Desigualdade econômica acentua exclusão digital do campo no Brasil
Com uma das agriculturas mais prósperas do planeta, o Brasil vai relativamente bem em um estudo que mediu a qualidade das conexões à internet no meio rural em 24 países da América Latina e Caribe. No agregado, o país aparece com o mais alto índice de conectividade rural (46,9%), enquanto em países como Honduras, Peru e Bolívia ele fica entre 19,6 e 21,1%.
Os dados fazem parte do estudo “Conectividade Rural na América Latina e no Caribe – Uma Ponte para o Desenvolvimento Sustentável em Tempos de Pandemia”, realizado pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e a Microsoft.
No total, 32% da população na América Latina e Caribe, ou 244 milhões de pessoas, não acessam a serviços de internet. A diferença de conectividade é mais acentuada quando se separa populações urbanas e rurais. Em alguns casos a diferença chega a 40 pontos percentuais. Do total de pessoas sem acesso à internet na região, 46 milhões vivem em territórios rurais.
Como tem 54% de toda a população rural da região, o Brasil acaba distorcendo os dados – até por isso, o estudo apresenta números com e sem o Brasil. Ainda assim, as conclusões são graves. Primeiro, porque 77 milhões de pessoas não contam sequer com padrões mínimos de conectividade. Além disso, a distância entre o acesso disponíveis na cidade e no campo continua imensa: enquanto 71% da população urbana da América Latina e do Caribe têm opções de conectividade, o percentual cai para menos de 37% nas áreas rurais – um abismo de 34 pontos percentuais.
E aí o Brasil, mesmo com um agregado relativamente positivo, também mostra suas disparidades. Dos cerca de 5 milhões de estabelecimentos rurais do país, 72% não tem conexão com a internet – ou seja, 3,6 milhões deles. E a conectividade existente é praticamente toda concentrada nas grandes propriedades agropecuárias. É que dos 3,6 milhões de estabelecimentos rurais sem conexão, 91% têm menos de 100 hectares. E metade está no Nordeste.
Aponta o estudo que “várias questões apresentam as desigualdades no interior do país e indicam que a falta de acesso à rede móvel 4G está associada ao baixo produto interno bruto per capita e à menor densidade populacional, com exceção de alguns estados, como Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Também se indica que no país há uma ampla cobertura 2G e 3G, enquanto que a 4G se concentra no sul e centro-leste, âmbito onde se desenvolve a agricultura de precisão”.
O trabalho também mostra que as discrepâncias se refletem no acesso de conexão nas escolas. Segundo o estudo, no Brasil 73% dos estudantes de escolas rurais contam com acesso à internet em suas residências. É um percentual que na América Latina só fica atrás do Chile (86%) e do Uruguai (82%). Já quando é considerada a conectividade das escolas rurais, a posição brasileira despenca.
“Em relação ao acesso a dispositivos, no Brasil, as estatísticas mostram profundas diferenças entre o meio rural e o urbano: só 43% das escolas das zonas rurais dispõe de computadores, em comparação com 97% nas zonas urbanas”. Adicionalmente, o estudo indica que “na Argentina, Colômbia, Panamá, Brasil, Peru e México, menos de 20% têm disponibilidade de largura de banda ou velocidade de internet suficientes”.