O Ministério do Desenvolvimento quer lançar até o fim do primeiro trimestre a tão esperada política nacional para datacenters – esperada pelo menos desde 2013, quando o assunto já circulava na Esplanada. A expectativa tem relação com o que a pasta entende como janela de oportunidade para decisões de investimento para a próxima década.
“As demandas que estão sendo colocadas para o Ministério de Minas e Energia é de que a capacidade atual se multiplique por 12 até o final de 2032. É um absurdo de capacidade, um crescimento exponencial. E o foco do Brasil como hub para instalação desses datacenters não pode ser desperdiçado. A gente tem que utilizar isso como pauta estratégica para a política pública do digital no país”, ressalta a diretora de Transformação Digital e Inovação do MDIC, Cristiane Rauen, que falou do assunto nesta terça, 18/2, ao participar do Seminário Políticas de Comunicações, do portal Teletime.
O plano é ambicioso menos pelo prazo e mais pelo escopo. Para o MDIC, o país precisa aproveitar essa demanda explosiva para incentivar cadeias produtivas de equipamentos nacionais, e não simplesmente comprar chips e insumos que serão montados no país.
“É uma oportunidade importante para uma política nacional que adense as cadeias produtivas, a produção de equipamentos de TICs, componentes, insumos e processadores, que hoje são importados, mas que precisam ser dinamizados com a instalação de novos parques fabris, que podem muito bem se aproveitar da instalação desses empreendimentos, dando escala para escoamento dessa produção”, afirmou a diretora de transformação digital.
Ela reconhece que, de largada, os chips importados serão regra, mas isso pode mudar em um futuro não tão distante. “Em um primeiro momento ainda não temos capacidade instalada de chips que possam concorrer com os chips de alto processamento como os da Nvidia, por exemplo. Mas quando a gente fala de produção de equipamentos acabados que podem ser produzidos com plantas industriais estabelecidas aqui, esses são importantes fornecedores que podem ter suas cadeias de produção adensadas no contexto brasileiro. Parte dos equipamentos importados podem vir a deixar de ser caso haja escala suficiente para que esses players nacionais internalizem plantas de produção de componentes desses equipamentos.”
E para além da visão industrial, há todo um ecossistema de serviços que vem na esteira de um parque robusto de processamento de dados. “Não só na cadeia para trás, mas na cadeia à jusante, com processamento de dados mobilizando novos serviços, nuvem, software e, obviamente, as camadas de aplicação dos setores usuários dessa capacidade de processamento. É uma política estruturante que não se presta apenas à ultra capacidade de processamento, não especificamente para IA, mas todos os perfis, colocation, edge, que vão beber muito da infraestrutura de 5G já instalada e a ser ampliada; os datacenters da comunidade cientifica que também vão se abastecer muito dessa possibilidade de fornecedores e consumidores da sua própria infraestrutura, sem perder uma janela de oportunidade de o Brasil se posicionar como um hub de instalação de datacenters que possa irrigar toda a política brasileira da economia digital.” Assista a entrevista.