O capital descobriu os provedores de Internet
Responsáveis por quase 40% dos acessos de banda larga do país, conforme a Anatel, os provedores regionais de internet passam por um momento único, que deve se estender pelos próximos anos e acelerar sobremaneira a competição e a concentração no setor, o que força as empresas a adotarem novos patamares de profissionalismo, particularmente quanto à sua gestão.
Significativa há anos, a expansão do segmento ganhou, em 2020, novas dimensões a partir de uma combinação de fatores. Um dos principais foi a nova Covid. O isolamento social, que forçou boa parte dos profissionais a trabalharem de suas casas, fez a contratação de acessos de banda larga junto a provedores regionais saltar 43% entre março – início da pandemia – e setembro, segundo a Abrint. A tendência não irá recuar tão cedo.
Crescente há anos, o home office tende a se tornar usual, mesmo após a pandemia. Muitas empresas descartam a reativação de pontos físicos, enquanto que profissionais passam a considerar boa parte dos deslocamentos que realizavam para o exercício de suas atividades como desnecessária. Os pequenos provedores, que já respondiam pela maior parte dos novos acessos, concentrarão ainda mais as demandas por novas e melhores conexões.
Esse quadro, que ampliou ainda mais as já elevadas perspectivas de crescimento do setor, dá-se num momento raro da política monetária nacional. Historicamente, o país sempre teve uma das maiores taxas de juros do mundo, o que fazia investidores de todos os portes terem a renda fixa – atrelada a títulos públicos – como principal escolha. Embora com tendência de alta, a Selic em 4,25% ao ano ainda deixa as opções do segmento com rentabilidade negativa, o que faz o capital migrar para a economia real.
Por conta da crise, poucos segmentos respondem aos efeitos positivos da atual taxa de juros. Dentre esses, o de pequenos provedores é dos que mais se destacam. Cortejadas já há tempos por grandes operadoras, essas empresas passam a interessar a investidores de todos os portes, desde os profissionais e institucionais, que adquirem participações acionárias ou realizam aquisições, até os pequenos, que ingressam como cotistas em fundos de private equity. O movimento impulsiona a melhoria e ampliação dos serviços, estabelecendo novos patamares de competição e de exigência dos consumidores.
Um ponto fraco comum a muitos provedores é a gestão da empresa, que pode comprometer tanto sua existência quanto a concretização de ofertas de aquisição. Geralmente, o empreendedor do segmento é alguém que começa o negócio sozinho e vale-se de capacitação técnica e conhecimento tecnológico para compensar pouco ou – por vezes – nenhum preparo quanto a administração da empresa.
A natureza da atividade, que permite a ampliação da base de clientes sem investimentos proporcionais em tecnologia e pessoal, faz com que a gestão fique em segundo plano, até que suas falhas comprometem a parte operacional do negócio, gerando má-reputação facilmente disseminada, por conta da limitação das áreas cobertas pelas redes.
Esses problemas tornam-se críticos quando as carteiras chegam à primeira centena de clientes. É aí que a gestão e mapeamento de redes, carteiras, planos distintos, integração de tecnologias, cobranças, tributos, suspensão de serviço a inadimplentes, dentre outros tornam-se inexequíveis sem o uso de um sistema de gestão adequado à atividade.
A falta de uma gestão adequada pode também resultar na desistência de investidores interessados em fazer aportes ou adquirir a empresa, situação que o momento vivido pelo setor torna comum. Parte significativa de fusões, aquisições e incorporações naufraga no processo de due diligence, principalmente por conta da parte contábil e a falta de comprovantes de movimentações financeiras. Mesmo quando as redes e carteiras têm porte, interessados desistem por conta de passivos resultantes de má-gestão.
Seja no auxílio à equipe contábil, administração da parte operacional ou no controle financeiro, o investimento em sistemas de gestão é, dependendo do porte do provedor, tão ou mais fundamental que a parte tecnológica. É a ferramenta que possibilita o controle adequado de equipes, parte financeira, tributária e planos, sem o que não se sobrevive mais no mercado. O momento atual gera oportunidade de ganhos significativos para quem atua no setor acompanhando seus novos patamares de profissionalismo.
(*) Fabio Vianna Coelho é sócio da RadiusNet e da Vianatel, especializadas, respectivamente, em gestão e regularização de provedores de internet.