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Telecom

Operadoras, abracem a análise de rede. Ela fará toda a diferença na sua competitividade

Maximizar o retorno do investimento; melhorar o desempenho da rede e a experiência do cliente; reduzir o consumo de energia para diminuir custos e melhorar o meio ambiente; identificar e eliminar quaisquer ameaças de segurança na rede; reduzir os custos operacionais sem afetar o desempenho do serviço; e gerenciar a natureza cada vez mais complexa da rede.

Esses são alguns dos motivos pelos quais as prestadoras de serviços de telecomunicações têm recorrido a ferramentas de análise de suas redes, de acordo com Adaora Okeleke, analista principal da Omdia, líder global de pesquisas sobre o ecossistema de tecnologia, resultante da unificação das marcas Ovum, IHS Markit Technology, Tractica e Heavy Reading.

Em entrevista ao Convergência Digital, a especialista explica quais têm sido as principais ferramentas utilizadas pelas telcos e enfatiza que analisar os dados provenientes das redes incrementa a competitividade.

Convergência Digital – Como as operadoras de telecomunicações estão coletando dados da rede e analisando-os para melhorar o desempenho, a confiabilidade ou a segurança?

Adaora Okeleke, Omdia – As prestadoras de serviços de telecomunicações (CSPs, na sigla em inglês para communications service providers) coletam dados de várias maneiras. Entre elas, com o uso de network probes, que são dispositivos implantados na rede para recuperar dados e enviá-los de volta para monitoramento ou sistemas analíticos para análise. Eles usam vários tipos de protocolo, como SNMP (Simple Network Management Protocol) ou outros protocolos de internet, como TCP e HTTP, para recuperar dados por meio de sondagem de dispositivos de rede.


Outra maneira é o teste de direção, que envolve o uso de um veículo motorizado contendo equipamento de medição de interface aérea da rede móvel, para detectar e registrar uma ampla variedade de parâmetros físicos e virtuais do serviço celular móvel em uma determinada área geográfica. Os dados coletados durante o processo de teste da unidade são então analisados pelo CSP para determinar quais mudanças precisam ser feitas na rede para fornecer melhor cobertura e capacidade. A desvantagem de usar essa abordagem de coleta de dados é que ela não suporta análises em tempo real.

Outros mecanismos incluem a obtenção de dados de medição de qualidade (QoS, quality of service), relacionados à aplicação ou ao serviço, diretamente de diferentes usuários finais. Esta abordagem deve, no entanto, seguir a legislação nacional de proteção de dados, garantindo que nenhum dado pessoal seja mal tratado. Os CSPs também estão implantando big data lakes para coletar e armazenar dados obtidos da rede usando qualquer um dos métodos já mencionados. Os dados podem ser acessados para fluxos de trabalho de análise quando necessário.

A partir da captura, como as operadoras procedem?

Assim que os dados são coletados, eles são processados e analisados imediatamente (para casos de uso em tempo real) ou armazenados para fins futuros. A etapa de processamento abrange a filtragem e a preparação dos dados. Isso é necessário porque os dados brutos, muitas vezes, não são adequados para análise; por exemplo, eles podem não estar no formato pronto ou precisarem ser limpos para garantir que os resultados obtidos não distorçam os insights gerados a partir da análise.

Depois de processados, os dados vão alimentar diretamente as ferramentas analíticas para, por exemplo, monitorar o desempenho da rede quanto a anomalias no comportamento. Os eventos de interesse precisam ser estabelecidos pelos engenheiros e os KPIs (key performance indicators) relevantes definidos e rastreados. Se um CSP está procurando detectar degradação no desempenho do serviço de vídeo, o adequado é definir e rastrear como KPIs longos tempos de buffering, estabelecendo-se um limite que, uma vez ultrapassado, alerte o CSP via uma mensagem.

Com as ferramentas de análise de rede, vários conjuntos de dados precisam ser rastreados e correlacionados para determinar não apenas quando um evento ocorreu, mas também as causas básicas e como elas podem ser resolvidas. A automação dá um passo adiante na conclusão do ciclo, mas a execução de quaisquer medidas de remediação para resolver o problema para a rede e a qualidade do serviço são mantidas para que os clientes recebam uma melhor qualidade de experiência.

Há quanto tempo as operadoras vêm analisando suas redes? E qual é o estágio atual de adoção de análise de rede em todo o mundo?

Os CSPs vêm usando essas ferramentas há muito tempo. No entanto, a maneira como eles utilizam tem evoluído ao longo do tempo. A lista abaixo mostra essa evolução:

· Análise descritiva: para entender o desempenho da rede
· Análise de diagnóstico: para determinar a causa raiz de qualquer evento de interesse que ocorre na rede
· Análise preditiva: analisa o desempenho da rede – no passado e no presente – para determinar o que pode ser bom no futuro
· Análise prescritiva: identifica ações para resolver os problemas encontrados na rede

A maioria das ferramentas analíticas ainda está nos níveis descritivos e de diagnóstico, e as mais avançadas fornecem recursos preditivos e prescritivos. Um dos maiores motivadores para a análise de rede é permitir que os CSPs gerem uma experiência de cliente consistentemente boa.

