Bancos: Brasil tem tudo para ser protagonista no rearranjo da globalização
A globalização está sendo posta em xeque pela guerra da Ucrânia, mas, mesmo assim, ainda traz oportunidades para o setor financeiro, em especial aos bancos. Esta é a visão de Daniella Marques, presidente da Caixa Econômica Federal; Fausto de Andrade Ribeiro, presidente do Banco do Brasil; e Octavio de Lazari, diretor-presidente do Bradesco.
E essas oportunidades podem surgir em diferentes frentes. Para Daniella Marques, da CEF, o setor bancário é parte da revolução tecnológica que está em curso no mundo. Falando especificamente da Caixa, ela afirmou que o foco da instituição é desenvolver o cidadão, primeiro com inclusão digital e, depois, com bancarização. “O setor vem construindo nos últimos anos uma plataforma que reúne Open Finance, Open Banking, PIX, 5G etc. Conjugar tudo isso aponta para um mundo diferente, em que os serviços bancários serão acelerados pela tecnologia”, disse.
Ela acredita existir, nesse contexto, uma oportunidade para o Brasil e que, para isso, a CEF vem atuando no que ela chama de primeiro degrau da rampa financeira. “Estamos falando de 40 milhões de brasileiros que podem estar sendo mais bem orientados para que se desenvolvam financeiramente. É um processo de transformação contínuo e temos alicerces que vão acelerá-lo”, apontou.
Para o presidente do Banco do Brasil, os benefícios da globalização são inegáveis, uma vez que eles abriram as fronteiras para o capital, trazendo benefícios como informações em tempo real e especialização na cadeia de suprimentos. Foi essa especialização que incomodou o mercado ao longo da pandemia. “Primeiro no suprimento de matéria prima para produção industrial. Estive em grandes fábricas de tratores e equipamentos agrícolas, que sofriam com falta de chips, componentes e pneus. Observamos ali a carência de outras opções de cadeia”, ressaltou.
Ribeiro citou ainda o caso das vacinas, que dependiam de insumos produzidos na China e de tecnologia externa para serem produzidas no Brasil. Questões como essa alertaram o mercado, que, de acordo com ele, deve estar caminhando para um processo de rearranjo. Ribeiro vê duas alternativas: ou os países criam uma cadeia regionalizada de produtos estratégicos ou diversificam sua cadeia de suprimentos em vários parceiros.
Esse contexto traz uma série de oportunidades, principalmente no que se refere à proteção de dados. “Surgem oportunidades de proteção de nossos principais ativos e de nossos negócios. Os bancos criaram áreas de cibersegurança e estão funcionando muito bem”, afimou, lembrando existirem oportunidades também no mundo agrícola, uma vez que só a tecnologia permite aumentar a produtividade sem desmatamento. “O fato é que os bancos têm o poder de financiar a jornada para uma economia mais limpa”, enfatizou.
Lazari, do Bradesco, também citou a quebra das cadeias produtivas pela guerra de Ucrânia como um desafio a ser enfrentado, que trouxe inflação em nível global e tem obrigado vários países a se reorganizarem, buscando parceiros amigos e próximos. “Nesse ponto, o Brasil tem vocação para ser amigo de qualquer país do planeta. Temos uma oportunidade de ouro de aproveitar isso. É bom ter em mente como podemos restabelecer essas cadeias globais sem que sejamos pegos de surpresa por algo que volte a quebrá-las. É um desafio que o mundo tem pela frente e no qual o Brasil tem vantagem.”