Cientista de dados: seja investigativo, analítico e curioso
O cientista de dados, tão em voga atualmente, é um profissional cuja carreira começou a se desenhar há décadas quando ainda eram especializados em bancos de dados. Conforme a quantidade de informação coletada e armazenada aumentou e as companhias perceberam que tinham em mãos um ativo valioso, aquele gestor poderia ter uma papel maior.
Em entrevista ao Convergência Digital, João Paulo Barbosa, professor especialista em ciência de dados do Instituto de Gestão e Tecnologia da Informação (IGTI), apontou que foi de alguns anos para cá que as companhias passaram a enxergar a base de dados como oportunidade de extrair informação e conhecimento para tomada de dedicação. “Houve, então, a evolução daquele gestor de banco de dados, que passou a trabalhar com dados não apenas da organização como também externos (redes sociais, governamentais etc.), de forma combinada”, disse.
Nesse processo, o analista de banco de dados enxergou uma possibilidade de se atualizar e alçar seus afazeres a tarefas mais sofisticadas. “Surgiu um profissional mais completo, que é o cientista de dados, que combina tanto a parte tecnológica, quanto matemática”, contou. A evolução, segundo Barbosa, se deu no Brasil de forma mais robusta de 2012 para cá, despertando um maior interesse de toda uma classe de profissionais e levou ao surgimento de cursos para formação e capacitação de mão de obra.
Barbosa disse que, atualmente, não se tem um perfil delimitado do cientista de dados, podendo ser desde “profissionais mais rodados e experientes”, que vêm de banco de dados e programação e se reinventaram, aos jovens que saíram da universidade. A característica-chave, ressaltou, é a multidisciplinaridade. “Não podemos fugir dela; trata-se de uma área multidisciplinar”, apontou, explicando que o profissional tem de ser investigativo (porque os dados estão lá, mas as informações, para serem encontradas, dependem de investigação feita por ele) e analítico e curioso. “A multidisciplinaridade é fundamental e é difícil achar alguém assim; por isso, quando acha, a gente segura.”
Ao cientista de dados também não basta ter todo o conhecimento técnico, dominar as ferramentas, a tecnologia e a metodologias, se não tiver capacidade de aplicar tudo nos negócios do cliente, reforçou o professor especialista em ciência de dados do IGTI. “É muito importante que o profissional consiga entender os processos da organização em que está trabalhando para aplicar o conhecimento de dados e esta é uma das características mais difíceis de encontrar”, disse. Justamente por isto, muitas vezes, as companhias tardam a preencher suas vagas para cientistas de dados. A capacidade técnica exigida é alta e ela tem de ser combinada com soft skills, como habilidade para trabalhar em equipe, se comunicar, entender processos organizacionais.
Do lado das organizações, Barbosa salientou, elas descobriram que a ciência de dados aplicada à base é importante para competitividade e dão a elas uma vantagem competitiva. “O mercado está em alta para cientista de dados; as vagas existem em grande quantidade e não teve redução na busca por este profissional, até porque a ciência de dados pode ajudar as organizações a se adequarem a este novo mundo”, apontou.
Cientista x engenheiro de dados
Na esteira do boom pelos profissionais que trabalham os dados de uma companhia, uma divisão se fez necessária, na visão de João Paulo Barbosa, professor do IGTI. É a de cientista e a de engenheiro de dados. Isto porque a carreira foi se especializando e a área ganhando complexidade. “Quando começou tinha um profissional só, depois se observou a necessidade de dividir. Passou-se a ter analista de dados, cientista de dados e, mais recentemente, o engenheiro de dados. Mas acho que esta divisão ainda não é completa, porque, na maioria das companhias, nesta divisão ainda não está claro até onde um vai e outro começa; em muitas companhias elas se misturam”, disse.
Para aqueles que estão pensando em se dedicar a esta profissão, Barbosa aponta que entender de privacidade e proteção de dados é fundamental. “A LGPD impacta os dados; é uma legislação que chega forte e com penalidades, por isso, deve ser um ponto de atenção”, destacou. Outro ponto é a questão da multidisciplinaridade. “É importante dominar as tecnologias, muitas delas; isto faz parte. Seja um profissional que tenha não só vontade, mas também interesse e prazer em aprender e em trabalhar com um grande leque de tecnologia.”