Inadimplência das famílias bate recorde no Brasil
A inadimplência das famílias brasileiras, que já opera em patamar elevado, preocupa e pode subir mais nos próximos meses. A análise partiu da economista Izis Ferreira, da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), ao falar sobre a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic).No levantamento de setembro, divulgado nesta segunda-feira (10) pela entidade, as famílias que se declararam endividadas em setembro ficaram em 79,3%, ante 79% em agosto, e maior que em setembro de 2021 (74%).
Já as que informaram dívidas em atraso ficaram em 30% ante 29,6% em agosto e, em setembro do ano passado, 25,5%. Esses porcentuais são os maiores da série histórica publicada pela entidade na internet, iniciada em 2010. No caso de endividamento, a economista acredita que pode diminuir – mas não a inadimplência. Isso porque o serviço de dívida mais caro, com juros elevados, e a diversificação de modalidades de empréstimos, por parte do consumidor, pode tornar mais difícil para as famílias brasileiras quitarem suas obrigações.
Ao falar sobre o cenário de setembro, a especialista observou que a renda disponível do brasileiro viveu e ainda vive bom momento, com melhora em emprego – o que eleva renda originada do trabalho – e a manutenção de programas de transferência de renda, como Auxílio Brasil. Mas, por outro lado, o patamar de endividamento das famílias já opera em nível elevado há meses, bem antes da melhora recente da renda – o que, na prática, pode ser empecilho para novos aumentos, de maior intensidade. “A gente chega em um ponto de endividamento tão alto que fica difícil crescer [mais]” afirmou ela.
No entanto, o mesmo não pode ser dito da inadimplência que tem potencial para crescer, frisou a técnica. A especialista ponderou que o brasileiro está aprendendo a diversificar sua dívida, e pede empréstimos agora não somente nas instituições financeiras, mas em redes varejistas, recordou ela. “Estamos vendo uma ‘bancarização’ do varejo muito expressiva”, afirmou. Isso faz com que o brasileiro tenha opções variadas de crédito, mas nem sempre a inteligência financeira de saber se programar para poder quitar tudo.
Isso gera maior inadimplência, alertou. “Pela primeira vez na pesquisa temos cerca de um terço das famílias endividadas inadimplentes”, comentou ela, afirmando que esse dado passou para faixa de 30%, em setembro. No entendimento da economista, também não ajuda o fato de os empréstimos terem se tornado mais caros, com juros em alta. Como esses aspectos não vão desaparecer de forma rápida, a especialista acredita ser possível novos aumentos na inadimplência. “A partir de agora, precisamos saber como fazer para atacar esse problema de inadimplência”, recomendou.