Por uma estratégia nacional para Inteligência Artificial
Estamos vivendo aqueles raros momentos da história em que a base tecnológica já desenvolvida está acelerando de uma forma tão incrível, que quem ficar para trás perderá qualquer chance de crescer e prosperar, seja como indivíduo, empresa ou nação.
Nos últimos dois anos, diversos países anunciaram e já estão avançando em estratégias nacionais para o desenvolvimento e uso de Inteligência Artificial (IA). Não é para menos, já que sistemas de IA adotados ou impulsionados por governos são o principal motor da economia digital e podem contribuir para a democratização e aprimoramento de serviços públicos, individualização da educação, combate à corrupção, ao tráfico de drogas, de armas, além de reduzir ineficiências na saúde, no campo e nas cidades.
No Brasil, o assunto tem grande potencial de ganhar tração ao longo dos próximos meses. Recentemente, o MCTIC (Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações) anunciou uma parceria com a UNESCO para começarmos a rascunhar um plano integrado de Inteligência Artificial.
Como o tema é complexo e exige uma boa dose de debate e reflexão, antes de ser incorporado às prioridades de um país, elaborei dez rápidos pontos que deveriam ser considerados no processo de construção de uma estratégia que estimule o Brasil a se destacar na corrida pelo desenvolvimento e adoção de IA de forma ética e humana:
Apoiar o desenvolvimento de habilidades digitais, capacitando estudantes e profissionais a perceberem as oportunidades econômicas que a Inteligência Artificial já está trazendo para todos nós.
Promover o desenvolvimento de aplicações que resolvam os problemas mais críticos da sociedade e, ao mesmo tempo, diminuam as desigualdades e ampliem o rol de oportunidades econômicas para todos;
Estimular o uso de plataformas de experimentação que reúnam várias partes interessadas, como comunidades, indústrias, academia e governos, para testar a Inteligência Artificial de impacto social;
Ampliar mecanismos de financiamento de pesquisas que priorizem a colaboração entre humanos e máquinas;
Criar grupos de especialistas interessados em desenvolver aplicações de Inteligência Artificial de forma responsável;
Disponibilizar bolsas e intercâmbios de pesquisadores e desenvolvedores dispostos a treinar a IA para identificar e mitigar possíveis fontes de viés nos dados sendo analisados;
Abrir os dados do governo, respeitando as regras de privacidade e confidencialidade. Nota: Se quisermos aplicações que contribuam verdadeiramente no endereçamento de problemas mais críticos da nossa sociedade, é preciso acabar com a velha (e desatualizada) máxima de que informação é poder e passar a considerar e entender que no século XXI, o poder vem, na realidade, do compartilhamento dessas informações;
Adotar padrões globais de segurança, explicabilidade, equidade e transparência, assim como reconhecer e diferenciar as empresas que aplicam tais padrões nos seus desenvolvimentos tecnológicos;
Investir em pesquisas básicas e aplicadas, na atração dos melhores cérebros do Brasil e do mundo e, de uma vez por todas, na estruturação de um instituto de propriedade intelectual ágil e pronto para estimular o desenvolvimento de tecnologia também no país;
Por fim, todos os níveis de governo devem, sim, investir nas melhores plataformas disponíveis no mercado, de forma a estimular um processo de tomada de decisões mais inteligente para que possam alocar melhor nossos recursos, priorizar ações, integrar sistemas e, principalmente, contribuir para a construção de uma nação mais digital e menos desigual.
*Fábio Rua é Diretor da ABES (Associação Brasileira das Empresas de Software) e co-fundador do Movimento Brasil, País Digital