As novas medidas protecionistas anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que reforçam as dificuldades iniciadas no primeiro mandato do atual mandatário e ampliadas na gestão Joe Biden para acesso a chips de alta tecnologia, tem tudo para fortalecer o desenvolvimento de uma política nacional, senão de semicondutores em si, ao menos de datacenters e de valorização de ativos digitais.
Circula na Esplanada dos Ministérios uma análise elaborada na área de economia digital do Ministério do Desenvolvimento que defende usar esses constrangimentos em prol do avanço nacional e do Sul Global, via BRICS, para uma pauta mais desenvolvimentista.
De um lado, a restrição de acesso aos países não aliados dos EUA (todos que não estão na OTAN ou nos Five Eyes) dos melhores modelos de semicondutores cria dificuldades, mas o recente terremoto provocado pela DeepSeek sinaliza a possibilidade de custos reduzidos para aplicações no campo da inteligência artificial, o que pode ser uma alavanca para o Plano Brasileiro de IA, PBIA.
Os EUA também anunciaram uma política para turbinar ainda mais a instalação de datacenters no país – que já controla metade dos mais de 11 mil centros de dados espalhados pelo mundo. E a análise que circula no governo é de que isso pode empurrar, finalmente, a criação de uma política específica para construção de datacenters no Brasil, ideia que aparece sazonalmente há pelo menos uma década e até hoje não vingou. Em especial para agentes nacionais ou regionais, vide as nuvens da Magalu ou do Mercado Livre.
Nessa questão, os dados são entendidos como ativo estratégico, que hoje são uma commodity exportada e “industrializada” pelas big techs, sem apropriação efetiva do valor pelas periferias que produziram esses dados. A conclusão é que se antes o desenvolvimento econômico contínuo não era garantido sem autonomia tecnológica, agora a própria ordem democrática e a soberania nacional estão vinculadas a uma economia digital não dependente.