Minicom vende como ‘dinheiro novo’ fundo de US$ 1 bi criado há meses pelo BID

Em viagem aos Estados Unidos, o ministro das Comunicações, Fábio Faria, anunciou que “garantiu mais US$ 1 bilhão de recursos para inclusão digital em negociação com o presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento, Mauricio Claver-Carone”. Mas em que pesem os tuítes e comunicados auto-elogiosos, o Minicom promove como de sua iniciativa recursos que já existiam meses antes da missão partir para os EUA.

Além de dois tuítes com vídeo de Faria junto ao presidente do BID, o ministério soltou uma nota intitulada “MCom articula com BID investimento de mais U$ 1 bilhão para a inclusão digital”, seguida da informação de que “ministro Fábio Faria garantiu junto ao banco internacional mais incentivos para levar internet às áreas isoladas do país”.

Segundo a nota,  “o ministro das Comunicações, Fábio Faria, garantiu mais US$ 1 bilhão de recursos para inclusão digital em negociação com o presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Mauricio Claver-Carone. Com isso, o Governo Federal contará com até US$ 2 bilhões para investimentos, incluindo US$ 1 bilhão para a Região Amazônica”.

Mas nem um, nem outro fundo, anunciados pelo próprio BID meses antes da viagem do ministro aos EUA, tiveram participação do Minicom. Uma das linhas de crédito de US$ 1 bilhão é para o chamado Programa Brasil Mais Digital, articulado pelo Ministério da Economia, lançado em abril. Entre diferentes alvos, há previsão de que esse crédito possa ser acessado por empresas e governos para financiar implantação de infraestrutura de conectividade.

O outro fundo, para o Desenvolvimento Sustentável e a Bioeconomia da Amazônia, foi criado ainda antes, em 18 de março, durante a reunião anual de governadores do BID, em Barranquila, na Colômbia. E foi festejado no mesmo dia em um vídeo gravado pelo presidente Jair Bolsonaro, transmitido durante aquela reunião. Como confirmou o próprio BID, em nota a esta Convergência Digital, os recursos são de fundos já criados anteriormente:


“O presidente do BID, Mauricio Claver-Carone, mantém um diálogo estreito com o governo brasileiro e está empenhado em alocar recursos e conhecimento para apoiar a transformação digital do país. Estamos canalizando nossos esforços para executar a linha de crédito Brasil Mais Digital, já aprovada e disponível para governos e PMEs no valor de US$ 1 bilhão, que também está disponível para projetos de conectividade na Amazônia brasileira. Além disso, dentro da Iniciativa Amazônia, recentemente anunciada pelo BID, os recursos serão direcionados para alavancar o desenvolvimento sustentável e a bioeconomia na região. Esses esforços estão em linha com a estratégia do Grupo BID para a recuperação da América Latina e do Caribe, Visão 2025, que tem a sustentabilidade e a transformação digital como pilares para contribuir com o país em seus esforços para retomar o crescimento.”

Faria divulgou que no encontro com o BID, na quarta 9/6, “solicitou mais recursos para a ampliação da conectividade na Região Norte do país”. “Pedi uma linha de crédito, um incentivo, ao presidente [do BID] para que possamos levar internet, o mais rápido possível, às pessoas que mais necessitam”. No vídeo divulgado pelo ministro, Mauricio Claver-Carone mencionara tão somente os fundos já existentes.

“Falamos de como podemos ajudar o Brasil em conectividade e oportunidades em telecomunicações, teletrabalho, telemedicina. Uma das nossas prioridades na visão 2025 do BID é a digitalização. Já aprovamos US$ 1 bilhão para apoiar o governo do Brasil em seu programa de digitalização, não somente governo mas comunidades que não tem acesso à internet. E também dentro de nosso fundo de economia para a Amazônia, como conectar essas comunidades, no qual também temos outro US$ 1 bilhão.”

Fica a torcida de que a influência do Ministério das Comunicações possa conquistar um eventual terceiro bilhão em financiamentos do BID.

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