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TIM: 5G ‘puro’ é mais barato e rivais reclamam porque não fizeram VoLTE no 4G

Em Brasília nesta quarta-feira, 5/5, para apresentar o 5G ‘puro’ ou ‘standalone’ ao presidente Jair Bolsonaro e demais autoridades na Capital, a TIM voltou a defender a decisão da Anatel pelo padrão mais atual da nova onda tecnológica no leilão de frequências previsto para meados deste 2021. 

Para o diretor de tecnologia da operadora (CTiO), Leonardo Capdeville, a resistência das concorrentes ao padrão SA se deve a deficiências de rede, e não a custos ou maiores dificuldades de implantação. “O padrão standalone é mais barato”, garante o executivo em entrevista ao Convergência Digital

Capdeville destaca que a faixa de 26 GHz será muito importante para novos modelos de negócio, especialmente na oferta de redes privativas. Mas alerta que a depender da realização efetiva do leilão do 5G, os prazos previstos no edital precisarão ser revistos – como as ofertas em todas as capitais até julho de 2022. 

Cercado pelas diferentes aplicações demonstradas por Ericsson, Huawei, Nokia, Samsung, Qualcomm e Visiona, o diretor de tecnologia da TIM também apontou que o modelo Open RAN vai decolar no Brasil com a nova geração tecnológica. “Em 2024, 2025, vamos ver o Open RAN em grande escala.”

CDO que a TIM veio mostrar para o governo em Brasília? 


Leonardo Capdeville – Quando a gente fala de conectividade, primeiro associa com o smartphone ser mais rápido. Mas não é só isso. O que a gente quer mostrar é que existe um ecossistema que pode ser desenvolvido através do 5G e que é transformacional em diversas áreas. São aplicações que demandam uma capacidade de transmissão muito maior, como imagem de alta resolução, por exemplo. E a expectativa é de uma conectividade 50 a 100 vezes mais rápida que o 4G. O segundo ponto é a latência, que no 4G é entre 40 e 50 milissegundos, mas no 5G vai ficar entre 1 e 5 milissegundos. E isso pode ser a diferença entre um bisturi cortar mais do que deveria. Além do presidente Jair Bolsonaro, tivemos as presença do presidente da Câmara, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco. É muito importante trazer esse tema do 5G para as pessoas que têm poder de decisão sobre a política de Estado do Brasil. 

CDA faixa de 3,5 GHz é considerada a porta de entrada do 5G e é a utilizada na demonstração de aplicações. Mas existe um certo ‘hype’ sobre a faixa de 26 GHz, sem a mesma visibilidade prática. Os 26 GHz realmente interessam no 5G? 

Leonardo Capdeville – A faixa de 3,5 GHz tem 100 MHz de banda e é uma frequência média, com bom alcance. No 26 GHz o alcance não é bom, mas é uma banda de 400 MHz. Aqui, neste evento, estamos alcançando taxas de transmissão da ordem 1 Gbps. Se tivéssemos 26 GHz neste espaço, estaríamos alcançando 6 ou 7 Gbps. Então a faixa de 26 GHz vai ter aplicação quando a cobertura não é ampla, mas com capacidade muito grande. 

Isso é importante do ponto de vista da operadora porque precisamos ter a arma certa para o problema certo. Então vamos precisar de 3,5 GHz para dar continuidade de cobertura e mobilidade, com boa conectividade. Mas haverá casos em que precisa de capacidade maior, com cobertura mais restrita. Por exemplo, em redes privativas de determinadas indústrias, de uma plataforma de petróleo, uma planta fabril. Nesse caso, 26 GHz cai como uma luva. E o ideal é termos todo um portfólio de soluções. É uma nova fronteira. É muito mais barato cobrir um hospital com uma rede wireless do que passar fibras e cabos por toda a área que se pretende cobrir. 

