Brasil tem política agressiva em desoneração para chips, falta a indústria querer fazer
“Temos minerais, água, energia, gente e contexto geopolítico favorável”, diz o professor Marcelo Zuffo, da USP
O Brasil tem plenas condições de ser ator relevante no seleto grupo de nações que produzem semicondutores. Quem garante é o professor Marcelo Zuffo, da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo e um dos maiores especialistas do tema no país.
Ao tratar do tema durante a Futurecom 2024, Zuffo lembrou da longa tradição em semicondutores – “o Brasil projetou e fabricou o primeiro chip em 1971” – e uma série de predicados para consolidar uma indústria avançada.
“Somos abundantes em recursos naturais, temos parcela expressiva de reservas estratégicas minerais em materiais críticos, não só as terras raras, mas todo o conjunto de materiais para a indústria de semicondutores. Então, temos materiais, minérios, gente, água, energia. E temos um contexto geopolítico complexo, em que as cadeias começam a se reestruturar”, afirmou Marcelo Zuffo.
Até porque, insistiu, já demos vários passos nessa direção. “Somos o maior hub de empacotamento de chips fora da Ásia. Temos uma indústria de informática e fabricação de smartphones muito forte. O que precisamos é ter políticas industriais mais focadas nisso, entendendo o impacto que esse setor pode ter na segurança econômica do país. O investimento em semicondutores para países como o Brasil, entre as 10 maiores economias do mundo, é muito estratégico.”
Ele destacou, ainda, que os incentivos estão colocados. “Recentemente foi anunciado o Plano Brasileiro de Inteligência Artificial. E também recentemente foi aprovado e publicado o plano de incentivo aos semicondutores, que é uma das políticas mais agressivas do mundo de desoneração de investimentos na cadeia de chips.”
O que falta? “Talvez o que falte é os agentes econômicos perceberem que podem ganhar muito dinheiro com isso. Essa é uma indústria multibilionária. E ela está perfeitamente acomodada no cenário econômico industrial brasileiro. Não cabe só ao governo, mas a parcelas importantes da indústria perceberem a possibilidade de inserir o Brasil no mundo.”