
Dados do Anuário Brasileiro da Segurança Pública (em PDF) mostram uma redução de 12,6% nos registros de roubos e furtos de celulares no país em relação a 2023, com destaque para o Piauí, onde a queda chegou a 29,7% graças a um programa pioneiro de recuperação de aparelhos. No entanto, a eficácia das polícias em devolver os dispositivos aos donos ainda é baixa: apenas um a cada 12 celulares subtraídos é recuperado, e a reintegração às vítimas enfrenta entraves burocráticos.
“Os roubos e furtos de celular deixaram de ser uma atividade isolada e, como o Anuário indica em suas tabelas e outras análises, passou a ter escala quase industrial, com logísticas de transporte e redes de receptação distribuídas estrategicamente nos principais pontos onde os criminosos operam. Uma vez com o aparelho celular em mãos, rapidamente os criminosos responsáveis pelos roubos e furtos se desfazem do equipamento e os entregam a receptadores, quase que todos associados ou integrantes de organizações criminosas como o PCC”, aponta o relatório.
Além disso, se cerca de 8% dos aparelhos celulares roubados conseguem ser recuperados pelas forças policiais e de segurança pública, “outro dado inédito mostra que, ao que tudo indica, ainda há um longo processo de integração de procedimentos e sistemas para que tais dispositivos consigam ser, efetivamente, devolvidos aos seus proprietários, incluindo a integração de bases com operadoras, Anatel e outros órgãos públicos que não apenas aqueles do sistema de segurança pública”.
Segundo o Anuário, entre 2018 e 2024, a média anual de ocorrências ficou em torno de 1 milhão, com quedas acentuadas durante a pandemia (2020-2021) devido ao isolamento social. O aumento de 15,3% em 2022, porém, revelou que a redução anterior estava mais ligada à menor circulação de pessoas do que a ações efetivas do Estado.

Outra mudança significativa foi a inversão na proporção entre furtos (56% em 2024) e roubos (44%), sugerindo menor uso de violência. Apesar disso, especialistas alertam para subnotificações em casos que evoluíram para latrocínios (roubo seguido de morte), ainda que esses crimes também tenham diminuído.
A maior parte dos casos (59,9%) acontece em vias públicas, sendo 79,6% dos roubos e 43,7% dos furtos, que tendem a se distribuir entre outros tipos de local, como estabelecimentos comerciais (14,6%), residências (12,8%) e transporte público ou privado (11%).
Quanto às marcas dos aparelhos subtraídos, em primeiro lugar aparece a Samsung, com 37,5%. A proporção é compatível com a participação da marca no mercado nacional, que era de 38% em fevereiro de 2024 . A segunda marca com maior número de celulares subtraídos foi a Apple (24,3%), que possui apenas 10% de participação no mercado brasileiro. Em seguida, vêm a Motorola, que representou 22,7% dos celulares subtraídos no último ano, e a Xiaomi, com 12,2%. Outras marcas corresponderam a 3,2% dos celulares roubados e furtados no último ano.
Apenas 15 estados forneceram dados sobre celulares recuperados em 2024: 35.666 aparelhos, queda de 2,2% ante 2023. Desses, só 19.756 foram devolvidos aos donos — redução de 8,9%. Santa Catarina (alta de 132,6% na recuperação) e Acre (+67,9%) se destacaram positivamente, enquanto o Pará teve o pior desempenho: apenas 1 celular recuperado para cada 65 roubados.
Os melhores resultados vieram de estados com políticas dedicadas, como Piauí (1 recuperado para cada 2,7 subtraídos) e Pernambuco (1 para 4,7). Já São Paulo e Santa Catarina, sem programas estruturados, tiveram quedas nas devoluções (4,8% e 57,3%, respectivamente).
O estado de São Paulo responde, sozinho, por 31,4% de todos os aparelhos celulares roubados e furtados em 2024. E a sua capital, por 18,5%, embora concentre 5,6% da população nacional.
Homens são 59,1% das vítimas de roubos, enquanto furtos têm divisão equilibrada entre gêneros. Negros representam 63,1% dos roubados, e a faixa etária mais afetada é de 20 a 39 anos. Grandes cidades concentram o problema: São Luís (MA), Belém (PA) e São Paulo (SP) lideram as taxas, e a capital paulista responde sozinha por 18,5% dos casos nacionais. Após o roubo, os aparelhos seguem redes criminosas organizadas. Parte é usada em golpes bancários; outra, desmontada para venda de peças no mercado informal ou exportada — principalmente para África e Ásia, onde o IMEI (identificador do aparelho) não é rastreado.
