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Exclusivo: Supercomputador do PBIA terá 5 mil GPUs, RISC-V e inauguração prevista para 2026

Segundo o secretário Henrique Miguel do MCTI, um terço do plano já avançou. Mas linha de R$ 5 bilhões do FNDCT só foi criada em maio.

O Brasil quer inaugurar ainda em 2026 um supercomputador avaliado em R$ 1,8 bilhão, equipado com cerca de 5 mil GPUs e arquitetura RISC-V, que será a espinha dorsal da infraestrutura nacional prevista no Plano Brasileiro de Inteligência Artificial. A aquisição, coordenada pelo Laboratório Nacional de Computação Científica, é um dos principais eixos do PBIA e atenderá não apenas órgãos públicos e instituições de pesquisa, mas também o setor privado, em especial pequenas e médias empresas que já atingiram o limite de sua capacidade computacional para treinar modelos de IA.

Segundo o secretário de Ciência e Tecnologia para Transformação Digital do MCTI, Henrique Miguel, o PBIA já tem cerca de um terço das metas alcançadas desde seu lançamento, mas entrou em fase de execução efetiva com a definição de recursos. Como explicou em entrevista a esta Convergência Digital, apesar de várias ações terem começado em 2024, os primeiros R$ 5 bilhões só foram destinados a partir de maio de 2025, com a criação do 11º programa do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), batizado de IA Brasil. “Esse é o marco de nascimento das iniciativas que efetivamente vão se materializar ao longo de 2025, 2026, 2027 e 2028”, explicou.

O supercomputador brasileiro terá papel estratégico para aproximar academia e setor produtivo, permitindo que empresas acessem capacidade de processamento para inferência e treinamento de modelos. O local de instalação ainda está em definição, mas já há propostas, como a do Rio de Janeiro, que atendem aos requisitos técnicos de energia, refrigeração, conectividade e segurança. Outros estados estão na disputa, mas é essencial garantir a cobertura do custo de manutenção estimado em US$ 50 milhões por ano. Segundo o secretário Henrique Miguel, as especificações são equivalentes ao que outros países vêm investindo. “As empresas fornecedoras estão excitadíssimas com isso. Todos querem ser parceiros do governo brasileiro, porque sabem que é uma aquisição muito simbólica, importante. Vimos aquisições similares na Dinamarca, está acontecendo uma na Inglaterra, na França, na Espanha. E nós estamos no mesmo caminho.”

O secretário destaca que a máquina, projetada para aplicações de HPC e IA, será dimensionada para atender às demandas nacionais. “Não vamos ter nem 20 mil GPUs, nem 20 GPUs. Como essa máquina vai ser HPC e IA também, ela é essa combinação, nossa estimativa é que vamos conseguir ir para uma máquina em torno de 5 mil GPUs. É o que a gente estima para atender as demandas que temos”, afirmou.

“Estamos buscando um processador RISC-V, em uma parceria que soma forças e compartilha riscos, mas também resultados. A gente liberou uma parte do recurso inicial em uma parceria entre Unicamp, BSC [Centro Nacional de Supercomputação de Barcelona] e Instituto Eldorado e prevemos a destinação de mais recursos para o projeto de um processador. Esse programa quer desenvolver LLM com os países latinos. Já temos uma parceria com o Chile assinada, com financiamento do FNDCT, uma parceria entre a USP e o Centro Chileno de IA. E estamos em negociações com Portugal e Espanha. O FNDCT vai liberar os recursos para não só desenvolver esse LLM cooperado, mas também estabelecer, conforme previsto no PBIA, essa cooperação entre os países e que depois a gente quer ampliar para os BRICS, para o G20”, diz o secretário.


“O Chile já vai trazer Uruguai, Argentina, Colômbia. Assinamos um acordo, em fevereiro, pelo qual Portugal aceita em discutir isso conosco. Portugal está usando a mesma estrutura do supercomputador de Barcelona. A Alemanha tem dois ou três supercomputadores que estão apoiando. E encontramos alguns parceiros interessantes na Índia, que já uma arquitetura muito boa em HPC e que agora também está com a mesma preocupação, um programa ‘GPU para todos’”, emendou Miguel.

