Opinião

Mudanças climáticas: Passou da hora de inovar e investir no arcabouço da prevenção

Por Ricardo Freitas*

O impacto das mudanças climáticas lança uma pressão sem precedentes sobre a necessidade de desenvolver e aprimorar o arcabouço da prevenção. É preciso agir rápido, investir e, sobretudo, ter responsabilidade com vidas. O vasto conhecimento científico disponível não pode ser ignorado.  E, planejamento urbano sustentável e inovação tecnológica são fundamentais neste processo.

Dentre os vários efeitos das mudanças climáticas, os relacionados com as águas estão no topo das preocupações. Há amplo entendimento sobre a hidrologia, a dinâmica e o estudo do ciclo da água, o comportamento dos rios, marés, elevação do nível dos oceanos e precipitações.

De forma simplista, a fim de demonstrar um princípio cabal, para o arcabouço da prevenção, seria regra primordial de planejamento urbano e de preservação de vidas, retirar populações do caminho das águas. Trata-se de mudança de paradigma se considerarmos que cidades inteiras, vilas e povoados foram assentados ao longo do traçado de rios e cursos d´água, para abastecimento, navegação e a pesca. A estratégia vale para horizontes de médio e longo prazo. No curto prazo, ou seja, em emergências, é preciso equacionar e viabilizar o deslocamento de contingentes em situação de risco.

Na perspectiva de aumento da frequência das cheias, adotar uma tábua das enchentes faria todo o sentido, a exemplo da tábua das marés. A tecnologia e a inovação podem colaborar por meio da instalação de equipamentos IOT (Internet das coisas) com sensores em áreas vulneráveis, informando em tempo real o nível das águas, a velocidade da elevação e de deslocamento das massas líquidas. Para complementar a eficácia de dados de satélites, drones podem operar com sensores especialmente desenvolvidos para detecção de chuvas intensas.

A Inteligência Artificial e Big Datas devem ser empregados em sistemas de alerta precoce, com o desenvolvimento de aplicativos e plataformas de comunicação focados em antecipar à população a possibilidade de riscos iminentes. As novas tecnologias, com velocidade e a capacidade para trabalhar com grandes volumes de dados, podem prever eventos extremos e auxiliar no planejamento de respostas adequadas.


Dados de pluviometria, altitude, relevo, direção e velocidade das correntes, áreas propensas a alagamentos com necessidade de evacuação, quantitativos populacionais, rotas de fuga, infraestrutura de resgate e abrigos devem estar numa mesma plataforma, capaz de oferecer informações e cenários com precisão.

Grande parte deste arcabouço, integrado ou não, já existe. No entanto, alertas ainda são ignorados. A inovação deve trazer confiabilidade e consistirá na adoção de novos parâmetros para a gestão de dados, que deve funcionar em sistema de governança.  Qualquer que seja a agência ou o órgão controlador deste sistema, de reputação e abrangência nacional, a sociedade deve ter acesso e participar do controle. A responsabilização de gestores é fator que contribui para a confiança em um sistema de alerta e prevenção.

O novo sistema de prevenção deve suplantar eventuais divergências de interpretações locais ou regionais. A integração de sistemas de dados, o compartilhamento e a consistência de informações de interesse da prevenção precisam alcançar um novo patamar e devem estar numa mesma plataforma. Mas, principalmente, de maneira que o conjunto da sociedade tenha acesso, confie e respeite. Naturalmente, o processo abarca o fortalecimento da Defesa Civil e de todos os órgãos relacionados, na União, no estado e no município.

A valorização do conhecimento científico e a inovação tecnológica são vitais em projetos para a prevenção aos efeitos das mudanças climáticas. Soluções requerem colaboração entre governos, sociedade e a comunidade científica, com abordagens técnicas, políticas públicas e controle social. É preciso construir um futuro mais resiliente e seguro para nossas cidades.

* Ricardo Freitas é especialista em inovação e tecnologia com formação e XBA pela Hebrew University Jerusalém

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