CDA TIM fez uma defesa veemente do padrão ‘standalone’ como exigência mínima no edital da Anatel. Quem era contra diz que é porque a empresa ficou para trás no 5G DSS, que o ‘release 16’ vai custar mais e demorar mais para ser implementado no Brasil. Mas a TIM diz que  o preço é o mesmo. Por quê? 

Leonardo Capdeville – Se consultar na Anatel, a operadora que mais tem sites DSS no Brasil é a TIM, estamos em 13 capitais. O DSS é um compartilhamento de espectro entre 4G e 5G. O 5G no DSS pode ser standalone ou não standalone. As coisas não são ligadas. Pode ter DSS e colocar 5G SA, que é o caminho que vamos seguir. 

E não é nem o mesmo preço. Hoje já digo que é mais barato fazer SA. Porque se fizer o não SA, em seis meses, um ano, vai ter que fazer o SA e vai ter que lidar com uma rede legada. Então é um investimento que não é à prova de futuro. Vai ter que refazer o investimento. O que defendemos é que uma vez que o padrão é o SA, que já está definido, vamos partir dele e não de uma rede legada. Aí apontaram que SA não existe em muitos lugares. Mas existe sim. Na China as três operadoras estão indo para SA. Nos EUA a T-Mobile, que tem a maior rede SA, já cobre o país inteiro. Na Alemanha a Vodafone acabou de ativar a rede SA. Também na Suíça. Ou seja, é o padrão para onde todos estão indo. 

Do ponto de vista de engenharia, se tenho que fazer um novo investimento, porque fazer no padrão antigo. Não temos tempo para ficar investindo em tecnologia legada. Vamos investir em tecnologia que vai garantir os próximos cinco a dez anos. E a TIM está muito confortável com isso porque para ter um SA que funcione bem, para ter continuidade da voz, que é um serviço básico, tem que ter VoLTE. E a única operadora que tem VoLTE em todo o 4G é a TIM. Então, talvez, o medo que as outras operadoras tenham é que lá atrás não fizeram o investimento necessário no 4G de colocar o VoLTE. E agora precisam fazer para suportar o SA. 

CDO edital do 5G prevê cobertura nas capitais em 300 dias, mas já começaram pressões sobre o Tribunal de Contas da União com receio de que o leilão não aconteça na data prevista. Quão realista é ter essa infraestrutura pronta em meados de 2022? 

Leonardo Capdeville – Temos dois esforços nesse processo. O primeiro é no core de rede, que é feito independentemente de ter uma ou 100 ERBs. É o esforço de adaptação. Depois, instalar as antenas é um trabalho mais industrial. A Anatel tinha um cronograma inicial que contando 300 dias daria entre junho e julho do ano que vem para liberar o espectro. E a partir daí tínhamos metas de cobertura até dezembro. Como essa meta de dezembro veio para junho, a gente precisa entender agora como a gente retroage nos 300 dias para liberar o espectro, para ajustar o sistema e colocar no ar. Então acredito que assim que o TCU liberar o edital, essas questão de tempo terão que ser revistas. Porque são três timings: o edital, a liberação do espectro e o atendimento da cobertura mínima. E essas três datas precisam fazer sentido. Mas se o edital atrasa, começamos a entrar em uma faixa de impossibilidades. Portanto precisamos ver qual a data de partida, para ver qual será a chegada. 

CDA Telecom Italia se associou ao movimento pelo Open RAN. Mas isso é realista no curto ou médio prazo? Dá para pensar em Open RAN no Brasil também? 

Leonardo Capdeville – Já disse que o Open RAN era uma aposta. Agora é uma certeza. É uma tecnologia que vai acontecer, mas ainda não está no grau de maturidade para poder criar escala. Acredito que em 2024, em 2025, vamos ver o Open RAN em grande escala sendo aplicado nas redes, mesmo no Brasil. É um caminho natural de evolução das redes. Vai ser uma tecnologia tão natural quanto as que temos hoje. 

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