ANPD aparece em último lugar na busca do brasileiro por proteção de dados pessoais
Uma nova pesquisa do Cetic.br, divulgada nesta quinta, 18/8, traz indicações inéditas sobre a percepção dos brasileiros sobre privacidade e proteção de dados e como esse tema impacta o uso da internet e de serviços oferecidos online. Além de apontar para compras na web, uso de aplicativos bancários e sistemas biométricos como atividades mais preocupantes, mostra como o temor com mau uso de informações tem um recorte étnico: negros desconfiam mais do que brancos sobre o que será feito com dados pessoais.
O estudo sugere que algumas práticas vão se disseminando entre internautas. Segundo a pesquisa, 70% dos usuários verifica a segurança de uma página ou aplicativo, por exemplo, se a página tinha cadeado de segurança; 69% recusaram permissão para uso de dados pessoais em publicidade personalizada; 68% leram políticas de privacidade de página ou app; 64% limitaram acesso a perfil em redes sociais; 62% restringiu acesso à localização geográfica; 58% configuraram ou limitaram uso de cookies. E 42% dos entrevistados pediram a páginas, aplicativos ou buscadores que apagassem informações a seu respeito.
O Cetic.br mostra, ainda, que receio com o que será feito com os dados já leva a ações efetivas. Segundo o estudo, 77% dos entrevistados disseram ter desinstalado um aplicativo de celular por preocupações com privacidade; 69% deixaram de visitar uma página na web; 56% deixaram de usar algum serviço ou plataforma na internet; e 45% desistiram de comprar algum equipamento eletrônico pelo mesmo motivo.
“Importante ressaltar que existem impactos concretos em ambientes que não transmitem segurança ou que possuem uma política de segurança que não está clara. Isso transmite uma mensagem para todos que trabalham em desenvolvimento de que é preciso levar a privacidade mais a sério”, disse o analista do Cetic.br Winston Oyadomari ao apresentar os dados nesta quinta, durante o 13º Seminário de Privacidade do NIC.br.
O estudo mostra que a maioria dos brasileiros ainda não associa temas de violação de privacidade com a Autoridade Nacional de Proteção de Dados. Majoritariamente (80%), as próprias empresas que usam dados são as procuradas, seguidas por órgãos de defesa do consumidor (48%), a polícia (34%), o Ministério Público (31%), a Justiça (28%). A ANPD foi citada por apenas 27% dos entrevistados.
Como também indica a pesquisa, a maioria das pessoas que navega na internet está preocupada ou muito preocupada com o uso que empresas e órgãos públicos fazem de seus dados pessoais: 47% se disseram muito preocupados e 28% preocupados com esse uso por parte de empresas; 40% muito preocupados e 29% preocupados com o que o governo faz com as mesmas informações. Nesse recorte, chama a atenção o recorte populacional: 52% dos pretos se dizem muito preocupados com o uso de seus dados, acima dos 49% de pardos e 43% dos brancos.
O Cetic.br perguntou sobre receios com privacidade e proteção de dados em atividades específicas. E a compra pela internet, em páginas ou aplicativos, liderou: 42% se disseram muito preocupados com os dados nesse processo, seguido por 35% que apontaram o acesso a páginas e apps de bancos; 26% o uso de redes sociais; 22% o uso de aplicativos de relacionamento, mesmo percentual para envio e recebimento de mensagens; além de 21% que consideram muito preocupante o uso de dados quando arquivam dados na nuvem.
A informação sensível que mais preocupa, mostra ainda o estudo, envolve dados biométricos, como impressão digital ou fotografia do rosto: 41% se disseram muito preocupados com o fornecimento desses dados. É mais do que os 29% que apontaram dados de saúde ou prontuários médios; 18% orientação sexual, mesmo percentual de informações de gênero e aquelas sobre filiação partidária. Crença religiosa (17%) e cor ou raça (16%) completam essa lista. O Painel TIC Privacidade ouviu 2.556 pessoas com 16 anos ou mais, que usam a internet. O estudo foi realizado entre novembro e dezembro de 2021.