Neste um balanço inicial do PBIA, ele calcula que “entre 30% a 35% das ações do plano já foram executadas ou estão em execução”. Ele citou o Observatório Brasileiro de IA, entregue ainda em 2024. “Isso é muito importante, porque é um repositório de informações do que as instituições estão fazendo, quais projetos de IA, e até as questões voltadas ao marco regulatório mundial e nacional. E tem uma importância adicional de orientar investimentos. Porque você localiza onde é que estão os centros de referência, as pesquisas em andamento, a capacidade daquela região ou do estado de apoiar iniciativas nessa área”, destacou.

Também entre as ações em curso, o PBIA avança em um grande mapeamento territorial multipropósito; na capacitação de servidores; na criação ou ampliação de sete institutos nacionais de ciência e tecnologia em IA, além de cinco centros de P&D, com destaque para Centro-Oeste e Norte; no desenvolvimento de um grande modelo de linguagem latino-americano – em parceria com o Chile; e nos próximos dias o Ministério da Educação vai apresentar iniciativas para levar inteligência artificial às escolas

“Vamos ter uma massa crítica muito mais preparada nas universidades e que permitem ter spin-offs para formar nas empresas, professores com mais capacidade. Com o PBIA, as próprias instituições, as universidades, fizeram as suas iniciativas buscando os instrumentos que existem. Ninguém ficou esperando. A Finep lançou ano passado um edital de subvenção, ancorado na missão 4 da Nova Indústria Brasil, que é onde está a inovação. E entre 30% a 40% das propostas tem IA no meio, IA para setor agrícola, IA para saúde, IA para comércio, IA para automação”, apontou Henrique Miguel.

Além disso, o setor privado tem buscado as linhas de financiamento do BNDES. Um levantamento mostrou R$ 1 bilhão até o começo de junho de financiamentos. E diferentes ações sobre IA começaram antes mesmo do lançamento oficial do PBIA. “A Finep estima que R$ 4,5 bilhões em projetos de IA foram aprovados nos últimos três anos. Portanto, há projetos que começaram antes do PBIA. O governo honrou esses contratos e aprovou novos. E é muito importante destacar os esforços do INPE ou da Petrobras. A Petrobras apoiou o LNCC na atualização do computador Santos Dumont e ela tem 20% a 30% do uso focado no uso de IA também. E está comprando um supercomputador novo.”

Parte significativa do PBIA dentro do governo envolve a Infraestrutura Nacional de Dados. “Uma grande ação envolve IA para o serviço público. O Ministério da Gestão pegou o Eixo 3 do PBIA [IA para melhoria do serviço público] e alinhou entre 12 e 15 ações, vinculadas ao governo digital, identidade digital, pensando em desenvolvimentos de IA para tudo. Outra ação foi criar um guia para treinamento dos servidores públicos e a ENAP já está capacitando. Além das várias iniciativas que o MGI anunciou recentemente em um evento no Palácio do Planalto, relacionada à IND.”

No eixo de apoio ao processo regulatório e de governança da IA, o secretário de transformação digital revela que o governo terá contribuições ao marco legal em discussão na Câmara dos Deputados. “Estamos atentos ao marco regulatório e a estimular a compra pública de uma forma mais estruturada. Vamos levar sugestões ao PL 2338/23. Vamos apresentar algumas propostas para a Casa Civil, para validar, e depois vamos levar para o Congresso, de uma forma estruturada, como uma posição de governo. São questões que passam por um apoio mais substancial para as pequenas, médias e startups, um apoio mais relevante na hora de fazer compras públicas, para estimular encomendas tecnológicas, para apontar o que precisa ser intensificado, porque verificamos que há uma busca do setor privado e da academia pelos recursos para desenvolvimento e uso de IA. Tem que ter uma forma de estimular isso.”

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