a conexão, queremos ser criadores de conteúdo. Estamos próximos de lançar uma Escola Modelo, toda digitalizada, e contamos com data center próprio para gestão de conteúdos educacionais”, disse.
A gerente de Interações Institucionais, Satisfação e Educação para o Consumo da Anatel, Isadora Moreira Firmino, chamou atenção para o conceito de conectividade significativa. Embora 89% da população brasileira esteja conectada, segundo a TIC Domicílios, a realidade varia muito entre regiões. “Hoje a cidadania é digital, e quem não está no ecossistema digital está fora do mundo. Mas, além do acesso, precisamos trabalhar competências digitais, porque a população brasileira ainda apresenta um nível baixo de habilidades nesse campo”, afirmou.
Do ponto de vista da infraestrutura tecnológica, a gerente executiva do Serpro, Lucy Mitiko Tashiro, defendeu o fortalecimento de parcerias com a iniciativa privada. “Nossa esperança é que a tecnologia reduza desigualdades. Temos atuado com empresas especializadas em gestão educacional e inteligência artificial para entregar soluções integradas e inteligentes, que vão desde a gestão de programas até conteúdos complementares para alunos e professores”, explicou.
Para o setor privado de inovação, a pandemia evidenciou a necessidade urgente de modernização das escolas. O CEO da Cientik, José Luiz Nogueira, lembrou que “a escola ainda estava muito próxima da realidade analógica, parecida com a dos nossos avós. Mas é até pedir demais que um professor lide com nativos digitais usando apagador e quadro negro. A tecnologia é uma aliada para trazer o século 21 para a sala de aula”.
O pesquisador e mestre em Educação pela UnB, Ricardo Lima Praciano, reforçou que a transformação digital exige também um olhar crítico. “O professor deve saber utilizar a tecnologia, mas também questionar a quem a inteligência artificial serve e quais impactos ela produz. O desafio é formar educadores capazes de usar essas ferramentas com criatividade, aliviar tarefas administrativas e, sobretudo, garantir um aprendizado mais eficaz para os alunos”, defendeu.