

Ainda que não seja para o curto prazo, a computação quântica emerge globalmente e deve afetar – pelo menos inicialmente – os setores financeiro, de saúde, óleo e gás e segurança. Analisar a tecnologia para entender os casos nos quais ela pode ser aplicada e começar a experimentá-la: isso fará a diferença na corrida de adoção.
Samuraí Brito, líder de quantum e gerente de ciência de dados no Instituto de Ciência e Tecnologia do Itaú Unibanco (ICTI), avalia que a computação quântica deverá ter muito aplicação na otimização de carteira de investimentos, apontando quais produtos escolher para compô-la. “Para este tipo de aplicação, entendemos que a computação quântica tem potencial pela habilidade de resolver problemas com paralelismo nativo, cálculos quase simultâneos”, disse a executiva do ICTI, completando que é difícil trabalhar com computação quântica, não sendo nada trivial.
Para Wander Cunha, diretor de processos e operações da F1st / Santander Brasil, a maior preocupação atual com a ascensão da computação quântica vai no sentido da segurança. O Santander, por exemplo, entrou em um consórcio de bancos na Europa que olha a criptografia pós-quântica para quando houver computadores quânticos.
A preocupação se deve ao fato de que a partir de 1 milhão de qubits vai ser possível quebrar a chave RSA, o que traz riscos muito grandes, explicou Cunha. “Prevendo isso, os bancos vêm fazendo investimentos altos. Se uma instituição financeira não estiver preparada para isso, quando acontecer, será o fim da empresa. Boa parte dos investimentos que fazemos é neste sentido”, ressaltou.
Hoje, o Santander está trabalhando em duas frentes: atualizando os protocolos de segurança – ainda que não sejam pós-quânticos, dão folga maior para implementar soluções quânticas – e testando casos de uso em diversas áreas. “Estamos atualizando tudo para o maior nível de segurança que existe, enquanto fazemos o casos de uso”, disse.
Segurança é primordial, assim como fazer a migração dos protocolos de criptografia pós-quântica quando for viável, destacou Samuraí Brito. Mas ela ressaltou que se trata de uma matemática complexa demais e que nenhum dos protocolos novos passaram no teste do tempo e se mostraram eficientes para a era quântica. “Estamos acompanhando bem de perto, mas sem pânico, porque temos de confiar nos protocolos. Em paralelo, conversamos com todo o ecossistema que também tem de estar preparado; todo movimento tem de estar sincronizado”, assinalou. “Não temos computadores quânticos ainda com potencial para quebrar criptografia, mas estamos olhando para frente e nos preparando.”
Mão de obra
A Cimatec trabalha com computação quântica há uns cinco anos. Valéria Loureiro da Silva, professora-associada e coordenadora do QuIIN/ Senai-Cimatec, avalia que na área de óleo e gás ela tem grande potencial de uso, para entender onde estão as reservas de petróleo.
“Também temos projetos voltados para área de educação e formação, porque você não programa computador quântico como programa supercomputador ou computador normal; é preciso criar a mão de obra. Esta é uma das limitações que temos no Brasil. Quem entende está na academia e nos departamentos de física; então, para o Brasil crescer nessa área, temos de investir em educação”, destacou Silva.