A TI como aliada na prevenção e mitigação de desastres naturais
Recentemente, o Brasil experimentou situações totalmente atípicas em relação a desastres naturais. Os recentes tremores de terra na Bahia geraram uma série de estragos em residências e comércios em cidades do interior do estado. Antes disso, alguns meses atrás, um ciclone com ventos de mais de 120 km/h, batizado de Ciclone Bomba, atingiu os estados de Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná, deixando mortos e feridos, bem como cerca de 2 milhões de pessoas temporariamente sem energia elétrica. Em comum, essas situações se destacam pela dificuldade de o poder público antecipar e se preparar para os desastres, o que demonstra a necessidade urgente de investimentos em tecnologias que ajudem a prever e mitigar esse tipo de situação, salvando vidas e recursos financeiros e naturais.
O uso da TI (tecnologia da informação) em vários países do mundo comprova que ela pode ter um impacto positivo imediato na segurança e no bem-estar dos cidadãos, especialmente na preparação e resposta aos desastres naturais. Mas isso depende não só de investimentos em infraestrutura tecnológica e sistemas, como também de um planejamento contínuo e adequado.
Em um mundo cada vez mais digital e no qual a TI foi considerada um serviço essencial durante a pandemia, a primeira preocupação de governos e empresas deve ser a de garantir que os serviços que dependem de tecnologia não parem de funcionar no caso de um desastre natural. O que exige a redundância energética para que o data center consiga funcionar mesmo no caso da queda da rede de energia elétrica pública ou ainda que o ambiente siga rodando na nuvem. O plano de contingência deve prever também que dados críticos e essenciais estejam armazenados em diferentes locais e camadas, o que vai garantir o acesso a informações vitais no caso de um furacão ou tremor de terra afetar as instalações físicas.
O principal segredo para o sucesso de um plano adequado de preparação para desastres naturais, no entanto, passa por tirar proveito dos avanços tecnológicos para ajudar os governos a prever com antecedência possíveis problemas, garantindo tempo para que tomem todas as medidas cabíveis para minimizar os impactos da situação. Isso exige a combinação do uso de alta capacidade computacional e de sistemas que consigam analisar grandes quantidades de dados para gerar insights relevantes e informações em tempo real.
Essa inteligência da TI permite, por exemplo, que os governos tirem as pessoas de uma determinada área geográfica antes que o desastre aconteça ou ainda emitam alertas para que a população tome determinadas medidas preventivas. A tecnologia para análise de dados também garante minimizar o impacto do problema depois que ele acontece, na medida em que a mensuração em tempo real garante informações essenciais para a atuação rápida e eficiente de serviços como Resgate e Bombeiros.
Enquanto o setor privado se beneficia da análise de dados já há alguns anos, o setor público ainda está engatinhando nesse assunto. Os dados sobre o clima e o meio ambiente existem e já são coletados por universidades federais, estaduais, privadas e por instituições como o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM). No entanto, existe poucos investimentos para transformar essas informações em serviços que possam ser utilizados de forma efetiva pelos órgãos públicos.
Um dos motivos para as nações investirem em tecnologias que ajudem a se antecipar contra ameaças naturais é a redução de riscos financeiros que essas soluções podem gerar. Um estudo do National Institute of Building Sciences, nos Estados Unidos, descobriu que a cada US$ 1 gasto pelo país em novas tecnologias e processos para mitigar desastres, o país economiza cerca de US$ 6 em custos futuros. Ou seja, o que gera um impacto direto no bolso do governo e dos contribuintes.
Cabe agora ao poder público entender que o avanço tecnológico e a digitalização da sociedade representa uma vantagem competitiva para atuar na questão na prevenção e mitigação dos efeitos de desastres naturais. Mas isso exige um esforço contínuo e não pode ser tratado apenas como um projeto pontual, quando ocorrem situações inesperadas como o tremor de terra na Bahia ou o ciclone em Santa Catarina.
Luis Gonçalves é líder da Dell Technologies para a América Latina