5G exige que governos acordem para a economia digital
Especialistas da indústria latinoamericana de Tecnologia da Informação e Comunicações se reuniram nesta terça-feira, 6/12, para a 2ª edição do Tech Forum Latam, realizada em Brasília. Durante a abertura do evento, representantes das iniciativas públicas e privadas do Brasil, Chile e Colômbia falaram sobre regulamentação e o desenvolvimento do setor na região, e foram unânimes: é necessário ter uma visão unificada para avançar – em 5G, em conectividade, em inclusão digital. Seja em nível nacional, seja regionalmente, é preciso trocar ideias, ouvir a indústria e pensar em políticas que congreguem todos os agentes com um objetivo único.
Para os representantes do setor presentes ao debate, falta ao Brasil um trabalho de coordenação em relação a regulamentação. “É preciso trabalhar com todo o ecossistema digital para aproveitar todas as oportunidades que ele traz para o país. É preciso uma visão completa do ecossistema para garantir que a sociedade possa aproveitar todos os benefícios”, avalia Atilio Ruilli, vice-presidente de relações públicas da Huawei América Latina e Caribe. “Falta uma visão de nação digital ao Brasil. Uma visão de como fazer uma transformação digital única e não fragmentada. O país vem avançando, mas precisa ter uma visão uníssona para seguir em frente”, observa.
O presidente da Anatel, Carlos Baigorri, elogiou a velocidade de implementação do 5G no Brasil. “Estamos muito bem nas primeiras fases de implementação, em todas as capitais brasileiras. Em janeiro, começa a adoção nas cidades com mais de 500 mil habitantes e nas regiões próximas a essas cidades”, avaliou. Mas ele também insistiu que o digital exige um reposicionamento do poder público.
“Entendo necessário ter uma visão única de um Brasil digital, que congregue todos os agentes de Estado envolvidos para uma diretriz única. A Anatel está à disposição, apta e posicionada para colaborar com essa visão. E queremos reforçar ao governo da Colômbia que estamos à disposição para apresentar o que aprendemos, o que erramos no leilão do 5G. E deixas as portas abertas para colaborar para o desenvolvimento do 5G em um crescimento conjunto da América Latina”, afirmou Baigorri.
José Bicalho, diretor de Regulação e Autorregulação Conexis Brasil Digital, destacou o momento atravessado atualmente pelo Brasil, que exige que a regulamentação acompanhe a inovação. “Os modelos de regulação terão de ser mais principiológicas e menos intrusivos, passando por modelos de autorregulação e corregulação”, avaliou, acrescentando que o país está muito bem posicionado para participar ativamente desse processo. “Nos últimos anos todos os atores têm desenvolvido muitas competências importantes para o processo. A Anatel precisa, dentro da questão da regulação de plataformas, fazer o equilíbrio entre as empresas de telecom e as OTTs, precisa pensar a questão da simetria das prestadoras de pequeno porte”, disse.
“É preciso uma visão unificada. Uma iniciativa em que países compartam suas iniciativas para que se aproveitem as boas práticas. O 5G traz oportunidade de desenvolvimento, mas demanda avanços regulatórios, especialmente junto à indústria. Os reguladores precisam escutar a opinião da indústria”, afirma Guillermo Sepúlveda, especialista da Divisão de Estudos e Política Regulatória da Subsecretaria de Telecomunicações do Chile. Ele comenta que o país já conta com 5G há cerca de um ano. Segundo Sepúlveda, houve desafios técnicos para operadoras que atuam em zonas mais extremas. Além disso, questões regulatórias dificultam que operadoras entreguem serviços diferenciados. No entanto, ele afirma que portos, aeroportos e infraestruturas de saúde e educação estão cobertos pela 5G. “Universidades implementaram centros de desenvolvimento para mineração, educação e outras industrias estratégicas para a economia chilena”, contou.
Na visão de Alfonso Gómez Palacio, CEO da Telefónica Hispam na Colômbia, 5G é uma tecnologia que requer fibra para que tenha serviços que melhorem a produtividade. Temos projetos em Chile, Argentina e Peru e seguimos avançando para oferecer fibra em outros países, como fazemos no Chile atualmente. Gómez acredita que é preciso trabalhar de forma inclusiva. “Será gerado um enorme volume de demandas não apenas para as operadoras, mas para toda a indústria. Vai haver uma série de atores trabalhando em conjunto para entregar serviços capazes de transformar a sociedade. “O desafio tem a ver com sustentabilidade financeira, econômica e com o desenvolvimento do ecossistema. É importante fazer trabalhos com universidades para apoiar a transformação que o 5G vai proporcionar.”
O executivo da Telefónica destaca a importância da governança da internet para garantir a transparência das redes sociais. “O Brasil tem um papel importante e temos que nos posicionar sobre a privacidade dos dados. É fundamental nos posicionarmos sobre a governança da internet”, diz.
Na Colômbia, de acordo com Paola Bonilla Castaño, diretora-executiva da Comissão de Regulação das Comunicações, e Sandra Urrutia, Ministra de Tecnologias de Informação e Comunicações (MinTIC), o desafio ainda é garantir uma maior penetração da internet entre a população. A meta, segundo a Ministra, é chegar a 85% das pessoas conectadas e, mais do que apenas levar a infraestrutura, a proposta é garantir que a internet seja usada para aumentar a produtividade. “Nosso governo trabalha para reforçar o bem-estar do cidadão, e isso passa por fomentar o fortalecimento da indústria de TIC”, afirmou Sandra. A Ministra afirma que a Colômbia analisa as boas práticas dos demais países da América Latina em relação ao 5G, mas explica que, embora já tenha as condições para adotar a nova tecnologia, por enquanto, o foco está em renovar 70% do espectro para conseguir atingir a meta de aumento da inclusão digital.
Talentos
Outra unanimidade é a necessidade de mão-de-obra capacitada para acelerar a adoção do 5G. Ruilli, da Huawei, citou o gap de 2,5 milhões de postos de trabalho não atendidos, de acordo com projeções da IDC, e lembrou que, embora muitos comentem que a demanda por especialistas em fibra deva diminuir, o que se vê é outra realidade. Segundo o executivo, parceiros da Huawei possuem milhares de vagas abertas para esse segmento. Ruilli cita o Programa Tech for All da Huawei, que capacita desde pessoas que atualmente não trabalham nem estudam, até profissionais que atuam com tecnologias mais avançadas, como IA, machine learning e analytics.”O governo tem o seu papel, mas a iniciativa privada tem o papel complementar. É uma demanda do governo, da iniciativa privada e da sociedade”, afirma.
Sepúlveda, da Subsecretaria de Telecomunicações do Chile, alerta que é preciso ter atenção ao limbo que se cria de profissionais que tem pouca especialização. “Isso pode gerar um impacto social negativo. É importante ter iniciativas para que essas pessoas se incorporem às novas demandas. Por isso muitas parcerias com instituições de educação e desenvolvimento social devem ser realizadas.”