Inteligência Artificial veio para dar lucro às big techs
“A inteligência artificial não veio para agregar; veio para dar lucro para às big techs”: assim Walter Carnielli, pesquisador-sênior no Centro de Lógica, Epistemologia (CLE) e História da Ciência da Unicamp e vice-presidente no Advanced Institute for Artificial Intelligence, abriu sua palestra sobre lógica e IA: aplicações, limites e surpresas, durante o Deloitte GenAI Summit.
O pesquisador-sênior explicou que o GPT — do inglês, generative pre-trained transformer — é uma arquitetura de rede neural em camadas, projetada para gerar texto e outras sequências de dados com base em uma entrada. Assim, o GPT completa textos baseando-se em bilhões de dados de treinamento com base em probabilidades encontradas no treinamento.
Walter Carnielli detalhou que o modelo GPT utiliza técnicas de álgebra linear, cálculo e estatística para aprender a relação entre as palavras e gerar previsões com base em padrões aprendidos a partir de dados de treinamento. “Ele é um completador de texto e não foi treinado para dizer verdades. Ele foi programado para parecer humano e não para dizer a verdade — e isso é muito importante entender, senão ficaremos frustrados”, assinalou o estudioso. “Se você entender isso, você tira grande proveito dele. O mais importante é a sua criatividade frente a esta ferramenta e não a criatividade da ferramenta.”
Para Carnielli, muita coisa rotulada de inteligência artificial e machine learning, vendendo a ideia que poderia ser algo sobre-humano, são, na verdade, habilidades cognitivas digitais. “Meu ponto de vista é que não existe inteligência real sem vida, sem cultura, sem saber trabalhar com o erro, sem o savoir vivre. O grande perigo não é que IA nos domine, mas que nós nos rebaixemos a ela”, defendeu.
Falta na habilidade cognitiva digital a capacidade de generalização e abstração, a capacidade de dedução e consequência; a compreensão contextual, a capacidade de abdução, a capacidade de explicação. Também falta a noção de causa e efeito, aprendizado autônomo e interação física com o ambiente, conforme enumerou o pesquisador-sênior.
O professor explicou que inteligência artificial vem de programação lógica, podendo ser simbólica — baseada em conhecimento e lógica —, subssimbólica ou conectivista — baseada em redes neurais, fazendo correlações entre as variáveis de entrada e saída ou IA evolutiva, esta última sendo baseada em algoritmos genéricos.
Os algoritmos genéricos constroem sistemas que podem evoluir e adaptar-se ao longo do tempo, inspirados no processo de seleção natural. Os AGs, apontou Carnielli, têm sido utilizados em tarefas de concepção e criatividade como a criação de desenhos artísticos, a composição musical e jogos. Mas, por outro lado, abrem espaço para falsificações.