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Discutir política? Brasileiro foge dos grupos de WhatsApp

Segundo estudo do InternetLab, presença caiu em grupos de família, amigos, trabalho, estudos e religição

O InternetLab, em parceria com a Rede de Conhecimento Social (ReCoS), lançou a quinta edição da pesquisa Vetores da Comunicação Política em Aplicativos de Mensagens, que revela um cenário de cautela e retração nas discussões políticas online no Brasil. O estudo ouviu 3.113 usuários de aplicativos de mensagens nas cinco regiões do país, entre 20 de novembro e 10 de dezembro de 2024, logo após as eleições municipais.

Os dados indicam que metade dos entrevistados evita falar sobre política em grupos de família para não gerar conflitos, enquanto 52% afirmam se policiar sobre o conteúdo que compartilham nesses espaços. A tendência de evitar debates políticos com pessoas próximas aparece de forma ainda mais expressiva: 65% dos respondentes disseram preferir não tratar do tema com familiares e amigos.

Segundo a pesquisa, há uma percepção disseminada de saturação em relação ao debate político no ambiente digital. Para 56% dos entrevistados, discutir política online gera medo, sobretudo porque esses espaços são vistos como “muito agressivos”.

Para Heloisa Massaro, diretora de pesquisa e operações do InternetLab, o comportamento reflete o cansaço com o fluxo constante de informações políticas. “O respeito pessoal tende a prevalecer diante das discordâncias. O debate político passa a ser visto como improdutivo, com pouca margem para convencimento ou mudança de opinião”, afirma.

A pesquisa também traz dados iniciais sobre o uso de Inteligência Artificial. Cerca de metade dos entrevistados já utilizava a ferramenta de IA da Meta no WhatsApp, lançada pouco antes da coleta. Além disso, 25% afirmaram ter recebido vídeos ou imagens políticas claramente gerados por IA, enquanto 30% acreditam ter consumido conteúdos eleitorais produzidos por essa tecnologia sem saber.


Desse caldo, o estudo indica a redução da participação em grupos de mensagens. A presença em grupos de família caiu de 31% em 2023 para 23% em 2024. Nos grupos de amigos, o índice recuou de 29% para 24%. A retração atinge ainda grupos ligados a trabalho, estudos e religião, levando os usuários a serem mais cuidadosos com a qualidade, a confiabilidade e os efeitos das informações compartilhadas sobre suas relações pessoais.

As mulheres declaram maior preocupação e cautela ao se manifestar politicamente em grupos online, além de serem as que mais temem participar de debates e compartilhar conteúdos com potencial ofensivo. Já os homens se mostram mais confiantes e ativos na exposição de opiniões políticas nesses ambientes.

Apesar da preferência por grupos menores e mais restritos, o estudo identificou um aumento na participação e na permanência em grupos organizados de apoio a candidatos durante as campanhas eleitorais. Segundo Massaro, há um refinamento dessas estratégias tanto por parte dos apoiadores quanto das campanhas. Esses grupos funcionam como espaços de troca e mobilização online e offline e, em muitos casos, permanecem ativos mesmo após o período eleitoral.

Entre usuários do Whatsapp, 19% disseram acompanhar e postar conteúdos políticos, 32% apenas acompanharam e 6% apenas postaram.

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