GovernoInovaçãoInternetMercadoTelecom

Dataprev: CadÚnico cruza bilhões de dados em minutos e terá biometria e inteligência artificial

"Tarefas que levavam até 18, 20 ou 25 dias agora não passam de 11 minutos", afirma o diretor de soluções da Dataprev, Flávio Sampaio

A partir de 17 de março de 2025, o Cadastro Único dos programas sociais do governo federal, principal ferramenta de acesso a políticas públicas, ganhará uma plataforma modernizada, capaz de cruzar dados de diferentes órgãos governamentais em segundos – um avanço que reduzirá o tempo de resposta para beneficiários de semanas para minutos. A iniciativa, coordenada pelo Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS) em parceria com a Dataprev, promete agilizar e aprimorar a inclusão de mais de 40 milhões de famílias, cerca de 94 milhões de pessoas, em programas como Bolsa Família, Pé de Meia e BPC.

A última atualização do CadÚnico ocorreu em 2010, quando processos praticamente manuais dominavam o sistema. Flavio Sampaio, diretor de produtos e soluções da Dataprev, relembra que, na época, cruzar 70 milhões de registros do cadastro com os 30 bilhões do CNIS (Cadastro Nacional de Informações Sociais) levava até quatro meses. Hoje, com motores de big data e APIs, a mesma tarefa é feita em minutos. “Antes, o cidadão fazia uma autodeclaração no CRAS, e os dados só eram integrados semanas depois. Agora, tudo ocorre em tempo real, durante o atendimento”, explica.

“A grande questão é como essas bases conversam porque é a partir bases formais precisam ter mais dados para melhorar a fotografia das pessoas e aumentar a cobertura das políticas públicas, de outro o CadÚnico, em que essa foto muito bem definida, tem questões como a autodeclaração. Se num primeiro momento não tinha mecanismos para fazer cruzamentos, na medida que a tecnologia evoluiu e o volume de dados aumenta, isso não é apenas possível como extremamente necessário”, diz Sampaio.

A nova plataforma conectará automaticamente bases como SIRC, CNIS, eSocial, Receita Federal e sistemas de saúde e educação. Isso permitirá, por exemplo, verificar se crianças estão matriculadas na escola (via MEC) ou avaliar riscos de insegurança alimentar (com dados do TRIA, do Ministério da Saúde). “No momento do cadastro, já saberemos se a família tem direito ao Bolsa Família, ao BPC ou a outros benefícios. A foto dela será muito mais precisa”, destaca Sampaio.

O sistema também reduzirá erros comuns em autodeclarações, como digitação incorreta ou informações desatualizadas. Para casos sensíveis – como análise de fraudes no seguro-desemprego –, algoritmos de escore de risco processarão milhões de dados em ambientes de big data, garantindo decisões ágeis e seguras.


“Pela própria força gravitacional da Previdência e do Trabalho, muita coisa já está na Dataprev. Mas também tem integração com dados que estão fora. Por exemplo, os dados do TRIA [Triagem para o Risco de Insegurança Alimentar], que é coletado nas unidades básicas e está no Ministério da Saúde. Por um processo de API, integra no CadÚnico. Outro dado que está fora é da Educação, para ver se as crianças estão matriculadas nas escolas. Já estamos no processo de ir lá no MEC pegar esse dado. E já temos um longo relacionamento com a Caixa, para Auxílio Emergencial, Abono Salarial, etc. Temos integrações pesadas mensais e diárias no processo do Bolsa Família, com volume muito grande de dados. Mas estamos otimizando disso. Se fosse pegar força bruta, levariam 18 dias. E hoje estamos fazendo em 11 minutos.”

Biometria e Inteligência Artificial

A biometria facial, já testada em serviços como a Prova de Vida da Dataprev, está em discussão para o CadÚnico. A ideia é que o cidadão tire uma foto com o celular ou em dispositivos nos postos de atendimento, com validação cruzada. “A tecnologia está pronta. Agora, definimos os detalhes operacionais com o MDS”, afirma Sampaio.

“O desenho da biometrização ainda está em discussão de desenho de atendimento – como vou capturar, se vai ser com a câmera do celular, se vai ser com o dispositivo usado no atendimento. Mas a capacidade já está habilitada. Uma vez que o desenho esteja definido, já é possível. Por exemplo, se decidir que a pessoa vai fazer pelo celular, ela tira uma foto, captura a face, fazemos batimento com TSE, com Senatran. A aplicação está disponível. Falta o Ministério do Desenvolvimento Social fechar o detalhe de como vai ser o atendimento. Já usamos esse processo na Prova de Vida e estamos fazendo testes em outros casos.’

A inteligência artificial também entrará em cena, simplificando consultas complexas. “Já estou discutindo como é que a gente vai começar a colocar a inteligência artificial no contexto do CadÚnico dentro de alguns processos que são super relevantes. Por exemplo, posso ter a capacitação em tempo de execução, em tempo de uso. Vamos imaginar um cenário hipotético, que alguém entra e fala assim: me conta a história dessa família. Ele não precisa saber que tem que clicar em botão, que tem que fazer três consultas e tal. Porque o assistente diz que essa família já foi assim, já teve renda, já trabalhou, o filho casou com tal e tal. É disso que a gente está falando, é desse nível de possibilidade que a gente trata.”

A modernização deve ampliar a cobertura e a eficiência de 40 programas sociais, reduzindo burocracia e custos para o cidadão. “O contato com o Estado é caro para quem precisa de ajuda. Cada minuto economizado é um direito garantido mais rápido”, ressalta Sampaio.

Botão Voltar ao topo