Mercado

Para não morrer, indústria brasileira tem de se reinventar

Desde janeiro deste ano o mercado convivendo com uma nova sigla, o NIB – Nova Indústria Brasil. Ela define um programa anunciado pelo governo federal com o objetivo de retomar o crescimento industrial brasileiro, em um movimento que vem sendo chamado de neoindustrialização.

O conceito e seus desdobramentos foram tema de um dos painéis realizados nesta terça-feira, 08, na Futurecom 2024. De acordo com superintendente de política industrial da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Fabrício Silveira, o movimento é necessário, uma vez que a indústria brasileira, nos últimos 40 anos, perdeu metade de sua representatividade no PIB.

“O NIB é formado por um conjunto de seis missões, que tem sido detalhadas pelo governo em anúncios específicos e adota o nome de neoindustrialização por se basear em novas premissas”, explica, citando a digitalização, a sustentabilidade e a inovação como algumas delas.

A presidente da Associação P&D Brasil, Rosilda Prates, ressaltou que os diferentes temas têm sido discutidos em vários fóruns, mostrando que o NIB trouxe uma janela de oportunidades não vista há tempos. Para a executiva, o programa dá ao mercado a oportunidade de refletir sobre sua capacidade de se reinventar, pensando na digitalização de serviços fundamentais. “Precisamos começar a pensar como país estratégico para participar da cadeia global de valor, mas com inteligência no Brasil, com transferência de conhecimento para o Brasil e com produção no Brasil”, defende.

Boa parte desse movimento passa por alternativas de financiamento e, neste sentido, o superintendente de desenvolvimento produtivo do BNDES, João Paulo Pieroni, que o banco conta hoje com três principais linhas que dão suporte ao NIB: o Fust, que de 2023 para cá financiou cerca de R$ 800 milhões em projetos de conectividade; o Funtel, que apoia o desenvolvimento e fabricação de máquinas e equipamentos no Brasil; e o Mais Inovação, criado para estimular a digitalização de processos produtivos. “Nosso grande objetivo é organizar as linhas de financiamento das diferentes instituições e coordenar as ações. Estamos usando esse plano para perenizar os recursos e dar homogeneidade às linhas de financiamento”, diz.


Este é o caminho definido pelo governo para popularizar o uso de novas tecnologias, como a inteligência artificial. O diretor do Inatel, Carlos Nazareth Motta Martins, lembra que 85% das indústrias nacionais usam algum tipo de tecnologia avançada, mas só 17% têm aplicações de IA. Além disso, ele lembra que a IA não pode ser plenamente utilizada sem uma estrutura que viabilize seu uso.

“A maioria dos sensores utilizados nas indústrias hoje tem a função de alertar sobre problemas. O próximo passo é criar uma estrutura de conectividade, como redes 5G, que permita o uso destas informações de forma inteligente e preditiva”, afirma. Ele também destaca a necessidade de identificar as cadeias produtivas mais representativas e priorizar ações que as atendam. “Isso traz a possibilidade de esgotar as necessidades de uma cadeia, diferenciando seu posicionamento. Sem isso, dificilmente teremos uso da IA para resolver esses problemas”, defende, lembrando que o Brasil conta hoje com todo o ecossistema necessário para esta iniciativa.

Esse desenvolvimento também passa pelo potencial local para o desenvolvimento de uma indústria mais verde. De acordo com o CEO do Pacto Global da ONU rede Brasil, Carlos Pereira, o Brasil tem hoje várias oportunidades nesse sentido, citando o fato de o País ter sua energia elétrica de fonte entre 90% e 95% renovável e contar com mais de 50 anos de experiência no uso e produção de etanol.

“Para capturar estas oportunidades, precisamos nos estruturar para mostra que tudo o que produzimos tem baixa pegada de carbono”, defende, lembrando que o BNDES é hoje o maior financiador do mundo de projetos de energia renovável. “Precisamos ter clareza para transformar essa vantagem comparativa em vantagem competitiva”, diz.

Plano Brasil Digital

Parte dessa estruturação, pelo menos no que diz respeito à digitalização, foi organizada pela Brasscom (Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação) no Plano Brasil Digital. Ele foi apresentado pela assessora do presidente do Conselho da entidade, Ariela Zanetto.

Resultado de mais de uma centena de reuniões com entidades representativas e órgãos governamentais, o plano prevê quatro grandes ambições: estímulo à educação digital; crescimento sustentável do PIB; estímulo à inovação e geração de negócios digitais; e aumento da relevância do Brasil no cenário global. Estes objetivos seriam medidos a partir de indicadores como a participação de TIC no PIB do Brasil; o percentual de acesso da população à internet; a relação entre matriculados em cursos superiores de TIC e as vagas do setor no Brasil; o percentual de empregos em TIC em relação a população; o percentual do PIB de TIC Brasil em relação ao PIB de TIC no mundo; e a competitividade digital no Brasil em relação aos pares globais.

Para sua operacionalização, o plano foi dividido em seis grandes pilares: infraestrutura para transformação digital; tecnologias estratégicas; pesquisa, desenvolvimento e inovação; educação e capacitação digital; inclusão digital e social; e ambiente de negócios. “Muitos deles já estão sendo fomentados, mas a ideia é que cada pilar tenha ações concretas e metas mensuráveis com indicadores definidos”, explica.

Ariela destaca ainda a necessidade de uma governança centralizada para orquestrar estas atividades. “Cada ente da sociedade civil tem seu espaço, mas essa coordenação é necessária. Hoje a governança do plano foi estabelecida entre órgãos governamentais e entidades do setor privado, mas a mensagem principal aqui é ter um plano de país de longo prazo e coordenado”, defende.

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