Setor elétrico quer redes próprias de telecom na evolução do smart grid
As redes inteligentes de energia elétrica já são uma realidade do setor, ainda que não pareça evidente ao consumidor residencial. Mas na indústria que consome alta tensão e em estruturas críticas das redes de eletricidade, o smart grid avança na automação de equipamentos e em sistemas de telecomunicações dedicados. E os planos são de intensificar a digitalização, inclusive para os consumidores de baixa tensão.
“O smart grid vem decolando. Tem uma série de investimentos, que acontecem em camadas, na automação de rede, qualidade da energia para o cliente, medição inteligente na última milha”, aponta o superintendente de smart grids da Neoenergia, Ricardo Robles Leite, em entrevista exclusiva à CDTV, do portal Convergência Digital.
Ele detalha que “em automação de rede, a Neoenergia já investiu em mais de 13 mil equipamentos religadores, que fazem a composição da rede, e 17% deles já fazem o ‘self healing’, a reconfiguração. Então no caso de falta de energia em determinado ponto da rede, esse equipamento se reconfigura e isola apenas o trecho com defeito e reenergiza os demais equipamentos”.
Outro exemplo, explica Leite, é o centro de gerenciamento de redes inteligentes, ou Cegri. “Esse centro opera mais de 75 mil componentes da rede espalhados em todo o Brasil. Ele monitora todos os pontos de comunicação, equipamentos inteligentes e toda a arquitetura da rede. Então para a gente o smart grid já chegou Mas isso acontece em camadas.”
Na ponta dos clientes de baixa tensão, residenciais, comerciais e de governo, esse é um movimento mais complexo, seja pelo alto custo, pois envolve milhões de unidades consumidoras, além da garantia de que os equipamentos terão sobrevida tecnológica.
“No caso da medição, que é a última milha, já temos medidores inteligentes nos clientes de alta tensão. A parte dos clientes de baixa tensão exige um investimento prudente. Esse cliente vai ser atendido por um medidor inteligente, que permite monitoramento remoto, mas é o ponto mais complexo. O investimento é elevado e tem aspectos que ainda exigem definição tecnológica, protocolos de comunicação, porque não dá para investir e dois ou três anos depois precisar fazer um reinvestimento”, diz o superintendente da Neoenergia.
O grupo já tem um piloto em curso, como forma de aprender sobre o impacto de um smart grid completo. Afinal, aponta Leite, é uma modernização que redefine o próprio serviço de distribuição de energia.
“Temos o projeto Energia para o Futuro, em Atibaia (SP) onde a gente decidiu implantar smart grid em 100% dos clientes. São mais de 75 mil clientes com medição inteligente, automação de rede, além de uma rede de telecom própria, em 4G, em parceria com a Nokia. E estamos experimentando esse cenário. São etapas de um ecossistema que precisam evoluir. Tem o aspecto que envolve a Aneel, que já reconhece investimentos prudentes, aqueles que trazem redução de perdas e até benefícios na tarifa para o consumidor. Mas a gente precisa avançar passo a passo.”
Telecom
Leite explica que as redes privativas de telecom se tornaram fundamentais para o setor elétrico. “A Anatel vem discutindo o uso de novas frequências com as distribuidoras. Mas existe uma evolução tecnológica necessária. No contexto de uma implantação massiva, precisamos ter equipamentos interoperáveis, licenciamentos de frequências de comunicação, uma evolução para que isso se alinhe de forma a deixar cada vez mais viável técnica e economicamente. Temos a preocupação com o peso na tarifa, quanto isso vai custar para o consumidor final, mas é uma evolução gradual do mercado e da regulação.”
O projeto experimental usa banda média, mas o principal interesse é migrar para a faixa de 410 MHz. “Em Atibaia a gente usa 3,5 GHz, de forma experimental, e depois vamos mudar para outra faixa. Nosso interesse é usar faixa de 410 MHz, para termos maior alcance nas comunicações. E a discussão principal com a Anatel é sobre as frequências que podemos usar nas redes particulares das distribuidoras. O 4G atende muito bem, com excelente nível de atendimento em serviços críticos e medição”, diz o superintendente de smart grids.
O uso de rede privativas é importante especialmente nas áreas de missão crítica. “A gente utiliza rede pública em alguns serviços, mas para serviços críticos a gente entende que caminha para uma rede própria, seja LTE, seja fibra óptica, ou rádio. Para serviços não críticos pode ser rede pública, como baixa de ordens de serviços em tablets, para medição de clientes. E para a gente é indiferente o G. Temos aplicações em 3G e 4G, e o 5G é uma evolução natural. O ponto é como a tecnologia vai avançar. Com o mercado avançando para 5G, a gente tende a ter mais ofertas de fornecedores nessa tecnologia. Mas isso ainda está muito no longo prazo e depende de como as tecnologias voltadas para o setor elétrico vão avançar.”