Opensignal: Banda larga fixa rural no Brasil é restrita, mas melhor que na Itália e no Japão
A Opensignal lançou um novo relatório que avalia a experiência de banda larga fixa dos usuários no mundo real em 18 países. E ao examinar países com diferentes níveis de rendimento e características, com ênfase nas diferenças de disponibilidade da banda larga entre áreas urbanas e rurais.
A partir da capacidade de realização de tarefas domésticas típicas, o relatório segmenta os países em três grandes grupos:
- Maior confiabilidade (pontuação geral acima de 650): Suécia, Noruega, Reino Unido, Canadá, Japão e Estados Unidos
- Confiabilidade Moderada (500-650): Austrália, Nova Zelândia, Chile, Espanha, Itália, Polônia e Brasil
- Menor confiabilidade (menos de 500): Índia, Colômbia, México, Filipinas e Indonésia
Os países enfrentam vários problemas para levar banda larga fixa às zonas rurais, incluindo custos mais elevados por habitação devido à menor densidade populacional; a redução da presença dos ISPs e retorno do investimento (ROI) pouco claro quando a rede é implementada.
Alguns países com muitas áreas de densidade média, como os EUA e a Espanha, têm fossos digitais relativamente pequenos. Por outro lado, os países de rendimento médio dispersos e com terrenos difíceis apresentam grandes lacunas.
A Colômbia tem a maior disparidade no que diz respeito à lacuna de confiabilidade entre áreas urbanas e rurais, com uma diferença de 176 pontos em termos absolutos e cerca de 38% menor experiência de confiabilidade de banda larga rural do que urbana. Apesar dos esforços e programas governamentais como o “Vive Digital”, a conectividade rural continua inadequada.
Isto deve-se em parte às barreiras geográficas — terrenos diversos e acidentados, incluindo montanhas e selvas — que tornam difícil e dispendiosa a instalação de infra-estruturas de banda larga, bem como ao subdesenvolvimento das infraestruturas subjacentes, como estradas, fornecimento de energia e conectividade de backhaul.
A exclusão digital devido à geografia desafiadora pode ser observada também em arquipélagos dispersos como a Indonésia e as Filipinas.
A Índia apresenta um exemplo em que a disparidade urbano-rural no acesso à Internet é relativamente pequena (90 pontos). Esta distribuição relativamente equilibrada deve-se em parte ao fato de a Internet fixa representar uma pequena parcela do acesso global à Internet, representando apenas 4,22% no final de 2023, devido à elevada dependência da Internet móvel no país. Com essa pequena participação no total, 87,4% dessas conexões fixas de Internet são de fibra óptica.
No Brasil, a distância entre a oferta de banda larga nas áreas urbanas e rurais é de 19 pontos percentuais. Mas o destaque do relatório da Opensignal é para o fato de que a diferença de qualidade entre elas é baixa.
“Mesmo a disponibilidade urbana do Brasil de rendimentos mais baixos é superior à disponibilidade rural em mercados de rendimentos mais elevados e mais maduros, incluindo Itália e Japão. As explicações mais prováveis para o desempenho urbano destes países são o elevado nível de adoção de fibra por parte de novos clientes urbanos, a ausência de banda larga xDSL legada e a base integrada limitada de clientes xDSL”, aponta o estudo.
Nas zonas rurais existe uma maior dependência de tecnologias que tendem a ser menos confiáveis. Nos mercados desenvolvidos, o acesso à Internet de baixa velocidade através de xDSL esteve amplamente disponível nas zonas rurais durante anos antes da banda larga móvel se tornar amplamente disponível, e agora o desafio é atualizar os dispositivos. Nos países em desenvolvimento, a única opção de banda larga nas zonas rurais era normalmente a banda larga móvel devido à falta de infraestruturas fixas. A maior adoção rural de xDSL, wireless fixa (FWA) e banda larga via satélite se traduz em pontuações mais baixas de confiabilidade rural.
Como no mencionado caso do Brasil, os dados mostram que a experiência urbana da banda larga em alguns mercados de rendimento médio é igual ou melhor do que a experiência rural em alguns mercados ricos. A viabilidade urbana no Chile é superior à experiência rural em todos os mercados ricos, com exceção dos países nórdicos e do Canadá, enquanto os agregados familiares urbanos na Polónia dispõem de uma banda larga mais fiável do que os agregados familiares rurais em Espanha, Itália, Nova Zelândia, Austrália, EUA e Japão. Na Polônia, o FTTH representou 48,1% da base total de assinantes de banda larga em 2023, acima dos 38,3% do ano anterior.
A experiência de confiabilidade da banda larga é, em média, 23% maior nas áreas urbanas do que nas áreas rurais em todos os mercados analisados. As áreas urbanas têm uma maior concentração de pessoas e famílias, tornando economicamente viável para os prestadores de serviços investirem e manterem infraestruturas de banda larga de alta qualidade. Como consequência, o custo por usuário de instalação e manutenção de redes de banda larga é inferior.
Além disso, as tecnologias de acesso utilizadas podem influenciar a experiência. Fatores como a infraestrutura subjacente e a localização do gabinete de rua mais próximo – ou seja, conectividade de última milha – é importante. A experiência de banda larga do usuário final é normalmente muito diferente em um FTTH (Fiber to the Home) versus FTTC/N (Fiber to the Curb/gabinete/node), com a conexão final feita via cobre ou cabo coaxial.
A experiência também será influenciada pela configuração do roteador Wi-Fi e pelo pacote que o cliente assina. Vários países enfrentam desafios para garantir o acesso à banda larga de qualidade. Por exemplo, a natureza arquipelágica da Indonésia e das Filipinas torna a implantação de infraestruturas dispendiosa e complexa.
Ainda segundo o relatório, é relevante o papel dos subsídios do governo na redução da lacuna de disponibilidade urbano-rural. Por exemplo, em países como os Estados Unidos, programas federais como o Rural Digital Opportunity Fund (RDOF) e o Connect America Fund (CAF) fornecem financiamento significativo para apoiar a expansão da banda larga de alta velocidade nas zonas rurais.
O governo canadense tem como meta o acesso à Internet de alta velocidade para 98% dos canadenses até 2026, e uma meta nacional de 100% até 2030, com foco nas comunidades rurais e remotas – por meio do seu Fundo Universal de Banda Larga (UBF), que tem um orçamento de CAD 3,2 bilhões.