Opinião

O que vai ser do Open Banking no Brasil?

No início de maio, o Conselho Monetário Nacional (CMN) e o Banco Central (Bacen) aprovaram as regras de funcionamento do Open Banking no país, instituindo uma implementação gradual do sistema, que será dividido em quatro fases, com início no dia 30 de novembro de 2020 e término em outubro de 2021. Mas o que vai ser o Open Banking?

Este sistema permitirá o compartilhamento de dados dos clientes, desde que haja autorização, e serviços entre instituições financeiras regulamentadas, que estejam participando da iniciativa. O compartilhamento ocorrerá por meio de APIs, que permitem a integração dos sistemas com segurança, facilitando o intercâmbio de informações. A principal premissa do Open Banking é que o cliente é o titular dos seus dados pessoais, não os bancos, dando mais poder de decisão aos usuários.

Caberá ao consumidor a decisão de autorizar ou não compartilhar seus dados, além de ter mais liberdade para  buscar serviços mais adequados ao seu perfil e com custo menor. O objetivo do Banco Central é aumentar a competitividade no sistema financeiro, estimulando a entrada de mais fintechs que possam oferecer produtos que, hoje, são majoritariamente fornecidos por bancos tradicionais, além de outros novos, incentivando a inovação no setor.

Participantes e regulação

A participação de grandes e médios bancos será obrigatória, enquanto demais agentes do mercado autorizados a funcionar pelo Bacen, como fintechs, terão entrada optativa. Mas, uma vez no sistema, todos precisarão compartilhar dados e ter registro no repositório de participantes.


O Open Banking terá uma parte regulada, determinada pelo Bacen, com disposições sobre requisitos e responsabilidades para compartilhamento, contratação de terceiros, escopo mínimo de dados e serviços, entre outros. Já a outra parte será autorregulada, na qual os próprios participantes definirão as regras, a maioria relacionada a padrões tecnológicos, procedimentos operacionais, estrutura de governança, ressarcimento entre membros etc.

Open Banking e LGPD

O Banco Central já definiu a escolha da base legal para o compartilhamento de dados: o consentimento – adotando definições LGPD – bem como as práticas vedadas, como contrato de adesão e formulário de aceite. O consentimento deve ser livre e limitado a 12 meses, mas poderá ser revogado pelo cliente (titular dos dados) a qualquer momento.

Ainda assim, é importante ressaltar que, mesmo encerrando o compartilhamento de informações, as instituições participantes ainda estarão autorizadas a conservá-las para o cumprimento de obrigações legais ou regulatórias.

Proteção dos dados dos clientes

Para garantir a segurança dos dados, cada instituição participante precisará implementar mecanismos de acompanhamento e controle para assegurar o cumprimento de regras específicas de responsabilização, em casos de quebra de confiabilidade, e terá suas políticas de segurança cibernética vigentes analisadas, para conferir se estão adequadas.

O Banco Central também estipulou etapas antes de autorizar o compartilhamento de informações, que seriam: consentimento, autenticação e confirmação pelos clientes. Desta forma, fica mais fácil fazer a identificação do usuário e assegurar se as informações são confiáveis.

As 4 fases de implementação do Open Banking

Na primeira fase, as instituições participantes devem disponibilizar informações sobre canais de atendimento e produtos e serviços que oferecem, relacionados com contas de depósito à vista ou poupança, contas de pagamento e operações de crédito. Terceiros poderão consultar as informações e comparar.

A segunda fase consiste no compartilhamento de dados de cadastro e de transações relativas a produtos e serviços divulgados na 1ª fase, que foram feitas por clientes e representantes. Só serão compartilhadas as informações que tiverem a autorização de cada usuário para tal. A princípio, esta fase deve ser finalizada até maio de 2021.

Na terceira fase, será compartilhado o serviço de iniciação de transação de pagamentos entre instituições participantes, com encaminhamento de propostas de operações de crédito. Prevista para acontecer até agosto de 2021.

Já a quarta e última fase, será a expansão dos serviços para incluir dados de transações de operações de câmbio, investimentos, seguros e previdência complementar aberta, que passarão a ser acessados pelos usuários e pelas instituições participantes. A previsão para o fim deste processo é outubro de 2021.

De acordo com o Banco Central, este projeto será muito importante para a competitividade do setor e terá uma abrangência ambiciosa, bem grande, se comparado a outras iniciativas de Open Banking no exterior. Uma das suas principais consequências será o aumento da liberdade e autonomia do consumidor de serviços financeiros, que terá mais poder sobre seus dados, usufruindo de diversos benefícios, como realizar movimentações sem estar preso ao próprio banco.

Segundo o Diretor de Organização do Sistema Financeiro e de Resolução, João Manoel Pinho de Mello, apesar da pandemia do coronavírus, o projeto é prioritário para o Bacen e os trabalhos para sua implementação já estão em curso há algum tempo, o que justificaria os prazos.

 *Renan Barcelos é Gerente de Segurança da Informação da RTM

 

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