
Na maior das ironias que cercam o 5G no Brasil, depois do esforço explícito do governo da época para evitar equipamentos da Huawei, a fabricante chinesa foi quem levou o contrato para fornecer a infraestrutura da rede privativa de telecomunicações do governo federal.
A fabricante, assim como Fortinet e Motorola, foram vitoriosas na concorrência realizada pela EAF, a empresa criada por força do edital do 5G para construir a rede privativa do governo. Segundo a EAF, todos os equipamentos já foram comprados e estão no Brasil. A implantação ainda depende de acordo com operadoras privadas, além da indicação dos pontos que o governo federal quer ver conectados em todo o país.
Quando da preparação para a chegada da quinta geração da telefonia móvel no Brasil, o governo de Jair Bolsonaro deu ao tema do 5G tratamento de segurança nacional, muito pela pressão que os Estados Unidos exerceram sobre diversos países. Por meses se buscou um caminho regulatório para impedir as fabricantes chinesas, mas a Anatel não encontrou brechas na legislação brasileira que avalizassem o bloqueio.
A saída política veio na determinação para que o edital do 5G incluísse o financiamento para a construção de uma rede privativa, segura, do governo federal, sobre a qual recairiam exigências adicionais. O Ministério das Comunicações, então, exigiu como requisitos de segurança “equipamentos projetados, desenvolvidos, fabricados ou fornecidos por empresas que observem padrões de governança corporativa compatíveis com os exigidos no mercado acionário brasileiro”. O então ministro Fabio Faria chegou a sentenciar que “a Huawei não está apta a participar da rede privativa”.
Foi, à época, a resposta brasileira àquela pressão dos EUA para o banimento das fabricantes chinesas de telecom. Em 2020, quando o edital estava em elaboração, o então conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Robert O’Brien, esteve em Brasília para convencer as autoridades daqui que “se vocês tiverem a Huawei na sua rede 5G, haverá ‘backdoors’”.