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Paul Krugman: Brasil precisa de estabilidade política e estado de direito para enfrentar crise global

Uma das palestras mais concorridas da Febraban Tech 2022 foi a do prêmio Nobel de Economia Paul Krugman. O economista falou sobre o panorama econômico global e os impactos de eventos recentes, como a pandemia e a guerra da Ucrânia, em algumas das maiores economias do mundo.

Um dos pontos destacados por ele foi que o mundo precisa se acostumar a cenários de instabilidade, marcados por mudanças constantes, ao contrário do que se via antigamente. “Estamos em uma situação na qual as nações mais ricas estão enfrentando problemas significativos. Há eventos inesperados e a dúvida se os Estados Unidos estariam ou não em recessão”, afirmou.

Krugman divide o mundo de hoje em três potências econômicas  – Estados Unidos, China e União Europeia – e disse que cada uma delas está em situação distinta. Sobre os Estados Unidos, ele fez questão de ressaltar que não há recessão. Ao contrário, para Krugman, o país vive uma situação única, com dois trimestres de PIB negativo e crescimento na oferta de empregos no mesmo período.

“O fato é que os Estados Unidos não estão em recessão”, pontuou. O que ocorre, segundo ele, é que a economia americana está reduzindo o ritmo, basicamente porque o Banco Central norte-americano (Federal Reserve) está ampliando as taxas de juros para reduzir a inflação. A ação tem levado as expectativas de inflação para 2023 a patamares melhores que este ano, com queda já iniciada, com a inflação de julho não saindo do zero.


Krugman afirmou que a alta dos preços também não é preocupante. Isso porque ele divide os preços em duas categorias: voláteis e subjacentes. A primeira indica preços que normalmente flutuam, como combustíveis e alimentação, enquanto a segunda diz respeito a preços inertes, como o aluguel. “As taxas da inflação subjacente ainda estão altas, por isso o Federal Reserve teve que reagir, aumentando as taxas de juros, o que deve se manter até que a inflação volte à casa de 2%.

Já na Europa a situação é diferente. Embora a inflação subjacente não seja tão alta, há uma dependência enorme do combustível e do gás natural vindos da Rússia e cujos preços explodiram após o início da guerra. “Isso é fatal para a economia europeia”, previu, principalmente em um momento em que a Rússia está cortando o fornecimento de gás como forma de quebrar a resistência dos europeus.

Krugman explicou que a explosão do preço do gás coincidiu com a percepção de que a segunda fase da invasão russa não deu tão certo. Por tudo isso, ele acredita que nos próximos meses a questão da inflação será muito mais séria na Europa e que a região pode, sim, estar na direção de uma recessão. “A China também não está indo bem. Era uma enorme fonte de crescimento global que foi enfraquecida pela Covid”, disse.

Segundo Krugman, esse cenário é preocupante para o resto do mundo, em especial para os países em desenvolvimento, onde os preços dos alimentos têm subido demais, assim como o das commodities. Isso ocorre como reflexo da guerra. Mesmo que suas economias não sejam tão fortes, a Rússia e a Ucrânia são produtores cruciais de gás, petróleo e trigo. “O fato é que muitos países que dependem de alimentos importados foram sacrificados, assim como aqueles que dependem de petróleo importado.”

Ao mesmo tempo, a política adotada pelo Federal Reserve para conter a inflação norte-americana valorizou o dólar, o que afetou diretamente países que tinham dívidas nessa moeda. “Há vários casos na América Latina e crises criadas em países mais pobres. Por isso a crise econômica é global”, atestou. De todo modo, Krugman não acredita que o mundo está diante de uma crise como a de 2008.

“Não há grandes sinais de disrupção. Vencer a inflação não será difícil, mas será caro, o que deve fazer com que 2023 seja um ano difícil”, afirmou. Isso deve afetar principalmente países que importam commodities, cujos preços subiram muito, e que dependem de financiamento em dólar, o que coloca o Brasil em uma posição não tão ruim.

Krugman lembrou que, embora o País tenha uma dívida em dólar bastante grande, ele está em uma situação melhor do que há 20 anos e, mais que isso, é um grande exportador de commodities e autossuficiente em energia. Embora não aposte que o País será um player, o economista vê a oportunidade de substituir a Ucrânia em alguns mercados, desde que haja estabilidade política e estado de direito.

O economista também acredita que esse novo cenário deve fazer crescer o protecionismo, mas não ao extremo, pelo menos se não houver novos confrontos políticos. “Não vemos esse protecionismo nos EUA, mas há uma mudança grande na política industrial, com mais intervenção do governo na cadeia. Não é tenha acabado a globalização, mas o mundo está se tornando menos integrado; entretanto, isso não deve acrescentar mais de um ponto percentual na inflação”, disse.

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