

Um estudo recente realizado pela Anatel em parceria com o Idec apontou dados cruciais sobre a conectividade significativa no Brasil. A pesquisa analisou comportamentos e condições de acesso à internet em diversas faixas de renda, destacando a realidade da população mais vulnerável. De acordo com Cristiane Camarate, conselheira da Anatel, “a conectividade significativa vai além da infraestrutura. As pessoas precisam de condições para pagar, ter dispositivos acessíveis e, principalmente, de habilidades digitais.”
Cristiane detalhou a análise durante painel realizado no Futurecom 2025, nesta quinta-feira, 02 de outubro. Segundo ela, apesar de quase 90% da população brasileira estar conectada à internet, a qualidade dessa conexão ainda enfrenta desafios significativos, principalmente para os grupos de renda mais baixa. Um dado importante é que 50% dos entrevistados possuem celulares com valor inferior a R$ 1.000, o que implica em aparelhos com menos funcionalidades e capacidade de navegação.
Além disso, a pesquisa revelou que a maioria dos brasileiros usa o celular como principal ferramenta para acessar a internet -seja por preferir esse meio, seja por tratar-se do único dispositivo disponível para isso. No entanto, a pesquisa revela que o ciclo de troca de aparelhos é acelerado: 50% da população troca de celular em até dois anos. “Isso mostra que a indústria tem capacidade de evoluir, oferecendo novas opções a preços mais acessíveis”, observou Camarate.
Outro dado preocupante mencionado pela conselheira é a falta de acesso a computadores. Cerca de metade dos brasileiros que não possuem um computador afirma que o preço é a principal barreira, enquanto 30% não veem a necessidade de ter um dispositivo desse tipo. Ao mesmo tempo, o estudo apontou uma diminuição no número de domicílios com computadores, contrastando com o aumento da quantidade de casas com acesso à internet. Essa relação, na análise de Cristiane, destaca a dependência crescente dos dispositivos móveis para a conectividade.
A pesquisa também abordou a questão das franquias de dados móveis. Segundo o levantamento, 12% da população de baixa renda passa, em média, 15 dias por mês sem acesso à internet devido à falta de franquia, evidenciando um obstáculo significativo para a inclusão digital. A maioria da população, no entanto, tem utilizado o wi-fi como principal meio de conexão à internet, um aspecto positivo, mas que exige um trabalho de expansão dessas ofertas.
Em resposta a esses desafios, a Anatel tem adotado uma série de ações concretas. “A infraestrutura é a base da transformação digital do país, mas a inclusão digital vai além disso”, afirmou Cristiane. A agência tem investido em programas de letramento digital, especialmente voltados para grupos vulneráveis como crianças, idosos e mulheres. Para as mulheres, por exemplo, a Anatel vem promovendo ações para estimular a entrada no mundo da tecnologia e evitar o viés de gênero em áreas como inteligência artificial.
Outra iniciativa de destaque é a peça teatral “Vida de Influencer”, que aborda questões de segurança digital e cyberbullying para crianças. A peça recebeu prêmio da Cúpula Mundial da Sociedade da Informação 2025 e já foi levada para diversos teatros do Distrito Federal. Em breve, conforme revelou Cristiane, será apresentada em outros três estados. Para os idosos, a Anatel, em parceria com a Unesco, está desenvolvendo projetos focados em capacitação digital, após realizar oficinas em sete estados para entender melhor as necessidades desse público.
Essas ações são parte do compromisso da Anatel com a promoção da cidadania digital no Brasil. “Muitas multas aplicadas pela agência estão sendo convertidas em obrigações de fazer, que incluem investimentos em conectividade para escolas, capacitação de pessoas e programas para mulheres vítimas de violência e refugiadas”, concluiu Cristiane. “A agência acredita que essas iniciativas possam contribuir para uma conectividade mais inclusiva e significativa para todos os brasileiros, independentemente de sua condição socioeconômica.”