IA, digital e cobre: Telefónica diz que Vivo tem papel-chave em novo plano global
"Brasil e fundamental para nosso crescimento global", afirmou o CEO Marc Murtra. Empresa vai sair de todos os demais países da América Latina.

A Telefónica apresentou nesta terça, 4/11, seu novo plano estratégico global, “Transformar e Crescer”, que vai orientar as ações do grupo entre 2026 e 2030 com foco em eficiência, inovação tecnológica e crescimento sustentável. Segundo o presidente global da empresa, Marc Murtra, o plano reforça o papel do Brasil como eixo estratégico da companhia, ao lado de Espanha, Alemanha e Reino Unido, e detalha medidas para simplificar operações, reduzir custos e acelerar a digitalização.
Durante a apresentação, Murtra destacou que a Telefónica “precisa se transformar para crescer” e que a subsidiária Vivo, no Brasil, é peça-chave para essa expansão, tanto pelo tamanho do mercado quanto pela capacidade de adoção de novas tecnologias e serviços digitais.
“O Brasil é o maior mercado da América Latina, com o maior PIB da região e altas taxas de expansão. O setor móvel está consolidado e o país representa um eixo fundamental para o nosso crescimento global”, afirmou o executivo.
O diretor de operações (COO) da Telefónica, Emilio Rodríguez, detalhou que o Brasil será protagonista na aplicação das alavancas de eficiência que sustentam o novo plano, especialmente nas áreas de rede, digitalização e atendimento ao cliente.
“Os mecanismos que analisamos envolvem diferentes tipos de alavancas para os números. Há uma alavanca importante que é o desligamento da rede de cobre, o que significa economias. Uma das economias, assim como em outras operações, é a redução de custos em rede e operações devido ao uso de tecnologia”, explicou Rodríguez.
Segundo o executivo, a empresa aposta em arquiteturas de rede virtualizadas, que reduzem o uso de equipamentos físicos e tornam a operação mais flexível. Além disso, a digitalização das relações com clientes e o uso de inteligência artificial no atendimento estão entre as principais fontes de economia e eficiência.
“A nova arquitetura de rede e a arquitetura virtualizada permitem economias por meio do menor uso de equipamentos, através da virtualização ou de uma melhor estratégia de gestão. Outra linha de economia tem a ver com a digitalização e as relações com os clientes, gerando economias também no Brasil. Nesse campo, usamos IA para que agentes atendam os clientes e, assim como em outras partes da empresa, simplificamos os processos operacionais e utilizamos tecnologia para processos internos”, completou Rodríguez.
Essas iniciativas fazem parte de um conjunto de medidas que visam reduzir em até 25% os custos operacionais até 2027 e gerar economias anuais de até €2 bilhões até 2030, segundo estimativas do grupo.
O plano também prevê uma profunda reestruturação do centro corporativo e das unidades de negócio. A Telefónica pretende simplificar o modelo operacional, concedendo maior autonomia às operações locais — o que inclui o Brasil — e acelerar a tomada de decisões.
Murtra reforçou que a fragmentação do mercado europeu, com 38 operadoras, deixa a região em situação desfavorável em comparação com outros países, notadamente EUA e China, cada um com três grandes teles (assim como o Brasil), e ao mesmo tempo disponibilidades muito superiores de 5G standalone (pelo menos 22%), enquanto na Europa não passa de 2%.
O plano não aponta consolidações específicas, mas segundo o CEO, estimativas de mercado indicam que fusões entre operadoras europeias possam gerar sinergias de até €22 bilhões. “A Europa precisa de campeões industriais em telecomunicações.”
“Estamos sempre em conversas em todos os nossos principais mercados. Se houver uma oportunidade relevante, analisaremos formas de financiá-la, inclusive com eventual ampliação de capital”, emendou.
O plano prevê investimentos de €55 bilhões em redes e tecnologia nos próximos quatro anos, com foco em fibra óptica, 5G, computação em nuvem e IA. A meta é garantir um crescimento médio anual de 1,5% a 2,5% até 2028, acelerando para até 3,5% entre 2028 e 2030, enquanto os custos são reduzidos por meio de automação e venda de ativos.
A empresa também anunciou a redução de dividendos — mantidos em €0,30 por ação em 2025 e cortados pela metade em 2026 — medida que provocou queda de quase 10% nas ações no dia do anúncio.
Nos nove primeiros meses de 2025, a Telefónica registrou prejuízo de €1,08 bilhão, afetada pela venda de operações na América Latina. Desconsiderando esses efeitos, o lucro seria de €828 milhões, 46% inferior ao do mesmo período de 2024. A receita totalizou €26,9 bilhões, queda de 2,8%, mas o Brasil e a Espanha compensaram parte das perdas em outros mercados.





