Bancos tradicionais estão morrendo. Todo banco se assume como empresa digital
O setor financeiro caminha rapidamente para o fim da diferenciação entre bancos digitais e bancos tradicionais. Para os participantes de um dos painéis realizados nesta quarta-feira, 10, na Febraban Tech 2022, está cada vez mais difícil separar um do outro. Ao contrário, todos afirmam que, no atual contexto, todo banco é digital.
O CIO da diretoria de cartões, iti e marketplace do Itaú Unibanco, Fernando Kontopp de Oliveira, explica que as empresas chamadas digitais são aquelas que têm um outro olhar para o cliente e que, nesse contexto, os bancos estão evoluindo na direção de se tornarem também empresas digitais.
A mesma definição é usada pelo vice-presidente da rede de varejo da Caixa Econômica Federal, Júlio Cesar Volpp Sierra, para quem todo banco é digital na medida em que olha para seu cliente e este requer esta abordagem. “Quando colocamos o cliente no centro da estratégia, não tem como tirar o banco dessa rota digital”, disse.
Sierra reconhece que a CEF tem suas especificidades já que, por conta do perfil de seus clientes, adota hoje uma realidade “figital”, com uma demanda ainda grande nas agências. Mesmo assim, a recente experiência da instituição durante a pandemia colocou-a como protagonista em um processo de bancarização que trouxe para o mercado, pela porta digital, cerca de 38 milhões de pessoas que sequer tinham conta em banco.
É uma realidade que o CTO (Chief Technology Officer) do Next, Jolivan Galvão Filho, resumiu bem: hoje praticamente todas as pessoas são digitais, por isso os bancos também são. Ele cita como o exemplo o tradicionalíssimo Bradesco, que hoje tem 90% de suas transações feitas por meio digital. “O Next nasceu 100% digital e com uma visão de que os clientes digitais eram muito jovens. Vimos durante a pandemia que hoje eles vão dos mais jovens aos mais experientes”, afirmou.
E isso vale também para os bancos de investimento. O BTG Pactual, por exemplo, colocou em operação há alguns anos uma iniciativa digital sob um nome que a destacasse. O sócio da instituição, Marcelo Flora, conta que este ano a marca foi encerrada e que hoje tudo no BTG é digital.
Novas oportunidades
Ao mesmo tempo em que coloca todos os bancos no mesmo status de concorrentes, a digitalização promete trazer oportunidades para todos eles. Uma das mais evidentes é a chegada do Open Finance que, para Sierra, da CEF, abre a perspectiva para que os bancos acelerem ainda mais seu processo de digitalização. Para ele, o Open Finance deve provocar mudanças entre os clientes na mesma proporção das causadas pela chegada do PIX.
Flora, do BTG, concordou e disse ter a expectativa de que a iniciativa torne mais fácil o desejo do cliente de escolher a melhor instituição, representando também uma oportunidades para novos players. O mesmo defende Galvão, do Next. “Poderemos usar muita inteligência para oferecer os melhores produtos aos clientes e criar produtos personalizados.”
E o Open Finance é apenas um exemplo. De acordo com Oliveira, do Itaú Unibanco, a digitalização sempre trará a possibilidade de novos serviços. Ele cita como exemplo o auxílio a clientes que precisam de acesso ao crédito. “O Brasil tem hoje 59 milhões de pessoas com algum tipo de dívida, e é preciso ajudá-las a entender como se reinserir no mercado de consumo. Há demanda por serviços que as ajudem”, disse.
Outro exemplo de serviço proporcionado pelos uso de meios digitais são os marketplaces. O Next oferece para seus clientes um marketplace com mais de 100 parceiros comerciais em 30 diferentes categorias e com mais de 500 mil produtos. A cada compra, os clientes do banco têm direito a promoções e cashbacks, formando um ecossistema interligado pelo sistema financeiro e que leva comodidade ao cliente. “Nosso papel é criar mecanismos e experiências para nosso cliente com jornadas cada vez mais integradas. Os dados terão muita importância nesse processo”, explicou Galvão Filho.
O mesmo vale para o BTG. Flora destaca que o desafio do banco, focado em investimentos, não é diferente dos demais bancos. Ele lembra que o banco já investiu mais de R$ 1 bilhão em tecnologia e que, hoje, mais de 80% de suas contas são abertas digitalmente. “Temos o desafio de disseminação da educação financeira no Brasil. Há funcionalidades que precisamos evoluir e nos próximos 12 meses teremos nossa plataforma de investimentos online funcionando, com serviços como cartão de crédito em moeda estrangeira”, revelou.
Se a demanda cresce de um lado, de outro os bancos enfrentam um antigo problema do mercado: a falta de mão de obra para colocar esses projetos em curso. Para enfrentar o problema, Galvão Filho, do Next, defendeu que a iniciativa privada invista em ações de formação. “Temos um programa de treinamento em desenvolvimento de software para mulheres. O desafio é muito grande e temos um papel relevante na formação desses profissionais”, disse.
O Itaú Unibanco também tem uma série de programas de formação voltados a públicos distintos, como pessoas em estado de vulnerabilidade, mulheres, minorias raciais etc. “Além disso, temos ajudado as escolas a colocar em prática iniciativas que atraiam esse público. É mais uma forma de buscar caminhos para formar mais pessoas no Brasil”, pontuou Oliveira.
Na mesma medida, o BTG Pactual anunciou recentemente o Inteli (Instituto de Tecnologia e Liderança), com foco no ensino superior de engenharia de software e computação. Criado com o objetivo de se tornar um centro de excelência, o instituto tem hoje mais de 200 alunos do Brasil inteiro, muitos vindos da rede pública. “O banco oferece 50 bolsas anuais para termos certeza de termos os melhores alunos”, disse Flora, lembrando que a iniciativa, baseada em São Paulo, deve se expandir para outros estados.