Para atingir esse objetivo, os CSPs querem ferramentas que os ajudem a se tornarem mais proativos e eficientes na operação de suas redes. No entanto, eles precisam sair da etapa de apenas identificar quando um evento ocorre e investigar a causa raiz para o patamar de prever se um problema ocorrerá, tomar medidas e decisões na rede para resolvê-lo ou habilitar rapidamente uma função para que a experiência do cliente seja entregue de forma consistente.

É aqui que vemos a evolução das ferramentas de análise, usando tecnologias de inteligência artificial (IA) para obter previsões e análises prescritivas. Dada a crescente quantidade de dados na rede, os CSPs não podem contar apenas com as pessoas para identificar e resolver rapidamente todos os possíveis problemas. Eles precisam aumentar as habilidades da força de trabalho com inteligência de máquina para determinar e resolver problemas. As máquinas, no entanto, dependerão de dados para replicar o aprendizado e o raciocínio dos humanos. É nessa direção que o desenvolvimento está indo, e estamos apenas nos primeiros dias.

Qual é o principal objetivo das operadoras para analisar suas redes?

Existem vários motivos para os CSPs analisarem sua rede, tais como maximizar o retorno do investimento; melhorar o desempenho da rede e a experiência do cliente; reduzir o consumo de energia para diminuir custos e melhorar o meio ambiente; identificar e eliminar quaisquer ameaças de segurança na rede; reduzir os custos operacionais sem afetar o desempenho do serviço; e gerenciar a natureza cada vez mais complexa da rede.

Quais são os casos de uso mais comuns e os mais impressionantes que você pode apontar?

O uso mais comum de ferramentas de análise é para o monitoramento do desempenho do serviço e da rede. Isso pode ser alcançado monitorando-se e relatando-se KPIs e KQIs (key quality indicators) da rede. Os CSPs precisam garantir o desempenho dos serviços prestados aos clientes e, portanto, o monitoramento constante da rede torna-se crítico. A Covid-19, por exemplo, levou a uma alta demanda nos CSPs para fornecer serviços de alta qualidade devido ao aumento do uso de serviços de dados.

Já sobre casos de uso impressionantes, aponto para o uso de drones, análises e IA para acelerar as atividades de implantação de rede. À medida que mais serviços de dados são consumidos, os CSPs estão reformulando a arquitetura de sua rede para atender às necessidades desses serviços. Portanto, mais bandas de rádio são necessárias para fornecer capacidade e cobertura e mais dispositivos são introduzidos para fornecer dados de uma maneira mais eficiente e que atenda aos requisitos dos serviços que devem ser suportados.

Os CSPs precisam implementar esses novos sistemas rapidamente para que possam entrar no mercado já com os novos recursos de rede. As abordagens atuais envolvem pesquisas demoradas e muitas vezes arriscadas, pois pode ser necessário escalar torres para fazer pesquisas no local. Assim, CSPs e fornecedores estão pesquisando o uso de drones para digitalizar o processo de pesquisa e reduzir os riscos.

Em vez de os profissionais escalarem as torres, é possível enviar um drone para tirar fotos digitais. Essas imagens podem ser inseridas em um aplicativo habilitado para IA para criar um gêmeo digital e, com base nesse gêmeo digital, os engenheiros podem analisar o local e os requisitos necessários para configurar uma rede de alta capacidade e cobertura.

Quais são as principais tendências que impulsionam a análise e a visibilidade da rede?

São a chegada do 5G, a computação de ponta/borda, IoT, aumento da demanda por melhor experiência do cliente, complexidade crescente da rede e aumento da quantidade de tráfego na rede.

Como a área de engenharia das telcos deve abordar a análise de rede?

Abrace-a como uma capacidade necessária que apoiará o futuro desenvolvimento e gerenciamento de redes dos CSPs. Sem essas ferramentas, será cada vez mais difícil e caro gerenciar a rede.

Como a LGPD e a GDPR se aplicam à análise de rede?

As ferramentas de análise de rede precisam estar em conformidade com a GDPR (General Data Protection Regulation) ou qualquer legislação de proteção de dados, como é o caso da LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais), garantindo que a privacidade dos dados seja observada.

No caso de se usar crowdsourcing para monitorar o desempenho da rede, essa abordagem deve ser aplicada de uma forma que não infrinja a privacidade dos dados. No entanto, é preciso dizer que a maioria dos casos de uso de análise de rede não funciona necessariamente com informações de identificação pessoal. Os eventos mais comuns avaliados referem-se à infraestrutura de rede, que não se relacionam com dados pessoais.

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